ELEIÇÕES 2022

BOLSONARO LIVE: NORDESTE é relacionado ao ANALFABETISMO em justificativa do presidente de votos em LULA

Eleitores da região Nordeste viraram alvo de ataques xenofóbicos nas redes sociais após o primeiro turno das eleições

Imagem do autor
Cadastrado por

Lucas Moraes

Publicado em 05/10/2022 às 21:21 | Atualizado em 06/10/2022 às 0:07
Notícia
X

Com Estadão Conteúdo

Em transmissão ao vivo realizada nesta quarta-feira (5), o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição neste segundo turno, relacionou os estados do Nordeste a altas taxas de analfabetismo para justificar a votação massiva de Lula na região, e classificou a sua afirmativa como uma herança de governo de esquerda.

"Uma notícia importante, pessoal, tá aqui na CNN. Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo. Sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste. Não é só taxa de analfabetismo alta o mais grave nesses estados. Outros dados econômicos agora também são inferiores nessas regiões, porque esses estados do Nordeste estão há 20 anos sendo administrados pelo PT. Onde a esquerda entra, leva o analfabetismo, leva a falta de cultura, o desemprego, a falta de esperança, é assim que age a esquerda no mundo todo", disse Bolsonaro.

 

XENOFOBIA CONTRA NORDESTINOS

Eleitores da região Nordeste viraram alvo de ataques xenofóbicos nas redes sociais após o primeiro turno das eleições.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderou a votação nos nove Estados da região. A maioria das mensagens preconceituosas é de perfis de apoiadores do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).

Com todas as urnas do País apuradas, o petista teve 48,43% dos votos e o atual chefe do Executivo, 43,20%.

Postagens associam o Nordeste à pobreza. A região aparece como dependente de "assistencialismo", enquanto as demais seriam responsáveis pela produção de riqueza do País. Algumas publicações se referem aos nove Estados como "Cuba do Sul" ou Venezuela.

Há ainda mensagens que afirmam que os nascidos no Nordeste "não pensam", além de classificá-los como "manipuláveis" e "massa de manobra".

Em alguns casos, usuários insinuam que nordestinos deixam o Nordeste para "vender redes" no Sul e Sudeste, e declaram que eles não seriam mais bem-vindos nessas regiões após o primeiro turno: "Nunca mais vamos comprar rede desses nordestino (sic) que vem aqui pro Sul do Brasil. Acabou. Fica (sic) vendendo aí nas suas cidades", escreve um usuário em perfil anônimo.

Algumas mensagens incitam violência. "Alguém avisa o presidente da Rússia que o Nordeste também faz parte da Ucrânia", escreveu uma internauta.

O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MP-MS) pediu que a Polícia Civil e a Polícia Federal investiguem a página "Mídia Dourados" no Facebook por racismo contra nordestinos. O perfil apócrifo tem 57 mil seguidores na rede social.

Após a apuração dos votos no primeiro turno das eleições, no domingo, a página atacou os nordestinos. "Depois vem pro Sul vender rede (sic)", diz a publicação.

Em fevereiro, o Estadão informou que Bolsonaro virou alvo de notícia-crime no STF por se referir a nordestinos como "pau de arara" em uma transmissão na internet.

O Twitter afirmou que suas equipes "estão acompanhando a situação e trabalhando para detectar potenciais violações".

A Meta, representante do Instagram e do Facebook, informou que desde domingo, "antes mesmo do fim da apuração dos votos", trabalhava para "detectar e remover das nossas plataformas discurso de ódio contra a população do Nordeste, conteúdos que violam as nossas políticas".

"Devido à escala dos nossos serviços, proibir determinados conteúdos não significa incidência zero."

Após os ataques com mensagens preconceituosas ao Nordeste, teve início nas redes sociais um movimento de usuários que passaram a exaltar a região. Economista, ex-participante do Big Brother Brasil e pernambucano, Gil do Vigor pediu respeito.

"Em termos de política, precisamos colocar a cabeça no lugar, se conscientizar, respeitar o outro", falou. "O nordestino é capaz, é potente e tem conhecimento, sim." No momento, ele está nos Estados Unidos, onde cursa PhD na Universidade da Califórnia em Davis (UC Davis).

A cantora paraibana, também ex-BBB, Juliette Freire usou as redes para incentivar seus seguidores a denunciar a xenofobia. "Você tira print, vai no site da Polícia Federal ou do Ministério Público Federal, preenche o formulário e faz sua notícia-crime. Já que não há respeito, resta pelo menos, Justiça."

REPERCUSSÃO

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, se disse "horrorizada com os apoiadores de Bolsonaro espalhando preconceito e xenofobia contra o povo nordestino por conta do apoio que a região deu ao presidente Lula". "É esse o Brasil que o povo quer? Do discurso do ódio? Nordeste é orgulho!", escreveu ela no Twitter.

O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, também usou as redes sociais a para dizer que "nossos amigos do Nordeste são vítimas de governo passados".

Essa não é a primeira eleição em que eleitores do Nordeste são alvo de xenofobia. Em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) teve mais votos que Aécio Neves (PSDB) no Nordeste, também foi registrada uma onda de comentários preconceituosos nas redes sociais.

 

Tags

Autor