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Braço direito de ex-presidente é citado como articulador de esquema

Para a PGR, o tenente-coronel "teria arquitetado e capitaneado toda a ação criminosa", sem conhecimento do ex-presidente da República

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Publicado em 03/05/2023 às 21:23
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Tenente-coronel Mauro Cid era o principal ajudante de ordem do governo Bolsonaro - FOTO: DIDA SAMPAIO/Estadão Conteúdo

Preso preventivamente na Operação Venire, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, é apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como o responsável pelo esquema de fraude envolvendo a inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.

Para a PGR, o tenente-coronel "teria arquitetado e capitaneado toda a ação criminosa", sem conhecimento do ex-presidente da República.

Cid é investigado no inquérito das milícias digitais desde que ele foi aberto e é considerado peça-chave na apuração. O tenente-coronel foi preso no Setor Militar Urbano, em Brasília. Durante busca e apreensão na residência do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a Polícia Federal apreendeu US$ 35 mil e R$ 16 mil em espécie. Cid ficará detido numa unidade prisional militar.

Os investigadores identificaram a atuação de Cid na emissão do certificado de vacinação considerado "ideologicamente falso" de Bolsonaro. O comprovante do ex-presidente foi emitido pelo aplicativo ConecteSUS por um computador cadastrado no Palácio do Planalto. O cartão aponta que Bolsonaro teria recebido três doses da vacina contra a covid-19: uma Janssen e duas Pfizer, o que ele nega.

Segundo a PF, o computador usado para acessar o aplicativo em duas ocasiões, nos dias 22 e 27 de dezembro de 2022, pertence à Presidência da República.

A investigação indica que um terceiro acesso ao aplicativo foi feito no dia 30 de dezembro pelo celular de Cid. Para a PF, o ex-ajudante de ordens administrava a conta do ex-presidente no ConecteSUS. Isso porque o e-mail funcional do ex-assessor estava vinculado ao perfil.

Após gerar o primeiro certificado de vacinação, o endereço de e-mail foi trocado. Passou a constar endereço eletrônico pessoal do coronel do Exército Marcelo Câmara, ex-assessor especial da Presidência.

"A alteração cadastral pode ser atribuída ao fato de que Mauro Cid deixaria de assessorar Jair Bolsonaro a partir de 1.º de janeiro de 2023, passando tal função a ser exercida por outras pessoas, dentre elas, Marcelo Câmara", diz a PF.

Ainda de acordo com os policiais, Câmara viajou para Orlando em três oportunidades para acompanhar Bolsonaro. "Isso explicaria a mudança no cadastro do aplicativo ConecteSUS do ex-presidente, que deveria ficar a cargo de alguém que estivesse mais próximo, no caso, o assessor Marcelo Câmara", afirma a PF.

‘Faz-tudo’ de Bolsonaro

A atuação de Cid no governo Bolsonaro ganhou os holofotes depois que vieram à tona suas conversas no WhatsApp com o blogueiro Allan dos Santos, no inquérito aberto para investigar a organização e o financiamento de atos antidemocráticos.

O tenente-coronel também esteve envolvido no caso das joias sauditas avaliadas em R$ 16,5 milhões que a gestão Bolsonaro trouxe ilegalmente para o Brasil, como revelou o Estadão. O ajudante de ordens e "faz-tudo" do então presidente da República foi o primeiro a ser escalado para tentar resgatar os itens apreendidos pela Receita Federal.

Cid foi advertido mais de uma vez por colegas e superiores, quando era ajudante de ordens de Bolsonaro, de que precisava ser mais discreto para evitar ser prejudicado pela forma como atuava ao lado do então presidente.

Já no governo de Luiz Inácio Lula da Silva Lula, o tenente-coronel foi considerado o pivô da demissão do general Júlio César de Arruda, então comandante do Exército. Arruda deixou o cargo após resistir a exonerar Cid, que havia sido nomeado para chefiar o 1.º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia.

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