Eleições 2022

Saiba o que os partidos em Pernambuco estão articulando para as eleições enquanto a campanha oficial não chega

Enquanto o PSB não tem definição sobre quem será o candidato ao governo estadual, nomes colocados pelo bloco da oposição já iniciaram suas movimentações pelo Estado

Mirella Araújo
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Mirella Araújo
Publicado em 07/12/2021 às 19:09
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Raquel será candidata à governadora em outubro - FOTO: DIVULGAÇÃO
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Ainda que não seja uma agenda de campanha oficial, já que estamos há 10 meses das eleições de 2022, as movimentações dos partidos e pretensos candidatos majoritários dão o tom de antecipação do pleito, conforme analisam alguns especialistas políticos consultados pelo JC. Seja no campo da oposição ou situação, cada ator político tem traçado a sua estratégia para aproveitar da melhor forma possível o período de pré-campanha.

Na oposição, os prefeitos Miguel Coelho (DEM), Raquel Lyra (PSDB) e Anderson Ferreira (PL), têm percorrido regiões para além do seus redutos eleitorais, por meio de reuniões com lideranças locais. Enquanto na ala conservadora ligada diretamente ao bolsonarismo, o debate sobre quem poderá sair como postulante ainda está sendo encaminhado, a exemplo do ministro do Turismo Gilson Machado e da deputada estadual Clarissa Tércio (PSC), que têm seus nomes cotados.

Do outro lado, o PSB não tem candidato definido, apesar do nome natural apontado pela sigla e aliados ser o do ex-prefeito do Recife, Geraldo Julio. Enquanto isso, o governador Paulo Câmara tem intensificado os anúncios de obras de infraestrutura, assinatura de ordens de serviços e investimentos por todo o Estado. 

Ainda no campo da esquerda, o Psol está em processo de discussão interna para definir qual dos três nomes colocados, será o escolhido para representar a chapa majoritária do partido. Os nomes cotados são: o vereador Ivan Moraes Filho;  João Arnaldo, que foi candidato a vice-prefeito na chapa com a deputada federal Marília Arraes (PT) em 2020; e o ex-deputado federal Paulo Rubem Santiago.

“Quando falamos em antecipação da eleição, ou seja, uma discussão muito anterior ao período de fato da eleição, isso mexe com o time correto das estratégias. Em eleições ‘normais’ não estaríamos no nível de discussão que estamos hoje, quase definição de vice e alianças. Penso que é incerto imaginar o que é mais acertado para um do que para outro”, explica o professor da Asces-Unita e cientista político Vanuccio Pimentel.

A escolha por colocar o chamado “bloco na rua” tem um peso que não pode ser subestimado neste momento. Mesmo em um cenário fragmentado, com mais de um nome à disposição para concorrer ao Governo do Estado, ações como o Movimento Levanta Pernambuco, encabeçado pelos prefeitos de Caruaru e Jaboatão dos Guararapes , Raquel e Anderson, são uma forma da oposição de ganhar espaço e estabelecer uma conexão com o eleitor e aliados. Ao mesmo tempo, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, também tem buscado promover encontros com lideranças políticas, mostrando que não tem pretensão de retirar seu nome do pleito.

“A oposição tem menos a perder na hora de colocar o bloco na rua. Ela precisa ganhar espaço em razão de se mostrar quem é o candidato, por que é candidato, quais as fragilidades, para que o eleitor se conecte com essa perspectiva da crítica que é feita por esse campo”, afirma a professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda e cientista política Priscila Lapa.

“Então, de fato existem caminhos que são tradicionalmente trabalhados em campanhas considerando esses posicionamentos mas, claro, a gente precisa considerar algumas peculiaridades do contexto. No caso atual, a gente tem sim uma dificuldade clara do PSB da construção de um nome que nem reflita o cansaço do material político e ao mesmo tempo que não seja uma novidade a ponto de ser frágil”, pontua a docente.

Há quem considere que o reiterado posicionamento do ex-prefeito do Recife, Geraldo Julio, em negar que seja candidato à sucessão do governador Paulo Câmara, seja uma estratégia do partido para evitar desgastar a imagem do gestor e postergar esse enfrentamento natural que existe durante a disputa, para o próximo ano. Já o presidente estadual do PSB. Sileno Guedes, disse que partido tem uma definição muito clara sobre o seu projeto político, e que não apresentar um nome agora, não implicará no trabalho de fortalecimento dessa imagem a partir do ano que vem.

“Não acredito que o PSB esteja preocupado agora para tentar definir um nome especificamente, existe essa possibilidade de ser Geraldo Julio, é algo que vem sendo trabalhado. Acredito que o ponto agora é muito mostrar que o governo está trabalhando, numa ação de retomada, trazendo benefícios e coisas dessa ordem, que podemos em grande medida observar. Não deixa de ser uma agenda eleitoral, preocupação com economia e renda. Tudo isso pode ser colocado lá na frente”, avalia o professor de Ciências Políticas da Unicap, Antonio Henrique Lucena.

Aliados

Nesta terça-feira (7), o governador Paulo Câmara anunciou novas intervenções que fazem parte do Plano Retomada, que totalizam mais de R$ 57 milhões. Ele cumpriu agenda no Agreste Setentrional, nos municípios de Machados e Bom Jardim. “O foco do governo, neste momento, tem que ser a agenda do Plano Retomada, ou seja, fazer anúncios e entregas pelo Estado. Esse é um dos maiores programas de investimentos da história de Pernambuco. A pauta da sociedade não é a pauta da eleição”, dispara o presidente estadual do Republicanos, o deputado federal Silvio Costa Filho - que tem nome ventilado para ocupar a vaga de senador na chapa da Frente Popular.

“No início do próximo ano, o governador vai chamar todos os partidos da Frente para apresentar o candidato ao governo e vai apresentar os critérios para a escolha do candidato ao Senado e vice. Historicamente, os candidatos do PSB foram apresentados no ano de eleição. Então, é importante que nós possamos aguardar o amadurecimento dessa construção coletiva”, disse Silvio, após ser questionado sobre como avalia a movimentação do PSB, neste período de pré-campanha e inquietação por uma definição.

O ex-senador Armando Monteiro Neto (PSDB) avalia que as articulações já iniciadas pelos partidos da oposição “são naturais e oportunas”. “O Movimento Levanta PE se destina a ouvir, recolher opiniões e entender a visão de cada microregião de Pernambuco. Acho que nesse sentido de contato com as lideranças, vamos recolher e processar essas demandas para a partir daí formular um programa que seria de governo. Tem que percorrer os municípios”, explicou Monteiro Neto.

Ele também destacou que essas agendas precisam seguir independente de quem será o candidato a ser definido pela situação. “Isso não deve nos preocupar, nós temos que ocupar o espaço que deve ser ocupado e os pré-candidatos estão fazendo isso. Não sei qual estratégia o governo está adotando, se estão escondendo candidatos. Nós não temos nada a esconder”, disparou o líder tucano.

 

Socialistas e oposição em Pernambuco estão na mesma estrada e parecem brigar por um empate. O jogo está diferente

Todo mundo corre para não ficar para trás, embora o medo de avançar e cair num precipício seja maior.

Socialistas e oposição em Pernambuco estão na mesma estrada e parecem brigar por um empate. O jogo está diferente

O ex-vice-presidente Marco Maciel tinha uma frase para todo mundo que lhe perguntava sobre eleição muito antes da eleição: "Quem tem tempo, não tem pressa".

Ao menos ele não negava que as discussões estavam acontecendo, apenas dizia que não tinha nenhuma resolução até ali.

Já Eduardo Campos transformou o ato de negar estar fazendo articulação eleitoral em algo um pouco mais fingido. Era comum, em 2009, ouvi-lo dizer que a "a eleição de 2010 se discute em 2010", quando a discussão, todo mundo sabia, já havia começado em 2006.

A maneira de despistar é diferente, mas a intenção era a mesma: não antecipar jogadas.

Vejam Raquel Lyra (PSDB). A prefeita de Caruaru só entrou no jogo eleitoral quando a pressão para que ela se declarasse candidata ao governo do Estado se tornou insuportável. Apesar de nunca ter se apresentado oficialmente como candidata, ela foi obrigada a pegar a estrada e começar a construir suas bases nos municípios. Caso contrário, corria o risco de ficar para trás nas discussões de formação de palanque.

Às vezes, porém, é preciso fingir que está escondendo a solução quando, na verdade, você não a tem mesmo. O PSB pode até dizer que "tem tempo e não tem pressa". Mas, aliados estão bastante inquietos com a falta de um nome para a campanha.

Geraldo Julio (PSB), depois de conversar com outros socialistas que ainda estavam esperançosos, teria voltado a afirmar que não é candidato em 2022.

O PSB tem vários nomes como opção, que precisarão ser trabalhados, mas a indefinição existe e deixa o PT, por exemplo, ouriçado pela chance de indicar o candidato.

Estamos há quase um ano das eleições. O que aconteceu que faz com que tudo tenha se acelerado? As frases de Marco Maciel e Eduardo Campos, hoje, parecem excentricidades políticas de um tempo passado.

Aconteceram as redes sociais e as novas leis eleitorais.

E, nos dois casos, a ideia era que os processos se tornassem mais curtos, uma corrida de cem metros, quando, na verdade, transformaram-se em maratonas.

No caso das redes sociais, apesar de a comunicação ser mais direta e rápida, as construções são demoradas. É preciso alcançar volume, escalar em número de apoiadores virtuais, criar um ambiente favorável nas redes.

Bolsonaro construiu uma imagem dentro de uma bolha nas redes, mas não fez isso de uma hora para outra. Demorou alguns anos e muitas e muitas postagens com vídeos de grupos o recebendo em aeroportos.

Quando a eleição chegou, o ambiente virtual estava pronto e fortalecido para resistir a qualquer contra-argumentação. Independe se a base era real ou construída sobre fake news. Depois que a bolha está consolidada, é difícil furá-la.

Já a mudança nas leis eleitorais é um caso curioso. Quando o legislador modificou a estrutura da campanha e fez com que ela se tornasse mais curta, tinha como objetivo diminuir seus custos. Um processo de campanha que, antes, durava três meses, passou a ser feito em 45 dias oficiais.

A questão é que o número de eleitores a serem impactados não diminuiu, continuou o mesmo. Se, antes, cada candidato tinha três meses para alcançar 100 mil eleitores, agora tem 45 dias.

Tem que ser mais rápido. Ao invés de economizar, isso tornou as campanhas mais caras.

Como ninguém gosta de gastar, a solução foi diluir a busca pelo voto. A pré-eleição passou a se estender pelos quatro anos que antecedem cada pleito. Acaba um e começa outro. Não admira se, hoje, em 2021, já houver negociações sobre 2024 e 2028.

Neste ano, há, ainda, outro fator que está sendo considerado e complicou tudo: as federações. As coligações disfarçadas estão empurrando decisões importantes para o ano que vem e obrigando a ignorar a urgência dos palanques.

Se, em Pernambuco, parece que oposição e PSB estão com estratégias diferentes, a estratégia, na verdade é igual e, este é o ponto em que quero chegar.

O PSB está prestes a fechar uma federação com o PCdoB e com o PT. Já o PSDB conversava com o Cidadania e com o PV para uma federação, embora a escolha de João Dória tenha atrapalhado tudo.

Todo mundo precisa definir e não pode definir nada ainda. A necessidade de votos empurra e o contexto político puxa.

O prazo para firmar as federações é o início de abril de 2022. Enquanto nada se resolve, tanto o PSB quanto a oposição resolveram pegar a estrada e tentar fortalecer as bases.

Raquel e Anderson fazem isso a partir do Levanta Pernambuco. Os socialistas estão circulando pelos municípios usando o programa Retomada.

Ambos os grupos levam seus possíveis candidatos e vão apresentando ao público enquanto se reúnem com prefeitos.

Não querem perder tempo e não querem se antecipar demais.

Parece que estão em caminhos diferentes, mas estão percorrendo exatamente as mesmas estradas esburacadas. Ninguém quer ficar parado, mas ninguém quer arriscar.

Parece uma disputa pelo empate. E talvez seja.

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