Marília insiste nas suas multifaces

DIA DO VOTO Relembre a trajetória da candidata do PT

Publicado em 29/11/2020 às 2:00
Leitura:

Recifense, mãe e deputada federal. Essas são as três características apontadas primeiramente por Marília Arraes ao falar de si. Candidata a prefeita do Recife (PT) na disputa do segundo turno que será definido neste domingo (29), Marília foi acrescentando novas camadas na sua narrativa: resgate das gestões do PT no Recife, o Lulismo, um programa de governo voltado ao cuidado com as pessoas e ao combate às desigualdades sociais, além de sua experiência de 12 anos na política.

No segundo turno, a candidata manteve a sua postura crítica ao PSB e de associação do seu adversário João Campos à atual gestão municipal. E foi subindo o tom a cada dia em que se aproximava a votação. O socialista apostou em uma ofensiva contra ela, passando pela sua filiação ao PT até citando um processo que investiga irregularidades no seu mandato de vereadora.

Já desde o final do primeiro turno, Marília passou a fazer uma defesa mais incisiva das ações PT quando governou a cidade, entre os anos de 2001 e 2011, apesar de não citar diretamente os ex-prefeitos. As recentes declarações de apoio a ela, tanto de João Paulo (PCdoB) como de João da Costa (PT), fortaleceram o discurso. Ela costuma citar o Programa Aluno nos Trinques, Recife Sem Palafitas, obras estruturais nos morros e construção de habitacionais, que promete retomar caso seja eleita prefeita do Recife. "Esse cuidar das pessoas tem uma dupla conotação: é física e infraestrutural, e a outra ideia de cuidar das pessoas são os programas sociais", resume o cientista político e professor da Faculdade Damas, Elton Gomes.

Passa também por essa linha o Programa Florescer. Através da construção de creches comunitárias, Marília quer zerar a demanda de vagas para crianças de 0 a 4 anos. De acordo com o programa, as mães das crianças poderão passar por uma capacitação para trabalhar nesses equipamentos. A candidata vem defendendo que as creches beneficiam não só as crianças, mas também as mães.

O fato de ser mulher e mãe é apontado por Marília como uma credencial. "Sou mãe, Recife nunca teve uma mãe, nossas prioridades serão diferentes", disse, no debate da TV Jornal, no dia 24 de novembro. Segundo o cientista político Arthur Leandro, com isso ela ganha espaço entre os que defendem pautas identitárias a partir do discurso da representação feminina e de minorias. "Então Marília convence quando fala em favor do direito das mulheres, porque ela é mulher, claro, mas ela consegue também um diálogo com os segmentos do movimento negro, LGBT", completa o especialista.

Outro carro-chefe da sua candidatura é o Programa Retomada, um modelo híbrido de empréstimo com auxílio popular. A proposta é oferecer uma linha de crédito de R$ 1 mil a R$ 5 mil a microempreendedores. A prefeitura arcaria com 50% do valor. O saldo seria dividido pelo tomador em 24 vezes sem juros. Os recursos viriam de um fundo de aval abastecido com 1% da Receita Corrente Líquida Anual, estimada em R$ 50 milhões.

Elton Gomes questiona a viabilidade da proposta, considerando a situação econômica dos municípios, agravada pela pandemia da covid-19, e amarras jurídicas. "Os municípios têm uma capacidade de arrecadação pequena, quem dirá entrar no mercado como doadores ou ofertadores de carteira de crédito. Não há dinheiro suficiente para emprestar e não se pode criar um dispositivo como esse, porque as leis orçamentárias não contemplam esse instrumento", diz Elton.

Na área da educação, Marília propõe não só zerar a fila de creches como melhorar os índices desta área, através, por exemplo, da formação continuada dos professores e da manutenção da infraestrutura das escolas. "Isso tem parâmetro com a realidade. Desconfie de especialistas de coisas que nunca aconteceram. A proposta para a educação é boa, a maneira como apresenta essa ideia de valorizar o serviço público", pontuou Elton Gomes.

APOIOS

A petista recebeu outros apoios além dos ex-prefeitos recifenses nesta reta final da disputa. Na lista, nomes como Armando Monteiro (PTB); o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL); o presidente da Fundaj, o bolsonarista Antonio Campos; o Podemos, partido da Delegada Patrícia; o candidato a vice da Delegada, Léo Salazar; e até mesmo políticos de partidos da Frente Popular, como os vereadores Benjamin da Saúde (PSB) e Aline Mariano (PP).

Várias denominações políticas com algo em comum: oposição ao PSB. "Eles não gostam do PSB, eles ambicionam a cadeira do governo do Estado, as vagas de deputados e senadores, e eles ambicionam as prefeituras, então Marília se torna meio aliada natural dos inimigos do PSB", pontua Arthur Leandro.

Marília lidera a coligação Recife Cidade da Gente, formada pelo PT, PSol, PTC e PMB. A aliança com o Psol foi consolidada a partir da indicação do advogado João Arnaldo para compor a vaga de vice da petista. Já o apoio do ex-presidente Lula, segundo Arthur Leandro, pode ser considerado neutro. O petista pediu votos para a candidata, gravou para o seu programa eleitoral. Mas não veio presencialmente ao Recife por ser do grupo de risco da covid-19. "Lula traz votos e tira votos. No momento atual, não se explora a imagem dele porque quem vai votar em Marília já sabe que Lula está com ela. Agora, existe um grupo de indecisos que podem rejeitar o nome de Lula", explicou.

Uma denúncia contra Marília que tem estremecido a sua candidatura é uma ação de improbidade no Ministério Público para investigar a "existência de funcionários fantasmas" no seu gabinete, sobre os mesmos fatos relatados em um inquérito policial arquivado pelo MPPE em 2018. Há também um áudio atribuído ao deputado federal Túlio Gadêlha sugerindo que ela se utiliza da prática de rachadinha. O parlamentar negou o fato e pediu perícia do áudio.

 

Comentários

Últimas notícias