EXONERAÇÃO

Ex-ministro do Turismo disse que Ramos causou crises no governo, mas promete não sair 'atirando'

Em uma das conversas no grupo de ministros, no WhatsApp, Álvaro Antônio disse que Ramos era um 'traíra'

Thalis Araújo
Cadastrado por
Thalis Araújo
Publicado em 09/12/2020 às 23:52 | Atualizado em 09/12/2020 às 23:58
DIVULGAÇÃO
Ex-ministro do Turismo, Álvaro Antônio - FOTO: DIVULGAÇÃO

Quando demitiu o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, nesta quarta-feira (09), o presidente Bolsonaro (sem partido) o repreendeu por ter exposto divergências com Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, no grupo de ministros, em um aplicativo de mensagens. Segundo o Estadão, Antônio afirmou no texto que Ramos ofereceu sua pasta ao Centrão em troca de apoio para a eleição à presidência da Câmara dos Deputados.

O Planalto apoia do deputado Arthur Lira (PP-AL) para suceder o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Quando foi demitido nesta quarta-feira, o então ministro voltou a atacar Ramos, dizendo que ele é o responsável por criar crises no governo. Mesmo assim, se comprometeu em não sair 'atirando'.

Na conversa, que foi relatada por membros do governo ao Estadão, o presidente Bolsonaro alegou que as diferenças deveriam ser resolvidas pessoalmente e não em publico. O chefe do Executivo lembrou ainda que o agora ex-ministro já tem "outros problemas". Álvaro Antônio, que é ex-deputado federal pelo PSL de Minas Gerais, é investigado sob suspeita de desviar recursos de campanha por meio de candidaturas de mulheres nas eleições de 2018.

Apesar disso, ele foi mantido no Governo Bolsonaro sob a tese de que não havia condenação. O presidente dizia ter um apreço especial por Álvaro Antônio, que estava com ele em Juiz de Fora (MG), quando foi atacado por Adélio Bispo, a faca, em um ato de campanha, em 2018.

Troca já era cogitada, mas não neste ano

A troca no Turismo já era tida como certa, porém estava prevista para acontecer no início do ano que vem. A briga com Ramos antecipou a exoneração de Álvaro Antônio, que vai ser substituído por Gilson Machado, presidente da Embratur.

>> Conheça o pernambucano Gilson Machado, novo ministro do turismo que esteve em 'lives' e viagens de Bolsonaro

Depois de ouvir Bolsonaro, Álvaro demonstrou contrariedade e, mais uma vez, voltou a acusar Ramos de fazer as intrigas entre membros do governo. Mesmo demonstrando contentamento, o ex-ministro disse que seguirá apoiando o governo na Câmara.

Na mensagem de texto no grupo de WhatsApp dos ministros, que foi revelado pela emissora CNN Brasil e confirmado pelo Estadão, Álvaro reforçou que estava ao lado de Bolsonaro desde 2016, que participou ativamente da campanha e listou suas ações no Ministério do Turismo.

“Enfim, dito isso, não me admira o sr. Ministro Ramos ir ao PR [presidente] pedir minha cabeça, a entrega do Ministério do Turismo ao Centrão para obter êxito na eleição da Câmara dos Deputados”, disse.

O ex-ministro disse ainda que o ministro-chefe da Secretaria do Governo entra na sala de Bolsonaro “comemorando algumas aprovações insignificantes no Congresso, mas não diz o altíssimo preço que tem custado”.

“O nosso governo paga um preço de aprovações de matérias NUNCA VISTO ANTES NA HISTÓRIA, e ainda assim (na minha avaliação), não temos uma base sólida no Congresso Nacional, (tanto que o sr. pede minha cabeça pra tentar resolver as eleições do parlamento, ironia, pede minha cabeça pra suprir sua própria deficiência)”, escreveu, alegando que chegou a oferecer ajuda a Ramos na articulação.

Um dia antes da demissão, Álvaro participou do lançamento do Instituto Conservador-Liberal, que foi lançado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em um bar na Asa Sul de Brasília, e chegou a fazer um discurso. Em suas últimas horas ocupando o cargo de ministro do Turismo, ele lembrou da aproximação com Bolsonaro, então seu colega na Câmara de Deputados.

“Uma vez sentei ao lado dele e ele falou: ‘Olha, vou ser candidato a Presidente’. Falei: ‘O senhor vai ser candidato a Presidente?’. ‘Vou’. Aí eu falei: ‘Poxa, eu vou te apoiar’. Ele falou: ‘Cê é louco? Me apoiar? Quase ninguém acredita...’. Eu falei: ‘Não, presidente, mas eu acredito’”, relembrou.

Deus 'levantou' Bolsonaro, segundo Álvaro Antônio

Segundo o ex-ministro, a eleição de Bolsonaro é “um momento espiritual no Brasil”. “Porque Deus levantou o presidente Bolsonaro pra bênção dessa nação. Eu não tenho dúvida disso. Durante a caminhada, tinha tudo pra dar errado. Tudo. Não tinha tempo de televisão, não tinha recurso, não tinha dinheiro... Teve o atentado. Mas em cada detalhe, em cada momento, eu parava, olhava, e via a mão de Deus sobre a vida do presidente Bolsonaro”, destacou.

Leia a mensagem enviada por Álvaro Antônio no grupo dos ministros

"Caros colegas, de antemão peço desculpas por utilizar este espaço com objetivo que não seja a construção de um Brasil melhor.

Ministro Ramos, sinceramente não sei onde o Sr estava nos anos 2016, 2017, 2018...

Mas eu, junto ao Ministro Onix e outros membros do governo, já estava na Câmara do Deputados articulando em favor da então candidatura do Presidente JB (em um momento que quase ninguém acreditava na eleição dele). Na ocasião da campanha, percorri TODAS as regiões do estado de MG de carro para organizar as ações da campanha, dormindo na maioria das vezes 4 / 5 horas por noite, levando as pessoas a minoria a acreditar que precisávamos dele para mudar o Brasil (a maioria naquele momento já acreditava).

Quem estava na campanha eram os conservadores que hoje o senhor ataca sem parar, de forma covarde.

Quando indicado ao Presidente pelo ministro Onix, procurei incansavelmente honrar nosso Capitão à frente do Ministério do Turismo. O trabalho me parece que surtiu efeito... Em 2019 vivemos o melhor momento da história do ministério:

- Enquanto a própria economia (PIB) cresceu 1,1% a economia do Turismo cresceu 2,6 (mais que o dobro);

- Geramos 163% a mais de empregos que o mesmo período do ano anterior;

- Com a ajuda do Itamaraty e da Assessoria Internacional do Presidente, isentamos de vistos quatro países estratégicos EUA, Japão, Canadá e Austrália, isso nos permitiu bater alguns recordes, pela primeira vez na história Cataratas do Iguaçu ultrapassou a barreira de 2 milhões de visitantes em 2019;

- A transformação da EMBRATUR em uma agência de promoção internacional (um pleito de mais de 10 anos) vai sem dúvida em médio prazo trazer grandes resultados;

- Fui a Madri em bate e volta, fiz três reuniões, resultado: Conseguimos atrair o Wakalua, o maior hub de inovação e tecnologia em soluções para o turismo do mundo, o escritório será aberto no próximo semestre (vai nos trazer GRANDES avanços);

Conseguimos atrair a Air Europa para operar no Brasil (Já homologada pela ANAC);

Conseguimos atrair o Escritório da Organização Mundial do Turismo (OMT), será instalado no RJ, ação que vai colocar o Brasil na vitrine dos investimentos do turismo no mundo.

- Na pandemia as ações do Ministério do Turismo (junto ao ME) foram alvo de gratidão e reconhecimento desde os maiores empresários do Trade turístico até os mais simples Guias de Turismo.

Enfim, dito isso, não me admira o Sr Ministro Ramos ir ao PR pedir minha cabeça, a entrega do Ministério do Turismo ao Centrão para obter êxito na eleição da Câmara dos Deputados. Ministro Ramos, o Sr entra na sala do PR comemorando algumas aprovações insignificantes no Congresso, mas não diz o ALTÍSSIMO PREÇO que tem custado, conheço de parlamento, o nosso governo paga um preço de aprovações de matérias NUNCA VISTO ANTES NA HISTÓRIA, e ainda assim (na minha avaliação), não temos uma base sólida no Congresso Nacional, (tanto que o Sr pede minha cabeça pra tentar resolver as eleições do parlamento, ironia, pede minha cabeça pra suprir sua própria deficiência)...

Nem por isso Ministro Ramos, fui ao PR pra dizer que o Sr não capacidade pra atuar em tal função, AO CONTRÁRIO, várias vezes ofereci ajuda pra que o Sr tivesse êxito em suas atribuições (ex: Contratação do Carlos Henrique, abrindo espaços no MTur).

SOMOS UM TIME PELO BRASIL, o Sr deveria ter aprendido na sua própria formação militar que não se joga um companheiro de guerra aos inimigos, não se pode atirar na cabeça de um aliado...

Ministro Ramos, o Sr é exemplo de tudo que não quero me tornar na vida, quero chegar ao fim da minha jornada EXATAMENTE como meus pais me ensinaram, LEAL aos meus companheiros e não um traíra como o senhor.

Tenha um Bom dia!”

Comentários

Últimas notícias