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Bolsonaro diz que só soube de joias em 2022; gabinete agiu por retirada antes

Bolsonaro alegou ainda que só houve intervenção de seus auxiliares para se evitar um suposto "vexame diplomático" do Brasil com o regime saudita

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Publicado em 06/04/2023 às 0:03
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Bolsonaro recebeu pelo menos três caixas de joias que estão avaliadas em cerca de R$ 18 milhões - FOTO: REPRODUÇÃO

O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem à Polícia Federal que soube das joias com diamantes destinadas pela Arábia Saudita à ex-primeira-dama Michelle apenas em 2022, um ano depois da apreensão do estojo pela Receita Federal. Bolsonaro alegou ainda que só houve intervenção de seus auxiliares para se evitar um suposto "vexame diplomático" do Brasil com o regime saudita.

A versão, porém, choca-se com documentos oficiais de seu próprio governo. Como mostrou o Estadão, foram ao menos oito tentativas para retirar as joias do cofre da Receita no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, onde estavam retidas desde outubro de 2021. Três das investidas ocorreram ainda naquele ano - uma delas partiu do gabinete da Presidência da República.

O caso foi revelado pelo Estadão. O estojo apreendido em Cumbica e reservado a Michelle continha colar, anel, par de brincos e relógio em ouro branco e diamantes da marca suíça Chopard, avaliado em R$ 16,5 milhões. Ao todo, foram três kits que vieram a público - dois deles com relógio, caneta, terço islâmico e abotoaduras destinados a Bolsonaro. Os bens somam mais de R$ 18 milhões.

O ex-presidente depôs ontem por três horas na sede da PF, em Brasília. Ele foi convocado para dar sua versão sobre o recebimento dos presentes milionários. Bolsonaro voltou ao País na quinta-feira passada, após uma temporada de três meses na Flórida.

Em São Paulo, a corporação ouviu também o ex-ajudante de ordens da Presidência da República, tenente-coronel Mauro Cid. O militar foi o responsável por montar uma operação, nos últimos dias do governo Bolsonaro, para tentar recuperar as joias que foram trazidas para a então primeira-dama.

No depoimento, Bolsonaro afirmou que pediu a auxiliares para obter informações sobre as joias apreendidas para evitar o suposto "vexame diplomático". De acordo com ele, o constrangimento poderia ocorrer porque as peças tinham sido dadas como presente pela Arábia Saudita e poderiam ir a leilão. Os bens foram retidos porque não foram declarados à Receita, e o órgão cobrava, para a liberação, o pagamento de tributos de importação.

Dois dos estojos dados pela Arábia Saudita chegaram ao País pelas mãos de integrantes da comitiva do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, após viagem oficial ao país do Oriente Médio em 2021.

A caixa para Michelle que estava na mochila de um assessor de Bento foi flagrada por fiscais da Receita; outra, com presentes para Bolsonaro, passou sem ser notada. Logo após a apreensão, ainda em outubro daquele ano, o gabinete de Bolsonaro enviou um ofício ao ministério de Bento. Nele, cobra a necessidade de destinação das joias para o acervo pessoal ou da Presidência. Até o Itamaraty foi acionado para tentar liberar as joias naquele ano.

Desde que o caso foi noticiado pela primeira vez no início de março pelo Estadão, Bolsonaro evitou admitir que usou a estrutura do seu governo para se apropriar das joias. Quando ainda estava nos Estados Unidos, reclamou que estava sendo acusado por um presente que nem tinha chegado a ele. Na época, se referia apenas à caixa para Michelle.

Diferentemente do que relatou ontem à PF, o ex-presidente chegou a declarar que ficara sabendo do colar apreendido de Michelle pela imprensa.

Documento revelado pelo Estadão e incluído no inquérito pela Polícia Federal como indício de envolvimento direto do ex-presidente aponta na direção contrária. Nos últimos dias do governo, um avião da Força Aérea Brasileira levou o primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva até Guarulhos para resgatar as joias.

Já o terceiro estojo, que inclui um relógio da marca Rolex, fora recebido pelo próprio Bolsonaro em 2019, quando visitou Riad. Os kits masculinos foram devolvidos por Bolsonaro ao poder público após ordem do Tribunal de Contas da União (TCU).

A Polícia Militar do Distrito Federal preparou um esquema especial de segurança para o depoimento de Bolsonaro. Ontem, a área ao redor da sede da PF foi isolada.

Havia a expectativa de que apoiadores de Bolsonaro se manifestassem, mas somente um homem vestido com a camiseta da seleção brasileira de futebol apareceu no local.

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