O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai abrir espaço para o grupo de Arthur Lira (PP-AL) no primeiro escalão do governo. A garantia foi dada nesta sexta-feira,16, por Lula, em reunião com o presidente da Câmara, no Palácio da Alvorada. Na conversa, Lula se comprometeu a tratar do assunto no retorno de sua viagem internacional.
Uma ala do PP, partido de Lira, quer comandar o Ministério da Saúde. Lula resiste a entregar a pasta, hoje ocupada por Nísia Trindade, mas admite ceder cargos nessa estrutura.
Além disso, o presidente decidiu substituir a ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União-RJ) pelo deputado Celso Sabino (União-PA), aliado de Lira. Lula e Sabino vão se encontrar neste sábado, 17, em Belém (PA).Para justificar a troca, o governo usa o argumento de que Daniela já pediu a desfiliação do União Brasil, partido que hoje comanda três ministérios. Aliados de Lira observam, no entanto, que a mudança envolve uma pasta com orçamento pequeno, o Turismo, e cobiçam espaço maior no primeiro escalão.
Em mensagens publicadas no Twitter após o encontro desta sexta, Lira afirmou que esteve no Palácio da Alvorada, a convite de Lula, para discutir pautas destinadas ao crescimento do País, especialmente a reforma tributária e o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). "Não se falou de mudanças no Ministério do presidente Lula", escreveu o presidente da Câmara
Medidas Provisórias
Lira disse ter ouvido de Lula a intenção de reduzir o envio de Medidas Provisórias, definidas por ele como "um anseio do Congresso Nacional". Foi o segundo encontro entre os dois en 11 dias.
Após ameaçar não pautar projetos de interesse do Palácio do Planalto enquanto o governo não resolvesse o problema da articulação política, Lira adotou tom conciliador no Twitter. Disse que a reunião entre ele e Lula ocorreu agora porque os dois vão viajar e ficariam cerca de 15 dias sem se encontrar. O presidente tem compromissos na Itália e na França, na próxima semana, e Lira estará em Portugal, a partir de quarta-feira, 21
"Tratamos do bom momento da economia brasileira, a intenção de trabalharmos juntos pelo país, e as recentes aprovações de matérias pela Câmara dos Deputados com esse objetivo", destacou o deputado.
Horas antes, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o governo fará uma força-tarefa com o objetivo de destravar nomeações para cargos nos Estados e monitoramento semanal. Pelos seus cálculos, há 403 indicações pendentes, feitas por partidos, que não foram nem inseridas pelos ministérios no Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc).
"Mas a composição partidária não está em discussão em relação ao Ministério da Saúde. Há outros ministérios que foram discutidos com a composição partidária, que é parte da democracia. O Ministério do Turismo é um exemplo disso", afirmou Padilha, um dos fiadores de Nísia Trindade no governo.
Ainda nesta sexta-feira, 16, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, visitou Lira na residência oficial da Câmara. Na quinta-feira, 15, foi a vez de o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, conversar com o presidente da Câmara.
O "beija-mão" não foi à toa. Em seis meses de gestão, Lira conseguiu transformar Lula em refém de sua agenda. Com apenas 140 votos da esquerda e o espectro político de centro dividido, sem dar segurança nas votações, o governo não consegue aprovar nenhum projeto de lei se não tiver apoio do Centrão.
Em conversa com Rui Costa, na quarta-feira, 14, o líder do União Brasil, Elmar Nascimento, disse que o governo precisa atender o chamado "blocão" nas trocas ministeriais para ampliar sua base de sustentação na Câmara. Ao Estadão/Broadcast, Elmar afirmou apenas ter relatado ao ministro a necessidade de o governo corrigir falhas na articulação política. "Para bom entendedor, meia palavra basta", disse ele.
O Centrão liderado por Lira se movimenta há algumas semanas para controlar o Ministério da Saúde, que foi por muito tempo feudo político do PP e tem um orçamento de R$ 188,3 bilhões neste ano. "Se o Rui Costa pensa que só atender o União Brasil resolve, ele está enganado", afirmou à reportagem um deputado do Centrão, sob a condição de anonimato.
Na prática, o PP mudou de estratégia para conseguir o comando da Saúde. O partido fez chegar ao governo que poderia apadrinhar um nome "técnico" para a pasta. A ideia é indicar alguém do setor, e não mais um político, como forma de reduzir a resistência de Lula. Uma ala da bancada, porém, defende a nomeação do deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), que também é médico.
A atual ministra Nísia Trindade, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), não é ligada a nenhum partido e deputados têm reclamado da falta de interlocução com ela, até mesmo do PT. Há queixas, ainda, de demora na liberação de emendas parlamentares por parte do Ministério da Saúde.