BALANÇO DE GOVERNO

Após arrumar a casa em 2023, Raquel Lyra promete acelerar ações em 2024

Governadora Raquel Lyra acredita que 2024 será ano de avanços, após dedicar capacidade de gestão para arrumar a casa

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Adriana Guarda

Publicado em 06/12/2023 às 21:29
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O primeiro ano da gestão Raquel Lyra (PSDB) foi dedicado a "arrumar a casa". O diagnóstico de quase 900 páginas, apresentado como marco dos 100 dias de governo, sinalizou que a "faxina" seria pesada. Nesta quarta-feira (6), participando de debate na Rádio Jornal, a governadora de Pernambuco fez um balanço de seus 12 primeiros meses no comando do Palácio do Campo das Princesas e projetou os próximos três anos. A expectativa é que depois de organizar a desarrumação encontrada, a partir de 2024 as ações de seu plano de governo possam acelerar. 

Se a eleição de 2022 foi desafiadora e sofrida, marcada pela morte de seu marido e por uma disputa política atípica no Estado, o ano de 2023 não foi diferente. Raquel Lyra enfrentou vários desafios: de ser a primeira mulher eleita a ocupar o cargo de governadora de Pernambuco, de quebrar uma hegemonia de 16 anos consecutivos do PSB no posto, de reverter a postura de neutralidade nas eleições e não ter alinhamento político com o presidente eleito (Lula) e de afinar relações com a Assembleia Legislativa (Alepe). 

Além disso, a governadora encontrou um Estado com baixa taxa de investimento, que aplicava pouco nas mais diversas áreas. O resultado foi um déficit na prestação de serviços oferecidos à população na saúde, educação, segurança, mobilidade e infraestutura. 

"A gente trabalhou o ano inteiro para arrumar a casa. Estamos trabalhando para fazer a mudança que Pernambuco quer e precisa e essa mudança vai estar muito clara, não tenho dúvida nenhuma, de maneira ainda mais acelerada no ano que vem. Vamos conseguir colocar em prática ações que já estamos realizando, mas com maior escala", acredita.  

O INÍCIO DA MUDANÇA É SEMPRE MAIS DIFÍCIL

"A gente pegou um Estado muito endividado. Só este ano nós já pagamos R$ 1,6 bilhão de dívidas anteriores. Recebemos Pernambuco com as contas desequilibradas e pagamos uma dívida de R$ 350 milhões logo na virada do ano.Trabalhamos esse tempo para garantir o reposicionamento do Estado. Isso significa ajustes nas contas, no propósito e nas prioridades para poder dar a cara do que será o governo de Pernambuco ao longo desses quatro anos que fomos eleitas para liderar o Estado", destaca Raquel.

A governadora sinalizou que a gestão conta com R$ 3,5 bilhões em caixa garantidos para investimento em Pernambuco, nas áreas de segurança, saúde e infraestrutura. Já na área de saúde são mais R$ 3 bilhões e está em fase de captação mais R$ 1 bilhão para a Compesa. "Esse dinheiro vai começar a chegar na vida de quem mais precisa. A partir daí, conseguimos concretizar quais são os propósitos das nossas ações e possibilitamos transformar o sonho das pessoas em realidade", afirma.

Durante o debate, Raquel também falou sobre política e detalhou ações previstas para as áreas de saúde, educação, mobilidade, recursos hídricos e infraestrutura.  

RELAÇÃO POLÍTICA COM LULA, ALEPE E JOÃO

Desde que assumiu a gestão, Raquel Lyra reforçou a ponte aérea com Brasília, em busca de apoio do governo Lula aos projetos de Pernambuco. "Nós nos comprometemos de na primeira semana de governo, estarmos junto ao presidente da República, que fosse legitimamente eleito pelo povo brasileiro e assim foi feito. A nossa primeira reunião com o Governo Federal aconteceu no dia 9 de janeiro. De lá pra cá, eu já estive pessoalmente em Brasília quase 30 vezes. E às vezes, duas vezes na mesma semana", disse Raquel Lyra. 

"O meu time está o tempo inteiro em Brasília, construindo relação com o Governo Federal, porque Pernambuco sofreu muito por não dialogar com o governo federal nos últimos anos. E a gente fez exatamente o contrário. No dia 15, já foi a nossa primeira reunião de trabalho com o presidente Lula e seus ministros", complementa a gestora.

Esse posicionamento permitiu que Pernambuco tivesse muitos de seus projetos contemplados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que o presidente Lula tomasse decisões políticas importantes a favor do Estado, como a retomada das obras da Transnordestina no trecho Salgueiro-Suape, além da intervenção para que o Polo Automotivo de Pernambuco tivesse incentivos fiscais prorrogados de 2025 para 2032. 

Durante o debate, questionada sobre a relação do governo com a Alepe, a tucana evitou polemizar. "Temos uma relação muito republicana com a Assembleia Legislativa, de muito diálogo, de muita conversa, para que a gente possa ir colocando as nossas prioridades. Trazer para junto os representantes legítimos do povo de Pernambuco que estão na Assembleia Legislativa é um grande exemplo do que a gente vem conseguindo construir", declara a gestora. 

Na prática, vêm acontecendo alguns desacertos. Em certos episódios, os parlamentares pontuaram a falta de abertura para conversas com a gestora estadual, o que acaba atrapalhando o andamento de alguns projeto em Pernambuco. Em setembro, Raquel sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com vetos às emendas dos parlamentares. Na época os deputados declararam que houve diversas tentativas de acordo, mas a governadora não estava aberta ao diálogo, com isso a Casa Legislativa derrubou os vetos dela à LDO.

No mês de novembro, o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco apontou inconsistência no valor previsto no Projeto de Lei Orçamentária Anual para 2024. De acordo com TCE faltava R$ 1,1 bilhão no valor total do orçamento. A redução afetava diretamente na previsão da parcela da receita do Fundo de Participação do Estado (FPE) para o próximo ano. O Tribunal tentou dialogar com Raquel, mas segundo eles, ela não estava aberta ao diálogo. Diante disso, a instituição procurou a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e foi constatada a falta do valor. 

Sobre como se dá o diálogo com a gestão da capital, ela afirmou que há conversas e ações em conjunto com a prefeitura, mas evitou citar o nome de João Campos.

APOSTA EM MATERNIDADES NA ÁREA DA SAÚDE

Raquel Lyra lembrou que várias áreas do Estado não recebiam investimento há muito tempo e que algumas ações já foram realizadas este ano, mas que deverão avançar em 2024. Na saúde, a chefe do Executivo destacou que 95% da população usa o sistema público de saúde e sente na pele o caos nos hospitais do Estado. A governadora diz que conseguiu garantir uma primeira leva de empréstimo no valor de R$ 600 milhões e que a prioridade foi iniciar a reforma do Hospital da Restauração. Desde janeiro foram entregues 320 novos leitos e que existe uma orientação de distribuir as vagar na RMR e no interior. 

"A gente vai inaugurar, no primeiro trimestre do ano que vem, o Hospital da Mulher do Agreste Pernambucano, em Caruaru, garantindo a descentralização do atendimento materno e materno infantil com qualidade no nosso Estado. Fizemos um diagnóstico e ele indicou que todos os dias as mães de Pernambuco andam 33.000 km para ter seus filhos. Nos comprometemos a construir cinco novas maternidades, a primeira em Caruaru e as outras quatro já têm lugar certo para construção em Ouricuri, Serra Talhada, Petrolina e Garanhuns", detalha.

EDUCAÇÃO VOLTA A RECEBER INVESTIMENTOS

Na educação, a governadora afirma que Pernambuco vai viver agora um nível de investimento que há décadas não se vê no Estado. "Vamos melhorar nossos indicadores para que as pessoas possam ter oportunidade de ser parte do desenvolvimento de Pernambuco. A gente começou o Juntos pela Educação primeiro garantindo investimento de R$ 5,5 bilhões dos quais R$ 2,8 bilhões é para parceria com os municípios. Isso parece uma coisa distante, mas a gente já começou a fazer essa parceria com eles. Já entregamos 180 ônibus para que as prefeituras possam garantir o direito transportar e o menino chegar na escola", observa. 

Uma das metas do Plano de Governo de Raquel na educação é tirar Pernambuco do primeiro lugar no ranking de pior cobertura de creche e educação infantil do Brasil. A previsão é construir 240 novas creches, abrindo 60 mil vagas no Estado. O programa é realizado em parceria com os municípios. 

SEGURANÇA COMO PRIORIDADE

Raquel garante que, graças a uma mudança nas prioridades do Estado, serão destinados investimentos da ordem de R$ 1 bilhão na segurança pública. "Houve um desinvestimento nas polícias de Pernambuco e nas Forças operacionais muito grande ao longo dos últimos anos. A gente não chegou por acaso ao patamar de ser o Estado mais violento do Brasil, é porque houve sim uma negligência muito forte do governo anterior", critica. O Juntos pela segurança prevê uma série de ações, mas uma das destacadas pela governadora é melhorar a superlotação no sistema carcerário. 

A gestora pontuou que o sistema carcerário tem um déficit de 16 mil vagas no Estado. São 31 mil presos e 15 mil vagas. O novo plano de segurança pública prevê a construção de quase 7.500 novas vagas. Raquel adianta que em Araçoiaba já foram abertas mais 3 mil vagas. 

DEMANDA POR INFRAESTRUTURA É IMENSA

Na conversa com os jornalistas do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, a governadora sobre a importância de concluir e executar novas obras de infraestrutura. Sobre os projetos rodoviários do Estado, a gestora criticou pacotes de obras que não eram estatais e não tinham recursos garantidos. Neste primeiro ano de governo ela diz que o trabalho foi identificar problemas nos contratos e nos projetos para relançá-los.

"Depois de identificar os problemas, começamos a procurar dinheiro. Conseguimos a garantia para o empréstimo que Pernambuco obteve no valor de R$ 3,4 bilhões, em conjunto com a Caixa e o Banco do Brasil”, ressalta. 

Comentando sobre a mobilidade da população e as constantes dificuldades enfrentadas pelo Metrô do Recife, Raquel sugeriu entregar a administração do sistema à iniciativa privada, por meio de concessão. “A minha colocação é que a gente precisa de recursos para recuperar o Metrô do Recife e é agora. Antes mesmo de pensar se ele vai ficar com o Estado ou com o governo federal. Mas, se o governo federal não tem esses recursos, que a gente possa ir buscar na iniciativa privada, através de um modelo de concessão pública, uma PPP, por exemplo. Essa é uma das possibilidades: ir em busca do recurso privado”, afirma.

A chefe do Executivo estadual também lembrou a importância da infraestrutura como fator de competitividade e adiantou que a licitação do Arco Metropolitano, que deveria acontecer neste mês de dezembro, vai ficar para o primeiro trimestre de 2024. "Vamos lançar o Arco Metropolitano. Era para ser em dezembro, mas vai ficar no primeiro trimestre do ano que vem. A obra tem valor de R$ 1,3 bilhão, sendo 650 milhões nosso e R$ 650 milhões do governo federal. Será licitado aquele trecho que sai da BR-232 e vai até o Cabo de Santo Agostinho", explica.

MULHER E GOVERNADORA

Primeira mulher a assumir o governo de Pernambuco, Raquel Lyra diz que ainda serão necessárias muitas gerações para se ter aceitação de uma liderança política neste lugar. "Eu e Priscila somos o primeira dupla de mulheres no País a governar um Estado. A gente tem um jeito diferente de fazer as coisas, sob a perspectiva do olhar de uma mulher. Eu tenho certeza de que as nossas decisões e prioridades passam também por isso. A questão das creches, das maternidades e o programa Mães de Pernambuco são exemplos. 

Em tramitação na Assembleia Legislativa, o Mães de Pernambuco vai garantir uma renda extra de R$ 300 para 100 mil mães de crianças de 0 a 6 anos, que estão em situação de extrema pobreza.

MUDAR A VIDA PARA MELHOR

Em sua mensagem final ao póvo pernambucano, a governadora espera que os investimentos possam chegar na vida das pessoas. "Estamos trabalhando para as pessoas que a gente não conhece pelo nome. É por elas que a gente se levanta todo dia bem cedo e dorme bem tarde. E eu não quero conhecê-las pelo nome. Eu quero que elas possam ser beneficiadas por aquilo que a gente consegue fazer a partir do nosso trabalho, indistintamente, sem saber a quem a gente tá ajudando, em quem ela votou. A gente quer poder chegar na vida dela transformando para melhor. Não é simples, mas ninguém disse que seria e o caminho mais simples, não é aquele que transforma. A gente escolheu o caminho da mudança e o caminho da mudança é sempre mais tortuoso", pontua. 


 
 

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