Governabilidade

Câmara tem dado sinais claros de amadurecimento, mas 'combustível está acabando', diz Lira

Lira se reuniu a sós na manhã desta segunda com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, diante da crise na articulação entre governo e Congresso

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Publicado em 05/06/2023 às 22:38
PAULO SÉRGIO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Lira lembrou a Lula que a Câmara mandou vários recados nos últimos dias - FOTO: PAULO SÉRGIO/CÂMARA DOS DEPUTADOS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia prometido resolver os problemas na articulação política do governo com o Congresso no início de maio, mas só depois de ter passado por um sufoco na Câmara, na semana passada, resolveu promover um "aggiornamento" político.

Foi justamente nessa toada a conversa ontem entre Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O petista não pretende fazer uma ampla reforma ministerial, mas, nos bastidores, já admite a necessidade de mudanças "pontuais" na equipe que devem atingir principalmente o União Brasil. Mesmo assim, não dá prazo para as trocas.

Lula não gostou de saber que o empresário Fernando Fialho, sogro do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, tem usado o gabinete do genro para despachar, como revelou o Estadão. O presidente já havia conversado com o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), na semana passada, para reavaliar as indicações do partido na Esplanada.

Além de Juscelino, que pode ser substituído, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, também está na lista. Daniela pode não sair do governo, mas deve mudar de repartição.

Ela já pediu a desfiliação do União Brasil e tudo indica que migrará para o Republicanos, partido que tende a ganhar espaço na Esplanada. O deputado Celso Sabino (PA), aliado de Lira, é cotado para assumir Turismo ou outro ministério hoje na cota do União Brasil, que mantém três pastas.

RECADOS DE LIRA PARA LULA

Durante o encontro no Palácio da Alvorada, Lira disse que o presidente precisa arrumar a base aliada porque "o combustível está acabando". Vários recados foram dados nos últimos dias. Um deles foi durante a análise da medida provisória que reestruturou a Esplanada, quando os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas foram desidratados.

O outro mostrou a força da bancada ruralista, que conseguiu aprovar na Câmara o marco para demarcação das terras indígenas, a contragosto do Palácio do Planalto.

Na prática, Lula está pressionado pelas próximas votações. Há medidas provisórias que, se não forem aprovadas pelo Congresso, perdem a validade neste mês. A que tem mais urgência é a do Minha Casa, Minha Vida. Além disso, a reforma tributária entrará agora na pauta e o arcabouço fiscal e o Marco do Saneamento estão no Senado.

O encontro no Alvorada, que começou por volta de 8h, não constou da agenda oficial de Lula e sua extensão levou ao adiamento de outros compromissos, como a reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Para além dos problemas na articulação, a relação entre Lula e Lira ficou mais tensa após a Polícia Federal deflagrar operação contra aliados do presidente da Câmara (mais informações nesta página), o que levou o ministro da Justiça, Flávio Dino, a ir à residência oficial do alagoano para conter a escalada da crise. Para interlocutores do deputado, a PF teria agido para atingi-lo.

Embora o maior empenho de Lira seja para retomar o controle da distribuição de emendas parlamentares do antigo orçamento secreto, aliados do deputado no Centrão pressionam por espaço no governo.

Querem o Ministério da Saúde, comandado por Nísia Trindade, que não é filiada a nenhum partido. A Saúde já foi, por muitos anos, feudo político do PP de Lira. Dificilmente, porém, Lula entregará esse cargo, considerado estratégico por ele.

Lira tem, ainda, uma antiga divergência com Renan Calheiros (MDB-AL), agravada depois que o senador publicou no Twitter posts ofensivos ao deputado. Apesar de ter negado, o presidente da Câmara fez chegar à Casa Civil e à Secretaria de Relações Institucionais que não admitia ver um aliado de primeira hora do governo o atacando daquela forma e pediu a demissão do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL).

‘TÉCNICO E POLÍTICO’

Por variados motivos, potenciais mudanças na Esplanada estão no radar de Brasília. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), cobrou que ministros entreguem votos de suas legendas no Congresso em projetos de interesse do Executivo.

"Ninguém quer ministro só técnico. Todo mundo é técnico e político. Bom desempenho é, primeiro, entregar o que a pasta demanda. Em segundo, é entregar relação política", disse Wagner no Planalto.

"Cada ministro representa um ou um conjunto de partidos. Se essa relação sofrer abalo, digo entre ministro ou quem representa, aí pode ser sugerida uma troca."

 

 

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