Artigo

Ex-porta-voz do governo, pernambucano Otávio do Rêgo Barros critica Bolsonaro: 'Poder corrompe'

O general publicou um artigo tecendo críticas sem mencionar o nome do presidente Jair Bolsonaro

Gabriela Carvalho
Cadastrado por
Gabriela Carvalho
Publicado em 28/10/2020 às 8:52 | Atualizado em 28/10/2020 às 10:41
Agência Brasil
General Otávio Rêgo Barros deu declaração durante coletiva de imprensa - FOTO: Agência Brasil

O ex porta-voz da Presidência da República, general Otávio do Rêgo Barros, demitido em 7 de outubro de sua função, quebrou o silêncio em artigo publicado no Correiro Braziliense nesta terça-feira (27). Sem fazer menção ao nome do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o general o comparou ao imperador romano Júlio César. "Infelizmente, o poder inebria, corrompe e destrói!", disse.

O ex-porta-voz fez uma analogia entre o papel que exercia no Planalto e as atribuições de um cochichador de Júlio César. O general insinuou que o presidente se distanciava dos compromissos de 2018.

"É doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de sete reais.Tão logo o mandato se inicia, aqueles planos são paulatinamente esquecidos diante das dificuldades políticas por implementá-los ou mesmo por outros mesquinhos interesses. Os assessores leais —escravos modernos— que sussurram os conselhos de humildade e bom senso aos eleitos chegam a ficar roucos."

Rêgo Barros escreveu, ainda, que "a estabilidade política do império está sob risco." Insinuou que Legislativo e Judiciário devem manter Bolsonaro sob vigilância.

"As demais instituições dessa República —parte da tríade do poder— precisarão, então, blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da sociedade, que advirão como decisões do 'imperador imortal'. Deverão ser firmes, não recuar diante de pressões."

Além de recomendar atenção aos outros Poderes, o general exaltou o papel de um setor constatemente criticado pelo presidente: "A imprensa, sempre ela, deverá fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar, esclarecendo à população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos atos do César."

 

Demissão

Antes de assumir a função de porta-voz da Presidência, o general chefiava o Centro de Comunicação Social do Exército. O militar também foi assessor da extinta SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos).

Natural de Recife, o ex-porta-voz da Presidência tem 60 anos e ingressou na carreira militar em 1975, como aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Exército

A saída de Rêgo Barros do cargo de porta-voz da Presidência foi anunciada em agosto, depois de meses de isolamento, e oficializada em outubro. Desde o início do ano, ele deixou de fazer os briefings quase diários à imprensa no Palácio do Planalto para responder a questionamentos de jornalistas. Os encontros acabaram substituídos por falas do próprio presidente na entrada e saída do Palácio da Alvorada. Com isso, o porta-voz ficou ainda mais esvaziado e sem função definida internamente.

No ano passado, o porta-voz passou a ser alvo de críticas de um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), por organizar cafés da manhã com jornalistas periodicamente. Na visão de Carlos, os encontros serviam para prejudicar o pai. As reuniões também viraram foco de conflito com a chegada do secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, em abril de 2019.  


Comentários

Últimas notícias