A visita em uma comunidade carente do Recife e o anúncio de que melhorias serão realizadas em prol da população, tornou-se um roteiro muito similar entre aqueles que iniciam um novo mandato como prefeito. É uma espécie de pontapé para a construção de uma marca e gerar identificação com estas comunidades. Nesta segunda-feira (4), o prefeito do Recife João Campos (PSB), esteve na comunidade Irmã Dorothy, no bairro da Imbiribeira, para assinar uma portaria determinando que a Secretaria de Política Urbana e Licenciamento realize estudos técnicos para garantir a regularização e urbanização de toda a comunidade - onde moram cerca de 10 mil pessoas.
Assim como na campanha, a comunidade foi a primeira a ser visitada no primeiro dia útil no cargo de prefeito. Não muito diferente, em 2006, o então candidato a governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pai de João Campos, também fez um gesto ao visitar a comunidade Ilha de Deus, na Imbiribeira, prometendo que iria transformar a vida dos moradores do local. No ano seguinte, em 2007, já eleito governador, Eduardo cumpriu sua promessa, requalificando as vias da Ilha, que foram pavimentadas, retirando a população nas palafitas, com a construção de mais de 500 casas com acesso a água encanada, além da construção de um posto de saúde, um centro comunitário e escola. Com a notícia do falecimento do governador, em 2014, a comunidade decretou luto de três dias.
Estabelecer uma conexão próxima a população não é uma estratégia à toa e está ligada a marca que o gesto pretende deixar durante os próximos quatro anos. “Isso vem de um conexão eleitoral, essa região especificamente que João Campos visitou é extremamente carente de serviços públicos e ele tem uma chance de deixar uma marca estruturadora”, avaliou a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa.
“Ele tem a chance de deixar uma assinatura dele na comunidade. Como o ex-prefeito João Paulo (PT), criou em Brasília Teimosa, quando tirou as palafitas e criou uma infraestrutura melhor para a região”, declarou a docente.
O seu antecessor Geraldo Julio (PSB), repetiu o gesto ao visitar a comunidade do Bode, no bairro do Pina, em 2012, quando era candidato a prefeito. Na época, ele afirmou que seu primeiro ato como chefe do Executivo municipal, seria mudar a realidade habitacional do local. Após quatro anos, os projetos para requalificação do Bode continuaram no papel, e Geraldo voltou a prometer, durante a campanha de reeleição, que construiria o habitacional do Bode em uma parte do terreno do antigo Aeroclube. Em 2018, a Prefeitura do Recife chegou a assinar um contrato através do Minha Casa, Minha Vida para financiar o projeto de dois conjuntos habitacionais - Encanta Moça I e II, com 600 unidades no total.
No entanto, segundo o então prefeito, “a execução do projeto foi interrompida pela descontinuidade dos repasses por parte do Governo Federal”. Só em junho de 2020, o Ministério do Desenvolvimento Regional autorizou o cumprimento integral do contrato, e quatro meses antes de encerrar seus oitos anos à frente da Prefeitura do Recife, em agosto, Geraldo Julio anunciou também a construção de uma área verde, um parque infantil, um centro comunitário e quadras poliesportivas. O prefeito João Campos já pontuou em algumas ocasiões, que o projeto será concluído.
DIFICULDADES
Durante a visita na comunidade Irmã Dorothy, o prefeito João Campos afirmou que seu compromisso é “fazer o que ainda não foi feito”.“No primeiro dia de campanha eu vim aqui na Comunidade Irmã Dorothy e firmei esse compromisso. A comunidade da Irmã Dorothy tem mais de 15 anos, aqui moram mais de 10 mil pessoas e é uma comunidade que não tem direito à terra, ao saneamento, ao abastecimento de água, a uma unidade de saúde e a uma unidade educacional. Eu vim aqui porque eu sempre disse que o nosso compromisso é fazer o que falta ser feito no Recife”, declarou.
No caso do socialista, que acaba de iniciar sua gestão, há o desafio econômico como principal obstáculo para tornar “discursos em práticas”. Nesse sentido, Priscila Lapa afirma que, caso as promessas não sejam cumpridas, essa aproximação com a comunidade também cria fortes elementos de cobranças. “No processo de um ciclo de crise econômica que estamos vivenciando, não temos certeza de que a prefeitura terá fôlego em fazer investimentos em localidades que não tem nada, assim como concluir obras que não foram concluídas na gestão anterior”, complementa Lapa.
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