A campanha eleitoral para a Prefeitura do Recife começa oficialmente neste domingo (27), e até novembro muito se falará sobre a disputa e seus respectivos participantes. Esses postulantes, porém, não vão para a disputa sozinhos e, portanto, é preciso que o eleitor fique atento ao posto de vice-prefeito na chapa de cada partido. Isso porque a figura do vice, no Brasil, tem sido central nos últimos anos.
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Para se ter ideia disso, desde 1985, quando os civis retomaram o poder após a ditadura militar, três vice-presidentes assumiram o Palácio do Planalto: José Sarney (MDB), Itamar Franco e Michel Temer (MDB). No Recife, o atual vice-prefeito, Luciano Siqueira (PCdoB), assumiu a cadeira de chefe do Executivo municipal por pelo menos sete vezes, nos últimos quatro anos.
Mesmo durante o exercício temporário do mandato, o vice possui todas as prerrogativas do titular do cargo, podendo exonerar ou nomear secretários ou enviar projetos de lei para a Câmara de Vereadores. Esses atos, porém, na maior parte das vezes são realizados com a anuência do chefe do Executivo que está afastado. “Por isso, quando a aliança entre titular e seu vice está em crise, é comum que o prefeito evite se afastar do cargo para que seu vice não assuma, mesmo que temporariamente, o poder”, conta o cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Antonio Henrique Lucena.
Além disso, de norte a sul do País, processos de impeachment têm sido deflagrados, puxando os vices, outrora desconhecidos, para os holofotes do poder. Diante desse contexto, as eleições municipais deste ano trazem um peso ainda maior para quem vai ocupar o cargo de vice na chapa majoritária. “O cenário tem provado que a escolha não deve se limitar apenas às articulações políticas, mas deve ser respaldada em fundamentos mais amplos, tendo em vista possíveis percalços que a dupla enfrentará nos quatro anos seguintes”, argumenta a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa. “Se o vice não for bem escolhido, ele pode virar o fogo-amigo dentro de uma eventual gestão”, completa.
Na capital pernambucana, quem disputa o comando da Prefeitura parece ter levado isso em conta. Das 11 chapas na corrida eleitoral, apenas os vices de João Campos (PSB), que tenta a eleição com Isabella de Roldão (PDT), de Mendonça Filho (DEM), que vai às urnas com Priscila Krause (DEM), e de Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB), que disputa o pleito acompanhado do Coronel José Alves (PRTB), já assumiram algum mandato político.
Em 2019, cogitou-se que o filho do ex-governador Eduardo Campos tivesse como companheiro de chapa algum político do MDB, mas acordos visando uma aliança entre seu partido, o PSB, e o PDT sacramentaram para o posto o nome de Isabella, que é ex-vereadora da cidade. Ela afirma que tem muitas coisas em comum com o candidato a prefeito pelo PSB, endossando o discurso de que a política precisa de construtores de pontes e não de muros. “É nessa construção de ponte, inclusive da nossa relação de prefeito e vice-prefeita, que a gente vai estreitando isso. Acho que é algo bem ultrapassado isso de que o vice é meramente figurativo. Vamos ter a ousadia de fazer até isso de forma colaborativa e participativa”, declara a pedetista.
Na chapa do Democratas, para a vaga de vice, a deputada estadual Priscila Krause (DEM) foi a escolhida pelo partido, que reúne em torno de si outras três legendas. “Priscila não vai ser uma vice decorativa, vai estar ao meu lado restabelecendo a dignidade da cidade, devolvendo ao recifense o orgulho que ele tinha da sua cidade”, disse Mendonça, durante a convenção que oficializou a dupla na corrida eleitoral.
A vice democrata foi vereadora por três vezes e está no seu segundo mandato na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Em 2016, concorreu à Prefeitura do Recife, mas como recebeu apenas 47.399 votos, não conseguiu se eleger.
O pai de Priscila, o ex-governador Gustavo Krause, é exemplo de vices que assumiram o poder. Eleito em uma chapa encabeçada por Roberto Magalhães, Krause assumiu o posto de governador de 1986 a 1987, em decorrência do afastamento de Magalhães, para disputar a eleição de senador. Assim como ele, Mendonça Filho também foi alçado ao posto de titular quando Jarbas Vasconcelos, então governador, renunciou ao cargo para concorrer a uma vaga no Senado, em 2006.
Já Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB) terá como parceiro o ex-vereador e ex-deputado Coronel José Alves (PRTB). Com uma vida partidária bem diversificada, Alves cerrou fileiras no PTB, PDT, PRP e PAN. Em 2014, já no PRTB, disputou a Vice-Presidência da República ao lado do icônico Levy Fidelix (PRTB). Quatro anos depois, o coronel foi candidato a 2ª suplência de senador na chapa encabeçada por Mendonça Filho, agora seu rival. “É uma missão difícil aceitar essa incumbência [de ser vice], mas não pude recusar o convite afetuoso de Marco Aurélio”, disse Alves na convenção partidária que homologou sua candidatura a vice-prefeito.
A deputada federal Marília Arraes (PT) é atuante e conhecida do eleitor, mas escolheu para vice o advogado João Arnaldo (PSOL), que não tem experiência política, e, por isso, precisar andar muito pela cidade e inundar as redes sociais de publicações para apresentar o companheiro de chapa aos recifenses. O desconhecimento, todavia, parece não ser encarado como problema pelo psolista, que afirma ter muito a contribuir com o Recife. “Meu papel na campanha e na gestão será o de agregar, de trazer todo o conhecimento que tenho da realidade do Recife e a experiência que acumulei na vida pública, para ajudá-la na construção desse futuro melhor para a cidade”, garante.
A Delegada Patrícia (Podemos) informou o nome do candidato a vice apenas no dia da convenção que homologou sua candidatura. A delgada escolheu o produtor Leo Salazar (Cidadania), que também é neófito nas urnas. No ramo cultural há mais de 15 anos, consultor do Sebrae e até recentemente foi presidente do comitê gestor do São João de Caruaru, ele promete agregar novas ideias ao projeto de Patrícia. “Eu fui chamado para somar e farei isso com pautas nas áreas do turismo, lazer, cultura, economia criativa e empreendedorismo”, assegura Leo, que também é jornalista.
O deputado estadual Coronel Alberto Feitosa (PSC) escolheu o pastor Wellington Carneiro (Patriota) para ser seu vice. O colega de chapa do militar do social-cristão reconhece que vai precisar se mostrar ao eleitor e diz que não faltará disposição para isso. “Eu não tenho restrições de ir para as ruas, para as comunidades, se for preciso estarei na campanha diuturnamente, dentro das minhas limitações, já que sou uma pessoa com necessidades especiais por ser albino”, diz, informando que irá a atos de rua e fará a ponte entre Feitosa e algumas parcelas do eleitorado, como os evangélicos. h
A exemplo de Mendonça Filho (DEM) e Marco Aurélio Meu Amigo(PRTB), Carlos (PSL) também irá compor uma chapa puro-sangue. Filiado ao antigo partido do presidente Jair Bolsonaro, ele disputará as eleições ao lado da psicóloga Rosaly Almeida (PSL), que já começou a colocar a mão na massa na pré-campanha. “Diariamente, Carlos e eu estamos juntos nas visitas às comunidades com os nossos candidatos a vereador e nas reuniões estratégicas de campanha e criação do plano de governo”, declara.
Quem também terá um correligionário como vice é o candidato do Novo, Charbel. Ele terá como companheiro de chapa o procurador federal André Teixeira (Novo). “André é totalmente alinhado com os valores que defendo e tem grande capacidade de colaborar com a gestão e agregar muito à cidade”, afirma Charbel. Segundo postulante ao segundo cargo mais importante da Prefeitura, sua atuação não será apenas “protocolar”. “Já estou ajudando a construir o programa de governo, debatendo propostas e pesquisando vários assuntos técnicos. Além disso, se formos eleitos, serei simultaneamente vice-prefeito e secretário de Meio Ambiente”, afirma ele.
Numa chapa que une os mais novo partido brasileiro, a UP, e uma das mais antigas legendas do país, o PCB, o médico comunista Aníbal Vaneça é o candidato a vice de Thiago Santos (UP). “Aníbal é a expressão do PCB, é um quadro experiente, luta contra a injustiça há anos, resistiu à ditadura militar. Compartilhamos pontos de vistas comuns sobre o papel da luta e da mobilização popular”, afirma Santos.
Na única chapa inteiramente feminina, a professora Cláudia Ribeiro (PSTU) terá como companheira nas urnas a servidora federal Kátia Telles, da mesma legenda. Figura tarimbada nas eleições do Recife, Telles foi a primeira mulher a se candidatar à Prefeitura da capital pernambucana, em 2004. De lá para cá, elas já esteve em três das quatro disputas na cidade, duas delas como titular. “Nosso programa não é individual, mas da chapa e do partido. Então, estamos juntas, de fato, nesta disputa. A lógica das eleições, é o individualismo, assim como no capitalismo, mas a gente fala do coletivo”, diz Kátia.
Embora os candidatos a vice afirmem que não serão apenas “decorativos”, o cientista político Antonio Henrique Lucena explica que o eleitor não costuma prestar atenção neles “O que parece pesar na escolha é a cabeça da chapa. O eleitor faz sua escolha em função desse candidato e muitas vezes ou quase sempre nem sabe quem é o candidato a vice”, analisa. Avaliação parecida faz a professora Priscila Lapa, creditando à forte personalização essa característica do eleitor. “Na hora que a pessoa vai escolher o candidato, o ideal seria que ela observasse o todo, a chapa completa, mas, infelizmente, não é isso que geralmente acontece”, lamenta.
Procurado pelo JC, o candidato do PCO à Prefeitura, Victor Assis, que tem Roberta Rita (PCO) como vice, não retornou o contato da reportagem até o fechamento desta edição.
Quem são os candidatos a vice-prefeito do Recife?
Aníbal Valença (PCB)
Vice de Thiago Santos (UP)
Aníbal Valença, 75 anos, é natural do Recife, casado e médico. Foi conselheiro da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas) e diretor do Unafisco Saúde, plano de saúde da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil.
Coronel José Alves (PRTB)
Vice de Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB)
José Alves, 80 anos, é natural Araçoiaba, tem formação superior na Academia Militar dos Agulhas Negras e na Faculdade de Ciências de Pernambuco. Pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), foi eleito vereador do Recife pela primeira vez no ano de 1992 e em 1994 a deputado estadual. O Coronel José Alves voltou a ocupar a cadeira de vereador na Câmara Municipal do Recife no ano de 2000 pelo Partido dos Aposentados da Nação (PAN), sendo reeleito em 2004 pela mesma sigla. E em 2006, também pelo PAN, foi eleito deputado estadual.
Isabella de Roldão (PDT)
Vice de João Campos (PSB)
Isabella de Roldão, 45 anos, é natural do Recife, advogada e foi vereadora da capital pernambucana (2012-2016). Em 2018, foi candidata a vice-governadora de Pernambuco. No ano seguinte, o comando da Secretaria de Habitação do Recife. Ela é filha do ex-deputado estadual e ex-conselheiro do Tribunal de Contas de Pernambuco, Roldão Joaquim.
João Arnaldo (PSOL)
Vice de Marília Arraes (PT)
João Arnaldo, 45 anos, é natural do Recife, advogado e pós-graduado em Direito Administrativo, com mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). João Arnaldo já exerceu os cargos de Superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Pernambuco, foi Secretário Executivo de Desenvolvimento e Articulação Regional do Estado e Diretor de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial do Instituto Chico Mendes.
Kátia Telles (PSTU)
Vice de Cláudia Ribeiro (PSTU)
Kátia Telles, 65 anos, é natural do Recife e funcionária da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela também é uma das fundadoras do PSTU e da Central Sindical e Popular Conlutas (CSP Conlutas). Além disso, coordenou o Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais de Pernambuco (Sindufepe). Kátia foi também a primeira mulher a se candidatar a prefeita da capital pernambucana.
Leo Salazar (Cidadania)
Vice da Delegada Patrícia (Podemos)
Leonardo Salazar, 40 anos, é natural do Recife e jornalista por formação. Há mais 15 anos atua como produtor cultural. Ele também é técnico de contabilidade e consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Até recentemente foi vice-presidente da Fundação de Cultura de Caruaru e presidente do comitê gestor do São João da cidade, no Agreste.
Pastor Wellington Carneiro (Patriota)
Vice do Coronel Alberto Feitosa (PSC)
Wellington Carneiro, 46 anos, é natural de Garanhuns, casado e pai de cinco filhos. Evangélico, é membro da igreja Verbo da Vida, em Campo Grande, e pastoreou a Igreja Renascer e a Viver em Cristo. Advogado, Gestor Público e Teólogo, foi autor do mandado de segurança que resultou na suspensão da peça teatral "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu" no Festival de Inverno de Garanhuns, em 2018.
Priscila Krause (DEM)
Vice de Mendonça Filho (DEM)
Priscila Krause, 42 anos, é natural do Recife, casada e mãe de dois filhos. É formada em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e foi vereadora da capital pernambucana por três mandatos consecutivos (2005-2014). Aos 16 anos filiou-se ao PFL (atual DEM), onde atuou na Juventude do partido. Foi assessora da Secretaria de Justiça do Estado em 1999 e assessora parlamentar do então vereador Admaldo Matos, em 2000, e do deputado federal André de Paula, entre os anos de 2001 e 2004. Ela também é filha do ex-governador Gustavo Krause.
Procurador André Teixeira (Novo)
Vice de Charbel (Novo)
André Teixeira, 49 anos, é natural do Recife, graduado em Direito e Mestre em Direito Público pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele é procurador federal desde 1995 e, atualmente, participa da Força Tarefa da Advocacia Geral da União de combate ao desmatamento da Amazônia. Na Procuradoria Federal, passou pelas Procuradorias da Sudene, Ibama e, desde 2009, está lotado na Procuradoria Regional Federal da 5ª Região, onde responde pelo núcleo de Meio Ambiente.
Rosaly Almeida (PSL)
Vice de Carlos (PSL)
Rosaly Almeida, 55 anos, é natural do Recife e formada em psicologia com pós-graduação em mobilidade urbana. Durante seis anos, ela trabalhou na gestão de programas cicloviários no Governo de Pernambuco e coordenou o projeto das bicicletas públicas em parceria com o Banco Itaú, na gestão do Plano Diretor Cicloviário.
Roberta Rita (PCO)
Vice de Victor Assis (PCO)
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