Em depoimento ontem à Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou envolvimento no esquema suspeito de fraudar cartões de vacina contra a covid-19 dele e de sua filha, Laura. A audiência durou cerca de quatro horas, na sede do órgão em Brasília.
Ao delegado Fábio Shor, o ex-presidente reafirmou que nunca se vacinou e que Laura também não foi imunizada, por orientação médica.
Ele declarou que, como chefe de Estado, não precisava do certificado para entrar nos Estados Unidos. Para os investigadores da Operação Venire, o objetivo das fraudes era burlar restrições sanitárias para viagens internacionais na pandemia.
Alvo da Venire no início deste mês, quando teve o celular apreendido, o ex-chefe do Executivo declarou que jamais pediu a manipulação de dados nos certificados de vacina e que desconhecia a fraude até a investigação vir a público.
Bolsonaro foi ainda questionado sobre seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, que foi preso preventivamente sob suspeita de envolvimento no esquema. O ex-presidente disse que eles nunca conversaram sobre cartões de vacina.
Indagado sobre quem tinha acesso à sua conta no aplicativo ConecteSUS - a plataforma foi usada por um computador registrado no Planalto para emitir cartões com dados falsos de vacina em nome de Bolsonaro -, o ex-chefe do Executivo relatou não saber usar o aplicativo e afirmou que Cid era quem administrava a conta. A investigação identificou um acesso ao perfil do ex-presidente pelo celular do coronel.
Bolsonaro disse, porém, desconhecer quem acessou o computador do palácio e afirmou que não acredita na participação de Cid nas fraudes.
Em relação a conversas sobre um golpe de Estado mantidas por Cid, pelo ex-major Ailton Barros - também preso na Venire - e pelo coronel Elcio Franco, ex-número 2 do Ministério da Saúde, Bolsonaro declarou que não tomou conhecimento dos diálogos.