CPI da Covid ouve nesta terça o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pela segunda vez
Queiroga deve ser questionado a respeito da autonomia que disse ter para conduzir a pasta e também sobre um suposto "gabinete paralelo" que teria assessorado o presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia
A CPI da Covid vai ouvir, pela segunda vez, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. No novo depoimento, marcado para esta terça-feira (8), às 9h, Queiroga deve ser questionado a respeito da autonomia que disse ter para conduzir a pasta e também sobre um suposto "gabinete paralelo", que teria assessorado o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a pandemia.
- CPI da Covid: infectologista Luana Araújo diz que tratamento precoce é discussão "delirante e esdrúxula"
- Reunião de Bolsonaro com 'gabinete paralelo' da Saúde é divulgada e vira foco da CPI da Covid
- Renan Calheiros: CPI da Covid pretende convocar Carlos Bolsonaro para depor sobre 'gabinete paralelo'
Quando depôs pela primeira vez à CPI, no dia 6 de maio, Queiroga reiterou que o presidente havia lhe dado autonomia para conduzir a pasta. No entanto, na avaliação de alguns senadores, o depoimento da infectologista Luana Araújo, no dia 2 de junho, entre outros fatos, contraria a versão do ministro.
Convidada por Queiroga para ocupar o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, Luana deixou a equipe do ministro dez dias depois de ser indicada, antes mesmo de sua nomeação se confirmar. A não confirmação da indicação levantou questionamentos sobre a autonomia do ministro na pasta. Durante sua oitiva, Luana afirmou não saber o que teria motivado a não confirmação de sua indicação, mas declarou não haver motivos para que Queiroga impedisse que ela assumisse o cargo.
"Gabinete paralelo"
A Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado que investiga a resposta federal à pandemia está apurando a existência de um "gabinete paralelo" que assessorou Bolsonaro durante a pandemia, formado por entusiastas da cloroquina e da tese da imunidade de rebanho.
Imagens divulgadas na sexta-feira (4) mostram o presidente participando, em setembro do ano passado, de uma reunião com médicos e demais integrantes do suposto "gabinete paralelo". O encontro com Bolsonaro teve a participação do ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, que ficou conhecido como um dos principais defensores da cloroquina, medicação sem eficácia no tratamento da doença, e da tese da imunidade de rebanho - pela qual a imunização se daria de forma natural ao passo que a população fosse infectada. O próprio Osmar chegou a pegar covid-19 e ficou uma semana na UTI.
Nas imagens da reunião que ocorreu em 8 de setembro, participantes fazem uma série de críticas e ressalvas à aplicação de vacinas. Osmar Terra é citado como um "guia intelectual" do grupo. Entre os participantes do encontro estão a imunologista Nise Yamaguchi, que prestou depoimento à CPI da Covid, em convite feito pela comissão. "Uma honra trabalhar com o senhor neste período" afirmou Nise, referindo-se a Osmar Terra. Aos senadores, a médica negou a existência de um gabinete paralelo e disse que prestava apenas "aconselhamento" ao governo. Ela disse também que nunca esteve sozinha com o presidente Bolsonaro.
Convocações e quebra de sigilos
Osmar Terra é alvo de três requerimentos — inicialmente apresentados como pedidos de convocação e depois convertidos para convites. O vice-presidente a CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirma que imagens divulgadas pela imprensa "apontam Osmar Terra como mentor intelectual do grupo". Os outros dois requerimentos são de Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Rogério Carvalho (PT-SE).
O requerimento para a convocação do virologista Paulo Zanotto foi apresentado por Randolfe Rodrigues. Segundo o vice-presidente da CPI, "parece haver certa intimidade entre o médico e o presidente Bolsonaro". "Paolo Zanotto orienta o presidente a tomar ‘extremo cuidado’ com as vacinas contra a covid-19", destaca o parlamentar.
Além dos depoimentos, a CPI da Pandemia pode avaliar a quebra dos sigilos telefônico e telemático de dois supostos integrantes do "gabinete paralelo": o empresário Carlos Wizard e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. Os requerimentos são do senador Alessandro Vieira.
De acordo com o parlamentar, Wizard deve ser ouvido para esclarecer a suspeita de que seria um dos financiadores do suposto "ministério paralelo da saúde". O parlamentar quer apurar ainda se "houve acréscimo no patrimônio" de Carlos Bolsonaro, que — segundo Alessandro Vieira — foi "chamado a participar e opinar em decisões que devem ser tomadas pelo governo federal".
Agenda da CPI da Covid
Terça-feira (8), 9h: Marcelo Queiroga, ministro da Saúde.
Quarta-feira (9), 9h: Élcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde
Quinta-feira (10), 9h: Wilson Lima (PSC-AM), governador do Amazonas
Sexta-feira (11), 9h: Natalia Pasternak, microbiologista; e Cláudio Maierovitch, médico sanitarista
Com informações da Agência Senado