Dividido entre independência e adesão, PP aprova nova agenda
Entre os 11 pontos, o PP começa destacando o "respeito à Constituição Federal e à segurança jurídica".
Seis dias depois de parte de sua bancada aderir ao governo com a entrada de André Fufuca (MA) no Ministério do Esporte, a cúpula do PP aprovou uma agenda central que torna explícito o dilema do partido: no papel, proclama independência, mas, na prática, se aproxima do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Produzido sob a coordenação da senadora Tereza Cristina (MS), que é cotada até como candidata à Presidência, em 2026, o documento foi batizado de Agenda Central. O texto lista uma série de princípios que o partido considera "inegociáveis" ou "cláusulas pétreas". De acordo com a senadora, esses compromissos "nortearão as ações e políticas" da legenda.
Embora haja pontos que se coadunam com o discurso do governo, como a defesa do desenvolvimento econômico sustentável, com estabilidade financeira caminhando ao lado de justiça social e redução da pobreza, a sigla se posiciona na centro-direita, com princípios contra o aumento de impostos, em defesa da liberdade econômica e indicações contra o aborto, por exemplo.
O novo ministro do Esporte, André Fufuca - que entrou na Esplanada na cota do PP, substituindo Ana Moser -, não compareceu, anteontem, na reunião da Executiva Nacional do partido. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também não Líder do Centrão, Lira faz parte da comitiva que acompanhou Lula na viagem a Nova York para a Assembleia-Geral da ONU.
O secretário-geral do PP, Aldo da Rosa, disse que, a partir de agora, encaminhará aos Estados a proposta de candidatura própria do partido ao Planalto. Nesse momento, um clima de campanha invadiu a reunião da cúpula do PP. "Tereza, Tereza, Tereza", gritaram alguns dirigentes, apresentando o nome da senadora, que foi ministra da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro (PL).
ÓLEO E ÁGUA
Nas redes sociais, o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), exaltou a resolução e postou uma foto de água e óleo, que não se misturam. A publicação foi feita no momento em que Lira se aproxima cada vez mais do governo ao patrocinar a entrada de parte da bancada na base do Executivo.
Na postagem, o dirigente afirma que o partido pode até mesmo fechar questão nas convicções centrais expostas no documento, o que abriria espaço para punição de integrantes do PP que votassem com o governo em alguns desses temas sem a concordância da legenda.
"São a nossa essência, o que nos fazem sermos o que somos. A nossa identidade para dizer, em última instância: água e óleo não se misturam! Em nossas convicções centrais, fecharemos até questão. Seremos uma só voz", resumiu.
CIRO NOGUEIRA
Ciro Nogueira, ex-aliado de Lula que se tornou ministro da Casa Civil de Bolsonaro, tem sido um dos principais críticos da aproximação do PP com o governo. Ele faz críticas quase diárias a Lula e à gestão petista nas redes sociais e teria desaconselhado Fufuca a assumir o Ministério do Esporte.
Entre os 11 pontos, o PP começa destacando o "respeito à Constituição Federal e à segurança jurídica". O partido, que já viu no passado integrantes da legenda envolvidos em acusação de aparelhamento e corrupção em estatais, aponta defender a gestão profissional das empresas que pertencem ao Estado.
"Enxergamos um futuro onde as empresas estatais são regidas por mérito e competência, alinhadas à uma gestão transparente e voltada para resultados", afirma a sigla no documento, complementando que "esta abordagem elimina o espaço para práticas corruptas, indicações políticas e desperdício de dinheiro público".