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Bolsonaro tinha 'plena ciência' de fraude, diz PF; ele nega participação

De acordo com relatório da PF, há provas de que Bolsonaro sabia da inserção fraudulenta dos dados de vacinação

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Publicado em 03/05/2023 às 21:31
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Bolsonaro fala sobre operação Venire, da Polícia Federal, que cumpriu mandado de busca e apreensão em sua residência - FOTO: WILTON JUNIOR/Estadão Conteúdo

A Polícia Federal afirmou em relatório da Operação Venire que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha "plena ciência" da fraude em sua carteira de vacinação. Em despacho no qual autorizou a ação, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), escreveu considerar "plausível, lógica e robusta" a hipótese de que o ex-chefe do Executivo, "de maneira velada", procurou "eventuais vantagens advindas da imunização, especialmente considerado o fato de não ter conseguido a reeleição".

Alinhada a interesses de Bolsonaro durante seu governo, a subprocuradora-geral Lindôra Araújo refutou a linha investigativa. Para ela, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid "teria arquitetado e capitaneado a ação criminosa, à revelia, sem o conhecimento e sem a anuência" do ex-presidente. Bolsonaro negou ter tomado vacina ou alterado seu cadastro. "Fico surpreso com a busca e apreensão na casa do ex-presidente para criar um fato", disse ele.

De acordo com relatório da PF, há provas de que Bolsonaro sabia da inserção fraudulenta dos dados de vacinação. A fraude, segundo a corporação, pode "ter sido realizada com o objetivo de gerar vantagem indevida para o ex-presidente relacionada a fatos e situações que necessitem de comprovante de vacina contra a covid-19". Bolsonaro e aliados sempre rejeitaram os imunizantes

Para os investigadores, os documentos teriam servido para burlar restrições sanitárias impostas por Brasil e Estados Unidos. No esquema, operado de Duque de Caxias, município fluminense governado por um aliado do ex-presidente, foram beneficiados sua filha Laura, de 12 anos, o tenente-coronel Cid, suas filhas, além dos assessores Max Guilherme e Sergio Cordeiro.

Segundo a PF, no dia 21 de dezembro, foram lançados no sistema do Ministério da Saúde registros de duas supostas doses em nome de Bolsonaro. As aplicações datam de agosto e outubro de 2022. Seis dias após o lançamento, os dados foram excluídos. Já o certificado de Laura foi emitido em inglês pelo aplicativo ConecteSUS no dia 27 de dezembro. No fim do ano, a família embarcou para os Estados Unidos.

Com base no relatório, Moraes afirmou ser "imprescindível" a realização das buscas e apreensões, além das prisões. A Procuradoria-Geral da República (PGR), em manifestação de Lindôra, deu parecer parcialmente favorável à ofensiva - não defendeu, por exemplo, que o endereço de Bolsonaro fosse vasculhado.

Para Moraes, relator do inquérito das milícias digitais, não seria "crível" o argumento de Lindôra de que Cid agiu sozinho no esquema. O ministrou afirmou que as provas colhidas "apontam um comportamento coordenado".

Bolsonaro falou sobre a operação da PF

Na frente de sua casa, em Brasília, Bolsonaro disse que o celular levado não tem senha porque não há nada a esconder. "Nunca me foi pedido cartão de vacina, não existe adulteração da minha parte", disse. "Não tomei vacina porque li a bula da Pfizer, só isso e mais nada."

À PF, Bolsonaro afirmou que não prestaria depoimento, que estava previsto para ontem. A decisão foi tomada em reunião com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Em comunicado, o dirigente partidário disse que o aliado "é uma pessoa correta, íntegra, que melhorou o País e procurava sempre seguir a lei". Segundo o assessor do ex-presidente, Fábio Wajngarten, só haverá oitiva após acesso ao processo. "Bolsonaro estará à disposição, como sempre esteve, das autoridades competentes."

Em comunicado, os advogados Paulo Amador da Cunha Bueno, Daniel Bettanio Tesser e Wajngarten afirmaram que o ex-presidente "nunca recebeu qualquer imunizante contra covid".

"Na constância de seu mandato, somente ingressou em países estrangeiros que aceitassem tal condição ou se dessem por satisfeitos com a realização de teste viral". Segundo eles, Michelle Bolsonaro se vacinou, mas Laura, não, em razão de "comorbidades".

Cartão de vacina estava sob sigilo

Bolsonaro havia imposto sigilo de um século sobre o seu cartão. O governo Luiz Inácio Lula da Silva pretende levantá-lo, mas aguarda apurações da Controladoria-Geral da União (CGU) em razão de inconsistências já identificadas no cadastro.

No Senado, Flávio Bolsonaro (PL-RJ) saiu em defesa do pai e falou em ação política. "Há uma tentativa orquestrada e declarada de assassinar a reputação do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro", disse.

Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que a operação contra Bolsonaro tem de ficar apartada da pauta econômica: "Não podemos misturar essas polêmicas com a pauta principal do País que é a pauta de crescimento". Para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a operação requer cuidado. "Não precisamos de acirramento político e social mais nesse país", disse à GloboNews.

Enquanto a operação era deflagrada pela manhã, Lula usou sua conta oficial no Twitter para interagir com usuários. "Bom dia e boa quarta-feira!", escreveu. À noite, a conta oficial do governo fez recomendações sobre vacinação antes de viajar ao exterior e, em tom de deboche, finalizou: "Tomar vacina, gostoso demais".

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