Lula cancela jantar com príncipe saudita que deu joias a Bolsonaro
O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman Al Saud, iria oferecer um jantar, em Paris, para o Presidente da República
Da Estadão Conteúdo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou, com poucas horas de antecedência, um jantar em sua homenagem que seria oferecido ontem em Paris pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman Al Saud. Segundo a Presidência da República, os motivos foram a extensão das agendas de Lula na cidade e o cansaço físico. Como revelou o Estadão em março, o príncipe deu o conjunto de joias milionárias que o governo de Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o Brasil, em 2021.
O cerimonial da Presidência telefonou para os sauditas para pedir desculpas pelo cancelamento e agradecer a homenagem. Lula também deixou em aberto a possibilidade de um novo encontro, assim que houver oportunidade.
O príncipe Bin Salman é acusado de ordenar o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, crítico do regime de sua família, a Casa de Saud, num consulado do país na Turquia, em 2018. Lula se encontraria com o herdeiro saudita um dia depois de reclamar de falta de solidariedade com o jornalista Julian Assange.
O fundador do WikiLeaks está preso, alvo de 18 acusações nos Estados Unidos por revelar documentos confidenciais, principalmente na área militar.
O encontro do presidente brasileiro com Bin Salman era considerado delicado politicamente por integrantes do governo e repercutia mal nas redes sociais. O presidente francês, Emmanuel Macron, sofreu fortes críticas por ter recebido o príncipe saudita na semana passada.
SAIA-JUSTA
Além disso, havia o risco de uma saia-justa provocada por eventuais presentes de Bin Salman. Bolsonaro recebeu de presente do regime saudita três conjuntos de joias, incluindo um Rolex de diamantes. Um dos pacotes foi retido no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, após uma comitiva do então presidente tentar entrar com as joias no País sem declarar os itens ao Fisco. Após a apreensão, Bolsonaro atuou pessoalmente para tentar liberar o conjunto de joias e relógio de diamantes. Ele também acionou três ministérios para forçar a liberação dos itens. O caso virou alvo de investigação no Brasil.
Como mostrou a Coluna do Estadão, a comitiva de Lula havia recebido um reforço na orientação para seguir estritamente a lei. Ou seja, rejeitar peças que ultrapassassem o valor determinado pela legislação brasileira, e registrar imediatamente para envio ao acervo da União se fosse recebido algum bem mais valioso.
CASTELO
Lula iria a uma residência dos Saud com a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e também havia convidado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para o encontro, por causa do poder de investimentos de fundos soberanos sauditas.
A Presidência da República não havia informado o local exato do banquete. A agenda dizia apenas "Residência Oficial do Reino da Arábia Saudita em Paris", mas não se tratava da embaixada ou do consulado do país. Fontes do governo falaram que a casa, privada, fica longe do centro de Paris, a cerca de uma hora de distância de carro.
A residência dos sauditas é o Château Luís XIV, castelo construído em Louveciennes, por um primo de Jamal Khashoggi. A propriedade é considerada a mais cara do mundo e teria custado ao príncipe Bin Salman cerca de US$ 300 milhões, em 2015.