GLÓRIA MARIA: jornalista já foi alvo de racismo até de presidentes; veja o que foi dito
A apresentadora Glória Maria foi a primeira mulher a usar a Lei Afonso Arinos no Brasil, em 1970, após ser barrada em um hotel de luxo por ser negra
A jornalista Glória Maria, que faleceu nesta quinta-feira (2), teve sua trajetória marcada por entrevistas icônicas e coberturas históricas de repercussão internacional. Em seus 50 anos de carreira na televisão, o pioneirismo fez parte da sua vida profissional, assim como o combate ao racismo.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no dia 13 de março de 2022, Gloria Maria relembrou o ataque racista desferido pelo último presidente da ditadura militar, o general João Figueiredo. Na ocasião, ele declarou não querer a presença da "neguinha da Globo", em referência à jornalista.
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"Eu tive uma experiência horrível com o Figueiredo, mas eu não tinha uma preocupação de que ele pudesse me prender. Eu tinha talvez uma ingenuidade. Sempre carreguei essa visão de que tudo podia dentro do trabalho que eu fazia. Por isso, eu ia em frente", afirmou a jornalista, conforme publicação da Folha de S. Paulo.
No programa Conversa com Bial, da TV Globo, em 2020, Glória Maria também havia rememorado o episódio, explicando o enfrentamento que teve com o ex-presidente.
"Não me suportava. Quando ele foi indicado, a gente foi fazer a famosa fala dele na Vila Militar, em que ele dizia: 'para defender a democracia, eu bato, prendo e arrebento", disse a jornalista, que em seguida rebateu, "Isso que o senhor citou não existe mais". Ela acabou sendo expulsa por Figueiredo, que disse "Tire aquela 'neguinha' da Globo, daqui".
LEI AFONSO PENA
A apresentadora Glória Maria foi a primeira mulher a usar a Lei Afonso Arinos no Brasil, em 1970, contra um gerente de um hotel de luxo no Rio de Janeiro. O funcionário não permitiu sua entrada pela porta da frente por ela ser negra.
Nesse momento, Glória chamou a polícia e levou o caso os tribunais. A Lei Afonso Arinos foi promulgada em 1951, proibindo a discriminação racial no Brasil. Ela foi o primeiro código brasileiro a incluir entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de preconceito de raça e cor da pele.
"Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi, desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender da maneira que pode. Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção", disse Glória Maria.