Bolsonaro inaugura exposição no Planalto com roupas que usou na posse
Iniciativa foi criticada por acontecer no momento em que o Brasil enfrenta uma pandemia e não há plano definitivo de vacinação; País perdeu 176 mil vidas por covid
O presidente Jair Bolsonaro mobilizou nesta segunda-feira, 7, parte da sua equipe de governo para inaugurar uma exposição dos trajes usados por ele e a primeira-dama, Michelle, na posse, em 1º de janeiro de 2019. Por mais de dez minutos, seis ministros e dezenas de assessores acompanharam o chefe do Executivo e a mulher em dia de "blogueiros de moda", fazendo propaganda dos profissionais responsáveis por confeccionarem o terno e o vestido que os dois usaram na cerimônia de quase dois anos atrás.
A iniciativa foi criticada por ocorrer no momento em que o País enfrenta a pandemia da covid-19, que já matou 176 mil pessoas, e o governo ainda não anunciou um plano definitivo de vacinação. Somente após o evento é que Bolsonaro usou as redes sociais para dizer que não faltará recursos para que toda a população seja imunizada, embora não tenha dado qualquer prazo para que isso ocorra.
Durante o evento, que se assemelhou a uma publicidade de influenciadores digitais, Bolsonaro demonstrou bom humor e pouco interesse em falar sobre política. Um dia após o Supremo Tribunal Federal (STF) barrar a possibilidade de recondução dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Davi Alcolumbre (DEM-AP), o presidente, ao ouvir a pergunta do Estadão sobre eleição no Congresso, respondeu: "Congresso, que Congresso?"
Repórteres questionaram então sobre a decisão do STF e mais uma vez Bolsonaro tentou se fazer de desentendido. "A decisão do STF?", disse, indo embora sem responder quem ele apoiará para presidente do Senado.
O presidente preferiu ficar apenas no personagem de blogueiro. Bolsonaro agradeceu ao alfaiate Santino Gonçalves, de Duque de Caxias (RJ), que fez de graça o terno azul-marinho para a posse em troca de usar a imagem do presidente para divulgação. No dia em que recebeu a faixa de Michel Temer, o presidente usava também camisa Cataguases 100% algodão, gravata SantiBespoke e sapatos Jota Pe.
"Ele queria fazer um terno para mim e eu dispensei porque falei: 'Olha, o meu número é 500, R$ 500. Acima disso não é meu número'. E ele falou 'vou fazer de graça'. De graça então... De graça até injeção marciana, né?", disse Bolsonaro, em tom de piada, enquanto o governo federal apresentou até agora só um esboço do plano de imunização contra a covid-19, tampouco comprou vacinas.
Desde a posse, Bolsonaro diz que usa as roupas feitas por Santino e chegou a dar o endereço do alfaiate para que outros homens o procurassem. "De vez em quando ele faz um novo terno para mim, um preço bastante razoável. Foi feita uma amizade entre nós. Hoje ele tem um ateliê aqui de Brasília", disse o presidente, divulgando o endereço em seguida.
Em seu discurso, voltou a dizer que o País está se saindo bem na pandemia e disse que esperar "entregar a faixa para o futuro presidente" com um "Brasil bem melhor" do que ele pegou. "Apesar de uma pandemia e de outros problemas, o Brasil é um dos países que melhor está se saindo na questão da economia. Essa economia que eu falei que era tão criticada, ?primeiro vida, depois economia?. Não, de mãos dadas. Economia e saúde mãos dadas pela vida, pela prosperidade", disse.
Leilão
A primeira-dama, que falou antes do presidente, também exaltou o trabalho da estilista Marie Lafayette e da costureira Larissa, cujo sobrenome não foi divulgado. No dia da posse, Michelle usou um vestido em tom rosê de zibeline de seda italiana criado por Marie. À noite, na recepção do Palácio do Itamaraty, ela usou um vestido preto.
A exemplo do marido, Michelle também não pagou pelos dois trajes. Segundo a primeira-dama, as peças foram feitas com o objetivo de serem leiloadas e o valor arrecadado doado para uma instituição de caridade. "Como esse vestido tem muito simbolismo, resolvemos tirá-lo do leilão e vamos colocar apenas o preto que foi usado no Itamaraty com a joia", disse a primeira-dama, que ainda citou a designer brasileira Marcia Igayara, autora das peças usadas naquele dia.
De acordo com informações da Secretaria Especial de Comunicação Social, as roupas foram doadas para o acervo do Planalto e a exposição será permanente. Os trajes, que incluem os sapatos usados no dia, ficarão ao lado Rolls-Royce presidencial. Não houve uma explicação do motivo de a inauguração ter ocorrido nesta segunda-feira.
Marisa Letícia
No governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira-dama Marisa Letícia também foi organizadora de uma mostra que reuniu vestuários e objetos pessoais de mulheres de presidentes. Na ocasião, os vestidos usados na posse dos maridos foram exibidos atrás de um vidro. Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no entanto, se recusou a emprestar o seu traje para o evento.
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