Covid-19 no Recife em debate na Câmara de Vereadores

Índices de mortalidade e letalidade da capital comparados aos de outras metrópoles do Nordeste sob análise de integrantes da situação e da oposição

JC
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Publicado em 09/08/2020 às 20:32 | Atualizado em 10/08/2020 às 16:34
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CORRIDA Neste ano, 877 pessoas querem ser vereador. Na disputa seriada da UPE, são 7,37 candidatos por vaga - FOTO: DIVULGAÇÃO

Mesmo com a frequente divulgação pela prefeitura de avanços no combate ao coronavírus no Recife, as quase 2.133 mil mortes por covid-19, confirmadas até este domingo (9), na cidade a posicionam como segunda capital do Nordeste com a maior taxa de mortalidade por covid-19 por cada 100 mil habitantes. Procurados para comentar esses números, que provavelmente serão explorados na campanha eleitoral deste ano, vereadores da cidade têm visões diferentes sobre o que levou a capital pernambucana a esta posição no ranking. Todos eles, porém, sejam da base do governo ou de oposição, concordam que o cenário é preocupante.

No último dia 3 (ver quadro abaixo), o Recife era a segunda capital com a maior taxa de mortalidade por covid-19 a cada 100 mil habitantes, atrás apenas de Fortaleza, segundo análise que considera os dados oficiais das Secretarias Municipais de Saúde da região. A ordem era a mesma quando feito um retrato do número absoluto de óbitos pela doença e da letalidade nessas nove cidades nordestinas quase cinco meses depois da primeira morte confirmada pelo novo coronavírus no Recife. A capital pernambucana tinha 129,6 mortes por 100 mil habitantes (mortalidade), e uma letalidade de 7,8%. Como comparação, na cidade de São Paulo, que tem uma população sete vezes maior do que a do Recife, a taxa de mortalidade é de 79,4 por 100 mil habitantes; a letalidade, 4,2%.

THIAGO LUCAS/ ARTES JC
O peso da pandemia nas capitais do Nordeste - THIAGO LUCAS/ ARTES JC

Líder da oposição na Câmara do Recife, o vereador Renato Antunes (PSC) fez algumas ponderações sobre esses altos índices, como o fato de as cidades como Recife e Fortaleza serem portas de entrada do País. No entanto o parlamentar ressaltou que, mesmo com todas as propagandas institucionais realizadas pela Prefeitura, essa comunicação foi extremamente falha nas regiões periféricas da cidade. "O isolamento social só chegou aos grandes centros, deixando as periferias à parte desse marketing e faltou testagem ampla. Outro grande problema é a falta de atuação nos cuidados primários. Se sabia que o isolamento social não era o suficiente para combater essa doença, e não fizeram o tratamento precoce dela. As pessoas já chegam às unidades em estado grave, para serem entubadas", criticou Antunes.

Na visão do vereador Ivan Morais Filho (PSOL), o quadro em que o Recife se encontra atualmente pode ser relacionado com as medidas adotadas pelos governos municipal e estadual após o lockdown implementado no fim do mês de maio em várias cidades, inclusive na capital. Segundo o parlamentar, naquele momento, quando a retomada da economia começou, o Executivo deveria ter acolhido as recomendações do 8º boletim do Comitê Científico para a Covid-19 do Consórcio do Nordeste, que não aconselhava a reabertura. "A Prefeitura do Recife e o governo do Estado começaram a pandemia parecendo querer ouvir a ciência. Se anteciparam à crise, decretaram o lockdown quando tinham que decretar. Mas, quando a quarentena começou a dar resultado, o governo e a prefeitura começaram a ceder às pressões. Abriram salões de beleza, construção civil, igrejas, parques e praças, bares e restaurantes. O boletim número 8 do Consórcio Nordeste dizia que não era hora de abrir. Então, para mim, está muito negritado onde foi o acerto do início e onde está o erro, a partir da reabertura", pontuou Ivan.

Atualmente, dos 39 vereadores da Casa de José Mariano, apenas cinco fazem oposição à gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB). A Câmara arquivou um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), de autoria de Jayme Asfora (Cidadania), em torno dos contratos celebrados pela Prefeitura do Recife em serviços relacionados ao enfrentamento da pandemia.

De acordo com o vereador André Régis (PSDB), que faz parte do grupo opositor, esse é um dos motivos pelo qual é tão difícil um movimento do Parlamento vir a impactar uma ação do Executivo no Recife, inclusive durante a pandemia. "A base de apoio do prefeito faz com que ele seja hegemônico na Câmara. Por conta disso, assuntos considerados polêmicos ou que não são do interesse do governo simplesmente não são tratados no Legislativo. Ou seja, faz falta uma oposição mais numerosa", detalhou o tucano.

Por outro lado, o vice-líder do governo, Rinaldo Junior (PSB), rebateu os altos índices de mortalidade e letalidade que se encontram na capital. "Esse número não retrata a capacidade que Recife tem de salvar vidas e se transformar no maior polo de leitos", declarou. Segundo o vereador, o Comitê Municipal de Resposta Rápida do Recife - COVID 19 tem atuado de forma estratégica para combater a doença. "A gente se precaveu e enxergou que essa situação poderia ser muito pior", disse.

Mesmo diante dos constantes alertas do Tribunal de Contas do Estado (TCE) a respeito das compras realizada pela prefeitura durante a pandemia - com alguns contratos relacionados a respiradores sendo investigados -, o parlamentar defende que a Prefeitura do Recife tem sido a mais transparente na divulgação dos dados. "Nossa transparência tem sido premiada, todas as informações são disponibilizadas com todas as despesas orçamentárias. Tudo acessível para a população", frisou o socialista.

Para a vereadora Aline Mariano (PP), que também compõe o bloco governista na Câmara, o executivo municipal tem cumprido seu papel no combate ao novo coronavírus, mas ela chama atenção para algumas ações que poderiam ser repensadas. "Com a flexibilização, percebo que, em alguns pontos da cidade, as pessoas vivem como se não existisse a covid-19. Acredito que a prefeitura poderia executar outras ações voltadas para o diagnóstico precoce, nós precisamos identificar essa questão na ponta", declarou.

Aline é autora de uma indicação ao prefeito Geraldo Julio (PSB) solicitando a criação de centros de atendimento para enfrentamento à covid-19 e centros comunitários de referência também para tratar da doença. De acordo com a parlamentar, estas unidades vão atuar como ponto de referência da atenção primária à saúde (APS) na busca pela ampliação dos diagnósticos e atendimentos dos casos de Síndrome Respiratória.

O líder do governo na Câmara, Eriberto Rafael (PP), justificou os números afirmando que a capital pernambucana já teria passado pelo pico da doença no mês março, motivo da taxa elevada de óbitos. O parlamentar disse, ainda, que mais importante do que focar nesses dados é observar o que a prefeitura tem feito para combater a enfermidade. "Recife foi a primeira capital a diminuir o número de infecções pelo coronavírus. O professor Renato Vicente, da USP, por exemplo, citou a cidade como exemplo de controle da doença, devido às medidas adotadas, como a construção de leitos, disponibilização de EPIs para os profissionais de saúde, a conscientização do uso de máscara e da lavagem das mãos", detalhou.

THIAGO LUCAS/ ARTES JC
O peso da pandemia nas capitais do Nordeste - FOTO:THIAGO LUCAS/ ARTES JC

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