Pastor Everaldo batizou Bolsonaro

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Publicado em 29/08/2020 às 2:00
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De candidato nanico a 2014 até a prisão pela Polícia Federal ontem, o pastor Everaldo Dias Pereira, de 64 anos, ficou marcado por episódios caricatos na política. Entre os momentos públicos de visibilidade, está o batismo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Rio Jordão, em Israel, em maio de 2016. Católico, o então deputado federal teve naquele ato um gesto simbólico de aceno aos evangélicos, hoje parte importante do seu eleitorado fortemente conservador.

Dois anos depois, Pastor Everaldo, como é conhecido, tornou-se um poderoso nos bastidores da política do Rio. Era presidente nacional do PSC, partido do governador afastado Wilson Witzel, e ficou conhecido como o homem que mandava em tudo - ou pelo menos, muito - no Executivo fluminense.

Conquistou esse posto com gestos de habilidade. Um deles foi inflar as pretensões do governador de concorrer à Presidência da República. Era visto com frequência no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, embora não tivesse cargo público.

Além da Secretaria de Saúde, foco da investigação, o pastor da Assembleia de Deus comandava a Cedae, empresa pública de água e esgoto. Nesse campo, protagonizava uma disputa com o então secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, um aliado de Mário Peixoto, fornecedor de serviços terceirizados, preso na Operação Favorito, por corrupção. Peixoto nega ter cometido qualquer crime.

Quando concorreu à Presidência, Everaldo virou chacota ao atuar, em debates, como uma espécie de linha auxiliar do então candidato tucano, Aécio Neves. Fazia perguntas brandas como "Qual é a sua opinião sobre a Previdência no Brasil?". Isso lhe rendeu a acusação, feita pela esquerda, de ser "boca de aluguel" do tucano. Depois, em 2017, um delator da Odebrecht afirmou que a empresa teria pagado R$ 6 milhões para o pastor ajudar Aécio.

Everaldo foi o primeiro candidato a presidente a usar o nome de "Pastor" na urna. Em 2018, tentou também uma cadeira no Senado. Mas não teve sucesso.

No Rio, a influência de Everaldo não vem da eleição de Wilson Witzel, no recente ano de 2018. Começou nos fim dos anos 1990, no governo de Anthony Garotinho (1999-2002), eleito pelo PDT. Como subsecretário da Casa Civil, coordenou o programa Cheque Cidadão, que distribuía vales-compra a famílias carentes. A distribuição se dava por meio de templos religiosos, o que gerou críticas.

Na época, Everaldo era aliado da esquerda que estava no poder no Rio. Era próximo de Garotinho e da vice-governadora, a petista Benedita da Silva. Mais recentemente, assumiu um discurso oposto, com apoio a privatizações. Ressurgiu no PSC após alguns anos sem nenhum destaque.

Com a sua prisão na manhã desta sexta-feira, o PSC informou que o ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha, vice-presidente nacional da sigla, assume provisoriamente a presidência do partido.

Em nota, Pastor Everaldo afirmou que "sempre esteve à disposição de todas as autoridades e reitera sua confiança na Justiça".

 

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