Eleição municipal

Bem ou mal, todos os candidatos a prefeito do Recife falaram de Bolsonaro nas sabatinas da Rádio Jornal

Analista político aponta que o componente nacional vai fazer parte da eleição no Recife. Veja o que os candidatos falaram de Bolsonaro

JC
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Publicado em 05/10/2020 às 20:38
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CENÁRIO Para analistas, menções demonstram o quanto o componente nacional fará parte da eleição municipal - FOTO: ALAN SANTOS/PRESIDÊNCIA/DIVULGAÇÃO
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O nome Jair Bolsonaro foi um dos mais citados durante as onze sabatinas realizadas pela Rádio Jornal, que se encerraram nesta segunda-feira (5), com os candidatos a prefeito do Recife. Bem ou mal, de forma prolongada ou, apenas, uma breve citação, o presidente da República foi mencionado, o que, na visão do doutor em ciência política e professor da Universidade Católica de Pernambuco Juliano Domingues, é uma demonstração de quanto o componente nacional fará parte da eleição municipal.

"As sabatinas demonstraram quanto o componente nacional está presente nas eleições municipais. Nos candidatos mais competitivos esse aspecto esteve presente, mas em menor proporção. Já entre as candidaturas que levaram mais em conta o aspecto ideológico, que são candidaturas muito mais para demarcar território, essa polarização apareceu de forma mais evidente, mas a fala nacionalizada esteve na fala de todos eles", afirmou o professor na Rádio Jornal, nesta segunda-feira.

Confira a análise sobre as sabatinas:

Nomes como Coronel Feitosa (PSC) e Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB) se mostraram mais enfáticos no alinhamento com o governo federal, enquanto nomes como Cláudia Ribeiro (PSTU) e Victor Assis (PCO) defenderam o "Fora Bolsonaro".

Mesmo sendo alvo de disputas para cabo eleitoral entre os partidos de direita do Recife, Bolsonaro (sem partido) não é bem avaliado pela população da capital pernambucana. De acordo com a pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, divulgada na última sexta-feira (2), para 43% do eleitorado recifense, Bolsonaro tem comandado uma gestão ruim ou péssima. Para 28%, a atual gestão do governo federal tem sido regular, ao passo que 29% a avaliam como ótima ou boa.

A cientista política Priscila Lapa disse que apelar a uma polarização nacional logo no início da campanha municipal pode ser um erro. "Notamos que a maior parte dos candidatos que percebe a chance de vencer a eleição foge da polarização, mas pode ocorrer no final da campanha por uma cobrança do eleitor de 'você apoia quem?'. Mas, enquanto eles conseguirem evitar, eles vão. Isso é desgastante para todos, pois no momento atual, mesmo tendo crescimento do movimento mais conservador, mais à direita, o eleitor tem elementos de comparação. Em 2018 não existia, havia só uma expectativa do que seria um governo Bolsonaro. Agora, já se experimentou o que é ter Bolsonaro à frente do País e isso pode levar um candidato a cair num debate mais intenso", disse.

Confira afirmações dos candidatos relacionadas a Bolsonaro nas sabatinas:

Primeiro candidato sabatinado na Rádio Jornal, Marco Aurélio Meu Amigo afirmou que pretende construir 50 creches no Recife com "dinheiro de Bolsonaro". Segundo o candidato, a cidade tem dinheiro para isso e pode pedir ajuda ao governo federal para angariar recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). "Faço questão que as pessoas me identifiquem com Bolsonaro. Em 2018, eu votei em Bolsonaro. É só olhar nas minhas redes sociais que tem foto no meu comitê com ele. Tenho apoio do vice-presidente Mourão", disse Marco.

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Por outro lado, Victor Assis, do PCO, disse que não poderá resolver os problemas da capital, que classificou como "minúcias", sem antes não retirar Jair Bolsonaro da cadeira de presidente. "Se a gente ficar aqui discutindo minúcias da política local, mas não discutir que a gente tem que derrubar o governo Bolsonaro, estabelecer eleições gerais e fazer uma campanha por Lula presidente, todas essas discussões vão ser discussões menores que não vão ser efetivadas. Tudo que estiver na cidade é uma preocupação nossa, mas para gente não é uma questão prioritária", afirmou.

Alguns dias após essa afirmação do candidato, a mesma pesquisa Ibope/JC/Rede Globo mostrou que para 52% do eleitorado recifense, a área mais problemática da cidade é a saúde, seguida da segurança pública, com 40%, e educação, com 30%. A pesquisa do Ibope foi realizada entre os dias 30 de setembro e 02 de outubro de 2020. Foram entrevistados 805 votantes do Recife. A margem de erro máxima estimada é de três pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral com o Número PE09685/2020.

Paternidade

A disputa pela "paternidade" de Bolsonaro entre os candidatos de direita no Recife foi citada pela candidata Delegada Patrícia (Podemos). Na visão dela, os postulantes que estão se colando "em imagens alheias" não têm história própria. "Toda gestão tem erros e acertos, tem diversos acertos que posso falar (da gestão Bolsonaro), um deles foi o auxílio emergencial. Mas vejo que muitos candidatos não tem história e precisam contar história alheia. Eu tenho história, nossa campanha se pauta pela nossa história, nós sempre vamos puxar o debate para os problemas do município, enquanto outros olham para o plano federal. Alguns buscam essa pseudo paternidade do presidente enquanto ele afirmou que não apoia nenhum candidato no primeiro turno. Me atrevo a dizer que o DNA dará negativo a todos", afirmou.

No mesmo dia, da delegada, a última terça-feira (20), o candidato do Partido Novo, Charbel, disse no microfone da Rádio Jornal que se for eleito, terá o "melhor relacionamento possível" com o governo Bolsonaro. "Precisamos ter uma relação próxima com o governo porque nenhuma capital com o porte do Recife consegue se desenvolver sem o apoio do governo federal. Eu penso no recifense. Eu preciso de uma boa relação com o governo federal por que é de lá que vêm os recursos para cá", afirmou.

Charbel, inclusive, teve a candidatura indeferida pelo juiz da 3ª zona eleitoral do Recife, Auzênio Cavalcanti. A justificativa foi que o candidato não se desincompatibilizou do cargo de Procurador do Recife dentro do prazo exigido pela Justiça Eleitoral. A desincompatibilização de Maroun foi em 15 de agosto, data final para deixar o cargo. Por meio de nota, o diretório municipal Novo informou que houve um equívoco da parte do juiz e que irão recorrer do processo.

Já Thiago Santos (UP) afirmou durante sua sabatina que a gestão de Bolsonaro seria "fascista e feita para banqueiros e militares". “É um governo que trata a repressão como tratamento para os movimentos populares, além de servir aos interesses do capital financeiro internacional”, completou. 

Candidata pelo PSTU, a professora Cláudia Ribeiro também não poupou críticas ao presidente, principalmente, no que diz respeito à administração da saúde pública em meio à pandemia do novo coronavírus (covid-19). "Um governo genocida, que nos joga para o abatedouro", disse Cláudia. Ela ainda afirmou que a reforma administrativa proposta pelo presidente vai acabar com o SUS.

Confira imagens dos candidatos durante as sabatinas:


Ricardo Labastier/Divulgação
Marília Arraes, candidata a prefeita do Recife, em sabatina da Rádio Jornal - Ricardo Labastier/Divulgação
BETO DLC/RÁDIO JORNAL
Sabatina do candidato à Prefeitura do Recife Coronel Feitosa (PSC) na Rádio Jornal - BETO DLC/RÁDIO JORNAL
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Carlos Andrade Lima (PSL) foi o nono prefeiturável entrevistado em rodadas de sabatina da Rádio Jornal - BETO/RÁDIO JORNAL
BETO DLC/DIVULGAÇÃO
Sabatina Rádio Jornal com João Campos (PSB) - BETO DLC/DIVULGAÇÃO
BETO DLC/DIVULGAÇÃO
Sabatina na Rádio Jornal com Mendonça Filho (DEM) - BETO DLC/DIVULGAÇÃO
BETO DLZ/JC IMAGEM
EMBOLADOS Marco Aurélio Meu Amigo (alto, PRTB), Coronel Feitosa (centro, PSC) e Cláudia Ribeiro (PSTU) aparecem com 1% dos votos - BETO DLZ/JC IMAGEM
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Candidato a prefeito do Recife Thiago Santos (UP) - BETO DLC/JC IMAGEM
BETO DLC/JC IMAGEM
Delegada Patrícia é candidata a prefeita d Recife pelo Podemos - BETO DLC/JC IMAGEM
Rádio Jornal
Candidato Charbel Maroun (Novo) defende que parcerias privadas otimizariam o serviço público - Rádio Jornal
BETO/RÁDIO JORNAL
Victor Assis, candidato do PCO à Prefeitura do Recife, disse que não espera vencer a eleição e não se preocupa com o resultado da pesquisa - BETO/RÁDIO JORNAL
BETO DLC/JC IMAGEM
MEU AMIGO Diz que querem "pegar carona" em pauta "dele" - BETO DLC/JC IMAGEM

Diálogo

Candidato pelo PSB a prefeito da capital, o deputado federal João Campos explicou que faz oposição a Bolsonaro, mas adiantou que, caso seja eleito prefeito do Recife, precisa saber dialogar com o governo federal. "Todo mundo sabe da minha posição pessoal, todo mundo que acompanha meu mandato sabe das críticas que tenho, sim, ao governo federal, mas a instituição Prefeitura do Recife não deve ter nenhuma dificuldade de dialogar com o presidente da República", afirmou João.

No mesmo dia de João, o candidato Mendonça Filho (DEM) também falou sobre a aproximação com o governo federal e afirmou que não vai participar do debate de oponentes que disputam o apoio e se declaram como representantes legítimos de Bolsonaro. Na sua análise, sua relação será a mesma quando foi ministro da Educação. "Qual prefeito de Pernambuco ou de qualquer partido foi discriminado na minha gestão no MEC? Nunca discriminei o governo de Pernambuco, pelo contrário, ajudei. Boa parte das escolas técnicas estaduais foi inaugurada na minha gestão. Quadras e escolas receberam muito apoio, aumento da merenda escolar em todo o estado. Não terei dificuldade com o governo, pois há temas com interesse comum. Teremos de interagir. É um erro básico imaginar que o Recife não pode pensar metropolitanamente. Recife não vai ficar uma cidade isolada, Recife tem de ser protagonista”, afirmou.

Antigo partido do presidente

O PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu em 2018, também tem um candidato a prefeito do Recife: Carlos Andrade Lima. No entanto, após um racha com o presidente da sigla, Luciano Bivar, o partido viu Bolsonaro se desfilar e tentar criar sua própria legenda, o Aliança pelo Brasil.

Ainda assim, Carlos deixou claro na Rádio Jornal que apoia o governo apesar das desavenças do partido. "Eu votei no presidente Jair Bolsonaro, sou apoiador de primeira hora, adoraria ter o apoio dele, mas acho que o presidente, ou as pessoas ligadas a ele, é quem têm que dizer quem ele apoia. A relação PSL-Bolsonaro é eminentemente política, conceitual. Acho que isso tem que se resolver no âmbito da política", afirmou.

Outro apoiador do presidente da República que disputa a Prefeitura do Recife é o Coronel Feitosa (PSC). E na sua sabatina ele falou sobre pontos de alinhamento com Bolsonaro. "Ele é militar, eu sou militar. Eu defendo o armamento, a hidroxicloroquina desde o início. Fui o único político pernambucano que escreveu um documento naquele embate com (Sergio) Moro, que ninguém governa governante".

A última sabatinada da Rádio Jornal foi Marília Arraes, candidata do PT, partido que disputou o segundo turno da eleição de 2018 contra Bolsonaro e viu o candidato Fernando Haddad sair derrotado da disputa. A petista só citou diretamente o presidente ao afirmar que armar a Guarda Municipal do Recife não pode ser um assunto diretamente ligado a ser ou não apoiador de Bolsonaro. 

“Não é a solução armar a guarda. É um processo que tem que ser debatido, não tem que chegar e dizer 'quem quer armar a guarda é Bolsonaro, quem não quer é de esquerda'. Quem desarmou a guarda foi Geraldo Julio, a guarda tinha setores que eram armados antigamente e eu não vejo problema da gente debater isso, com a qualificação permanente, com a valorização da guarda”, afirmou.

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