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Orientação de Leite terá peso maior nas eleições, diz cientista político

Governador do Rio Grande do Sul revelou que é gay na última quinta-feira (1º), ao jornalista e apresentador Pedro Bial

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Estadão Conteúdo

Publicado em 02/07/2021 às 17:57
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A declaração sobre a orientação sexual do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), na quinta-feira (1º), terá um efeito nas eleições de 2022, caso o gestor estadual seja candidato ao pleito do ano que vem. A avaliação é do cientista político Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESPSP). No entanto, o impacto positivo ou negativo, como sugere, vai depender do teor político de sua campanha eleitoral e da forma como o governador vai se posicionar sobre o tema.
 
"Tem um espaço de capitalização e perda, e isso vai depender muito dele", analisa. Conforme explica, em entrevista ao Broadcast Político, o Brasil é um país com forte cultura homofóbica, a exemplo das falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a declaração do governador. Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada na manhã desta sexta-feira (2), Bolsonaro afirmou que Leite está "se achando o máximo" e observou que a orientação sexual seria um "cartão de visita" para a candidatura do governador. No entanto, Fornazieri avalia que, para aqueles que defendem a causa LGBTQI+, o impacto será positivo por ter demonstrado coragem sobre o assunto.
 
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"Vai depender muito de como ele vai se portar na campanha em relação a esse tema", afirma. Para o especialista, embora acredite que o governador deva se manifestar para refutar qualquer tipo de preconceito, Leite não tem que utilizar esse fato a seu favor na corrida presidencial. "Sua posição pessoal não deve servir como um cavalo de batalha na campanha, mas sim um posicionamento programático contra o preconceito", diz.
 
O cientista político relembra que, em 2018, o governador seguiu o discurso de seu partido e votou em Bolsonaro. Fornazieri pontua que, diante dessa postura, "fica uma reticência". "A declaração tem um valor em si, independentemente do fato de ele ter apoiado Bolsonaro, mas politicamente ele deve se explicar porque o apoiou", afirma. Por ser filiado a um partido tradicional como o PSDB, o professor comenta que a declaração do gestor estadual é uma oportunidade para a legenda fazer uma autocrítica pública.
 
De olho nas prévias da sigla, o cientista político analisa que a declaração de Leite não deve ser definidora. "Deve pesar muito pouco porque é um público de filiados e eles sabem a dimensão de apoiar este ou aquele candidato", sugere. Para ele, o resultado das prévias deve se dar mais por fatores eleitorais, como programa e viabilidade política dos candidatos, do que posicionamentos pessoais.
 
A aposta do professor no resultado das prévias do PSDB é o principal adversário interno de Leite, o governador de São Paulo, João Doria. Para Fornazieri, Doria tem na vacina da Coronavac um ativo a apresentar nacionalmente. "Acho ainda que o Doria está mais aparelhado retoricamente para o enfrentamento das eleições, principalmente com o Bolsonaro", afirma. Segundo o cientista político, "um candidato mais tranquilo, como o Leite, não teria condições de entrar na polarização se for entre Lula e Bolsonaro". Independentemente do resultado das prévias, o professor aposta em uma eleição com forte radicalização.

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