Denúncia

Senador diz que vai denunciar Bolsonaro na OEA por ataque a jornalista; relembre outras ameaças à categoria

Parlamentar criticou presidente após Bolsonaro ameaçar jornalista

Gabriela Carvalho Estadão Conteúdo
Cadastrado por
Gabriela Carvalho
Estadão Conteúdo
Publicado em 24/08/2020 às 10:38 | Atualizado em 24/08/2020 às 12:37
Marcelo Camargo/Agência Brasil
O senador Randolfe Rodrigues disse que vai denunciar Bolsonaro na OEA - FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O senador de oposição Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou, em rede social, que vai denunciar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Questionado pelo jornalista sobre repasses de Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), à primeira-dama Michelle Bolsonaro, Bolsonaro respondeu: "Vontade de encher sua boca de porrada", suscitando críticas no meio político.

"Superamos a ditadura, somos uma democracia e Bolsonaro tem que respeitar os direitos adquiridos", disse o senador em publicação no Twitter. 

 

>> Após Bolsonaro ameaçar dar "porrada" em repórter, pergunta sobre Queiroz viraliza

Após fala do presidente, o relator de liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Edison Lanza, criticou a postura de Bolsonaro.

"Não consigo encontrar um exemplo da hostilidade mais grosseira de um alto funcionário à imprensa e de expor o jornalista à violência", afirmou. Lanza será o primeiro a analisar a representação feita por Randolfe Rodrigues.

No documento, o senador cita levantamento da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), que apontou a ocorrência de 32 ataques dirigidos a jornalistas específicos ao longo de 2019.

"Por meio da ameaça de violência, busca-se intimidar seus críticos e os calar, ou seja, verdadeiramente constranger ilegalmente o repórter a exercer sua profissão. Não pode nem deve ser normalizada uma ameaça contra um profissional da imprensa, ainda mais partindo do próprio Presidente da República! Caso o ato persista, os profissionais de imprensa poderão ser acometidos por espécie de autocensura, receosos de serem perseguidos pelo mero exercício da profissão", escreveu Randolfe na petição. 

Ameaças contra jornalistas

Esta não é a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro lança ataques contra jornalistas. Relembre algumas:

"Você tem uma cara de homossexual terrível" e "pergunte para a tua mãe"

Em dezembro do ano passado, após o presidente dizer que era o responsável por um empréstimo de R$ 40 mil destinado a Queiroz, um jornalista perguntou se ele teria o comprovante. "Oh, rapaz, pergunte a tua mãe o comprovante que ela deu ao teu pai, está certo?", disse Bolsonaro em resposta.

Na mesma entrevista, ao ser questionado por outro jornalista se Flávio Bolsonaro teria cometido um deslize, em referência à operação de busca e apreensão em endereços ligados ao senador que ocorrera dois dias antes, Bolsonaro disse: "Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual".

“Cala a boca” três vezes na mesma entrevista

Um dia após nomear o novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Souza, em maio deste ano, o presidente negou interferência no órgão e, quando questionado se havia determinado a troca do superintendente do Rio de Janeiro, evitou a pergunta com uma réplica autoritária. “Cala a boca”, gritou o presidente nas três vezes em que foi indagado sobre o assunto em frente ao Palácio da Alvorada. Na ocasião, também deixou o local sem responder a perguntas.

Mentiu e chamou jornalista de mentirosa na mesma frase

Em março, o presidente acusou a colunista do Estadão e editora do site BR Político, Vera Magalhães, de ter mentido em suas reportagens imputando afirmação nunca escrita por ela. “A jornalista Vera Magalhães, que foi uma mentirosa sem qualquer compromisso com a verdade, está divulgando que eu faria um movimento dia 31 de março na frente dos quartéis”, afirmou, incorretamente. No mês anterior, Bolsonaro já havia atacado a jornalista durante uma transmissão ao vivo.

Insinuação sexista

Bolsonaro fez insinuações sobre o trabalho da jornalista Patrícia Campos Mello, repórter do jornal Folha de S.Paulo, em fevereiro deste ano. "Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim", disse Bolsonaro aos risos na saída do Palácio da Alvorada.

Ele fez a declaração ao comentar o depoimento de um ex-funcionário da Yacows, uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, na CPI das Fake News no Congresso.

Hans River já tinha ofendido a jornalista ao dizer que ela havia se insinuado para ele em troca de uma reportagem sobre o uso de disparos de mensagens na campanha eleitoral. Suas declarações na comissão foram contestadas em mensagens de texto e em áudios divulgados pela Folha. Apesar disso, Bolsonaro endossou a versão.

"Ele não vai mudar"

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), afirmou que a fala do presidente Jair Bolsonaro de querer agredir um repórter não deverá influenciar o relacionamento do presidente com os parlamentares da Câmara. "Conhecemos Bolsonaro há 28 anos, ele sempre foi assim e não vai mudar", disse Barros em entrevista à rádio Jovem Pan.

Segundo Barros, a fala de Bolsonaro não foi uma ameaça. "Ele falou que 'gostaria de' e não 'vou fazer'. É um pensamento que ele externou que certamente não precisaria ter externado", defendeu o parlamentar. De acordo com Barros, "agora todas as entidades se manifestam, o que é uma bobagem. Uma tentativa de fazer o mosquito virar um elefante. O Brasil não precisa disso, precisa de andar e prosperar".

 

 

Comentários

Últimas notícias