Cerca de 1.500 integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) voltaram a invadir, no final da tarde deste domingo (30), um centro de pesquisas da Embrapa Semiárido, órgão ligado ao Ministério da Agricultura e Pecuária, em Petrolina, Sertão pernambucano. De acordo com o movimento, a decisão foi tomada porque o governo Lula não cumpriu a promessa de destinar áreas para assentar as famílias acampadas na região. A negociação aconteceu durante a onda de invasões em abril deste ano, como parte do "Abril Vermelho", a jornada de manifestações do movimento. A área foi liberada no fim da tarde desta segunda-feira (31).
A nova invasão aconteceu na véspera da abertura do Semiárido Show, um dos eventos mais importantes da região, usado para repasse de tecnologias aos pequenos agricultores do semiárido. A abertura está prevista para esta terça-feira (1º), na área de exposições que tinha sido totalmente ocupada pelos sem-terra. O MST informou que, desde as negociações para a desocupação em abril, não houve avanço nos acordos, que ficaram estagnados.
INVASÕES DO MST E O GOVERNO LULA
As invasões do MST em abril já haviam causado problemas para o governo, afastando o Planalto da Agrishow, maior evento do agronegócio na América Latina, em São Paulo. O ministro da Agricultura e Abastecimento, Carlos Fávaro, chegou a ser "desconvidado" da abertura da feira após ter sido informado pelos organizadores que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria presente.
Como reação, a bancada ruralista no Câmara conseguiu apoio para a instalação de uma CPI do MST. As oitivas da comissão será retomadas nesta semana, com o depoimento do ex-ministro do GSI do governo Lula G.Dias. Ele será ouvido nesta terça-feira, na condição de testemunha. O presidente da CPI que investiga o movimento, deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), classificou as ações do grupo como um "deboche". Segundo ele, o governo é "conivente" com as ações do MST.
OCUPAÇÃO DA EMBRAPA EM PERNAMBUCO
A reocupação da área da Embrapa em Pernambuco foi decidida em assembleia. "Nós elegemos o governo Lula e precisamos que o ministério cumpra seu papel em atender as demandas da reforma agrária e possam cumprir as políticas voltadas para os movimentos sociais e não somente servir os interesses do agronegócio", disse Jaime Amorim, da direção estadual do MST no Estado. Segundo o movimento, havia sido prometido que parte dos dois mil hectares da fazenda da Embrapa seria destinada para assentar famílias.
O governo também teria se comprometido, segundo o movimento, a levantar áreas de outros órgãos federais, como a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale de São Francisco) e do Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra a Seca) para fazer assentamentos. Também prometeu reativar a superintendência do Incra de Petrolina.
"O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) rompeu com todos os acordos e tenta fazer o Semiárido Show sem cumprir o que foi acordado. Não queremos atrapalhar o Show, mas ao mesmo tempo não vamos permitir que seja realizado se não for cumprido o mínimo do mínimo para que a gente possa organizar as coisas e as famílias possam ser assentadas", disse.
SEMIÁRIDO SHOW
A área invadida pelo MST é utilizada para a instalação de experimentos de produção em ambientes com escassez de água e para a multiplicação de material genético de sementes e mudas de cultivares lançados pela empresa. Já o Semiárido Show, segundo divulgação da Embrapa, é uma grande feira de inovação tecnológica voltada para a agricultura familiar do Semiárido brasileiro. O objetivo é facilitar o acesso a conhecimentos, informações e tecnologias desenvolvidos pela Embrapa e instituições parceiras. O evento vai até o dia 4.
A Embrapa Semiárido confirmou a invasão das instalações pelos sem-terra e disse que vai tomaria as medidas judiciais necessárias para a reintegração na posse da área.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) também tomou conhecimento da ação.
REPÚDIO À REOCUPAÇÃO DA EMBRAPA
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) repudiou a nova invasão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em área da Embrapa.
"A estratégia atual de invadir terras do INCRA e da Embrapa, como acontece em Petrolina (PE) e Hidrolândia (GO), não diminui o crime, ao contrário, expõe a segurança dos criminosos no governo federal, que diz manter diálogo com o MST", criticou a frente.
"A invasão em questão não é apenas um atentado à propriedade privada, mas a cada cidadão brasileiro. Trata-se de área preservada de uma das mais importantes e emblemáticas empresas brasileiras, referência mundial de pesquisa e tecnologia", acrescentou.