Resolução do PT equipara ataques do Hamas à reação do Estado de Israel
A resolução convoca os militantes "a participar das atividades em defesa da paz, em defesa da solução dos dois Estados (Palestina e Israel)"
O diretório nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) publicou nesta segunda-feira (16) uma resolução sobre o conflito entre o grupo terrorista Hamas e Israel, tratando com equivalência os ataques da organização e a reação do governo israelense. Apesar da pressão que o governo tem sofrido para declarar o grupo paramilitar como organização terrorista, o documento do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou a defesa que a sigla faz dos palestinos, pediu o fim da guerra na região e o respeito à soberania dos dois Estados envolvidos diretamente no conflito.
"Condenamos os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realiza, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra", diz o documento.
A resolução convoca os militantes "a participar das atividades em defesa da paz, em defesa da solução dos dois Estados (Palestina e Israel) e em defesa dos direitos do povo palestino a uma vida pacífica e com soberania nacional".
Além disso, o documento reforça que a sigla possui relações partidárias com organizações que lutam pelas demandas dos palestinos. O texto menciona a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e a Autoridade Nacional Palestina em Ramallah, cidade da Cisjordânia a cerca de 20 quilômetros de Jerusalém.
"O PT apoia, desde os anos 1980, a luta do povo palestino por sua soberania nacional, bem como a Resolução da ONU pela constituição de dois Estados Nacionais, o Estado da Palestina e o Estado de Israel", diz o texto. Leia a íntegra da nota no final.
A relação entre o governo Lula e a guerra em Israel tem sido alvo de frequentes críticas da oposição, que acusa o petista e seus correligionários de leniência com o grupo terrorista Hamas. A primeira nota do Itamaraty sobre a morte de brasileiros no confronto não mencionou a organização e, na Câmara dos Deputados, há articulações para pressionar o governo a classificar o Hamas como terrorista.
O Ministério da Saúde palestino divulgou nesta segunda que desde o dia 7 de outubro 2.329 pessoas morreram nos conflitos e há corpos sendo armazenado em caminhões de sorvete, pela falta de espaço. Segundo Israel, há 126 pessoas mantidas como reféns pelo Hamas. Há brasileiros nesse grupo.
RESOLUÇÃO CONTRARIA PEDIDO DE LULA
Há resistência entre membros do governo e entre a militância do PT em ceder à pressão para classificar o Hamas como grupo terrorista. Na Esplanada dos Ministérios, o único a aderir à nomenclatura é André Fufuca (Esporte), que ingressou no governo pela reforma ministerial que demitiu Ana Moser da pasta.
Em 2021, os ministros Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) assinaram uma nota, com parlamentares petistas, contra a classificação do Hamas como terrorista.
Como mostrou a Coluna do Estadão, a resolução divulgada nesta segunda pelo diretório nacional do PT contraria apelos feitos pelo presidente, municia a oposição e aumenta o desgaste que o governo tem enfrentado por causa da guerra em Israel. Lula solicitou aos correligionários que se afastem do conflito em Israel e foquem na pauta econômica.
Além da oposição, o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin, base aliada do governo, tem cobrado uma posição mais enfática de Lula "Não consigo, sinceramente, entender o fato de o nosso governo não classificar o grupo Hamas como grupo terrorista. Que outra atrocidade ele precisaria praticar para receber esse carimbo?", disse à Coluna o presidente da sigla, Carlos Siqueira.
VEJA A RESOLUÇÃO
Resolução sobre a situação na Palestina e Israel
O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, reunido no dia 16 de outubro de 2023, aprovou a seguinte resolução sobre a situação na Palestina e Israel:
O PT apoia, desde os anos 1980, a luta do povo palestino por sua soberania nacional, bem como a Resolução da ONU pela constituição de dois Estados Nacionais, o Estado da Palestina e o Estado de Israel, garantindo o direito à autodeterminação, soberania, autonomia e condições de desenvolvimento, com economia viável para a Palestina, buscando a convivência pacífica entre os dois povos;
O PT historicamente mantém relações partidárias unicamente com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), assim como com a Autoridade Nacional Palestina sediada em Ramallah;
O PT condena, desde sua fundação, todo e qualquer ato de violência contra civis, venham de onde vierem. Por isso, condenamos os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realiza, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra;
O PT parabeniza os esforços empreendidos pelo Governo brasileiro, sob a condução do Presidente Lula, voltados à repatriação rápida de brasileiros na região do conflito e pelo acesso à ajuda humanitária na região da Faixa de Gaza, com a retirada dos bloqueios impostos por Israel que impactam diretamente a população civil, além do pronto restabelecimento do fornecimento de água, energia elétrica, alimentos, medicamentos e combustíveis na região, bem como a defesa da imediata libertação dos reféns civis israelenses.
O PT manifesta apoio à atuação do Brasil, inclusive no Conselho de Segurança da ONU, em linha com a tradição diplomática brasileira, em prol de um cessar-fogo imediato e pelo cumprimento das resoluções da ONU, especialmente as que garantem a existência do Estado da Palestina e uma relação pacífica com Israel;
O PT alerta contra os riscos de uma escalada do conflito. O mundo não precisa de mais guerras. O mundo precisa de paz;
O PT convoca sua militância a participar das atividades em defesa da paz, em defesa da solução dos dois Estados (Palestina e Israel) e em defesa dos direitos do povo palestino a uma vida pacífica e com soberania nacional.
Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
Brasília, 16 de outubro de 2023