Apesar das desavenças entre chefes do Executivo e seus respectivos vices registradas no País nos últimos anos, vale salientar que a história brasileira recente também guarda bons exemplos de cumplicidade e parceria entre companheiros de chapa majoritária. Em junho deste ano, por ocasião do aniversário de 80 anos do ex-vice-presidente Marco Maciel, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que poucos foram tão “dedicados, atenciosos e competentes” quanto o pernambucano enquanto ambos estiveram no poder. O ex-presidente Lula (PT), por sua vez, disse em uma entrevista em 2017 que José Alencar (falecido em 2011) foi “o melhor vice que um presidente já teve no planeta Terra”.
Por vezes, essa relação de companheirismo é tão sólida que o vice acaba tornando-se um candidato natural à sucessão daquele prefeito, governador ou presidente. Em Pernambuco, segundo mapeamento feito pelo JC, dos 184 prefeitos pernambucanos, 62 não devem disputar a reeleição. Muitos ainda não definiram qual candidato devem apoiar para a sucessão, mas 12 gestores já declararam publicamente que vão indicar o seus vices como candidatos no pleito.
É o que ocorre em Igarassu, onde a vice-prefeita Elcione Ramos (PTB) é a pré-candidata apoiada pelo atual prefeito, Mário Ricardo (PTB), para as eleições municipais deste ano. De acordo com o gestor, foi o trabalho desenvolvido pela petebista ao longo dos quase oito anos de mandato que a credenciou a receber esse apoio.
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“Elcione é uma vice-prefeita atuante e nós demos o espaço necessário para que ela fizesse todo um trabalho complementar ao meu. Enquanto eu foquei na macropolítica, na busca de empreendimentos, de recursos federais, no diálogo com os governos federal e estadual, ela cuidou da micropolítica, do atendimento comunitário, da atenção aos servidores, do acompanhamento das secretarias. A escolha da vice-prefeita (para a sucessão) se deu pela lealdade dela, pelo compromisso dela e é um recado muito bom para o novo momento da política, semelhante ao novo normal que as pessoas estão falando, pois o povo quer políticos reais, trabalhadores e comprometidos”, detalhou o administrador.
Em meio às construções relacionadas à sua pré-candidatura, Elcione ressalta que, por sua própria experiência na cadeira de vice, tem buscado um nome com o mesmo perfil que o seu para estar ao seu lado na chapa majoritária. “A gente sempre trabalhou aqui com a ouvida e valoriza os companheiros que estão com a gente, os partidos. São sete frentes que nós temos aqui, com pessoas bem competentes e a gente fez e vai fazer como fizeram comigo, lá atrás, quando lançaram meu nome, ouvindo as pesquisas e os partidos. É muito ruim você ter um vice-prefeito ou mesmo um prefeito que vai para a rua sem estar de comum acordo, a coisa não vai render, não vai conseguir avançar”, pontuou Elcione.
Compreensão de seu papel e equilíbrio dentro deste espaço. Talvez, esse tenha sido o norte que guiou o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PSB), que está prestes a concluir sua missão após 16 anos a frente do cargo. O primeiro desafio, segundo Luciano, foi a convite de João Paulo, nas eleições de 2000. “O PT insistiu muito na época para que o PCdoB indicasse o candidato a vice, e que o nome escolhido fosse o meu. Quando o partido cedeu, fui cumprir a tarefa de ser candidato a vice. Na disputa pela reeleição, em 2004, João Paulo disse que não abriria mão do vice e pediu que continuasse”, rememorou.
Em 2012, quando o PSB decidiu lançar candidatura própria, diante do racha interno que o PT enfrentava, o apelo em torno do nome de Siqueira para compor a chapa com Geraldo Julio, veio desta vez do ex-governador Eduardo Campos. “Nós relutamos um pouco, eu estava cumprindo meu mandato de deputado. Nunca fui vice querendo ser, mas sempre é uma tarefa que coletivamente se discute”, declarou.
Para Luciano Siqueira, é preciso entender alguns passos até a escolha do candidato a vice, por não ser um cargo que deve ser subestimado. Na sua visão, o prefeito tem o dever de governar e cabe ao vice ajudar administrativamente. “Disse a João Paulo e a Geraldo Júlio, quando nós discordamos um do outro, só nós dois saberemos. Porque se o vice-prefeito abre um debate, enfrenta uma polêmica com o prefeito, junto a equipe de governo, isso gera uma instabilidade e meu papel é contribuir para a unidade do governo”, defendeu.
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