Censo

Confirmando Gilberto Freyre, brasileiro assume sua cor e se define, majoritariamente, pardo

Esta semana o IBGE divulgou que, pela primeira vez, desde que os censos foram iniciados em 1872, o percentual de brasileiros que se define como pardo superou o dos que se dizem brancos

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TEREZINHA NUNES

Publicado em 23/12/2023 às 20:16
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Em sua obra literária, internacionalmente conhecida e respeitada, o pernambucano Gilberto Freyre ressaltou a força da miscigenação na formação da raça brasileira quando portugueses, negros e indígenas, ainda na época da colonização, começaram a se misturar através de uniões oficiosas que, com o tempo, foram se tornando mais comuns. Esta semana o IBGE divulgou que, pela primeira vez, desde que os censos foram iniciados em 1872, o percentual de brasileiros que se define como pardo superou o dos que se dizem brancos. Segundo resultados do censo de 2022, instados a revelar sua cor, 45,3% dos brasileiros se revelaram como pardos e 43,5% como brancos. Entre os censos de 2010 e 2022 a população branca brasileira caiu de 47,7 para 43,5% e a parda subiu de 43,1 para os atuais 45,3%.

A força da miscigenação foi tão forte que hoje pouco mais de 10,2% dos brasileiros se dizem negros. Os “morenos”, como falava Freyre, ou pardos dos dias atuais, mostraram finalmente sua cara. Não à toa, as cotas raciais admitidas nos dias de hoje em universidades e nos concursos públicos, citam como beneficiários “negros e pardos”. Da mesma forma, recentemente, a Câmara Federal criou uma “bancada negra” que é composta de negros e pardos. O percentual dos que se definem como negros são mais expressivos na Bahia onde 22,4% da população revelou ao IBGE que é negra. Em contrapartida, o Rio Grande do Sul tem o maior percentual dos chamados “brancos” que chegam a 78,4% dos gaúchos. Já os pardos estão mais presentes, percentualmente, no Pará onde 69,9% dos habitantes do estado assim se definiu.

Um dos analistas e pesquisadores do IBGE, Leonardo Athias, diz que essa mudança crescente na definição da cor na raça brasileira não se deu porque estejam nascendo mais pardos ou morrendo mais brancos. Segundo ele, ‘tem a ver com a percepção das pessoas”. Para Athias “cor ou raça é uma percepção que as pessoas têm de si mesmas”. Ou seja, o processo histórico, de reconhecimento crescente da presença dos negros e pardos na sociedade brasileira, estaria fazendo com que pessoas que antes se declaravam brancas assumirem-se como pardas. O IBGE chama de pardos pessoas com uma mistura de cores de pele, também definidos historicamente como mulatos, caboclos, cafuzos ou mestiços.
Na verdade, apesar do preconceito ainda existente na sociedade, que tem como vítimas negros e pardos, esta semana foi estabelecido, através de lei aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Lula, que o dia 20 de novembro passou a ser feriado nacional em homenagem a Zumbi dos Palmares e ao Dia da Consciência Negra, de forma que, como já faz a população de seis estados, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, onde a data é feriado estadual, o restante dos brasileiros sejam cada vez mais conscientizados sobre o respeito a uma das raças mais importantes na formação do povo brasileiro, a raça negra.

A escolha do dia 20 de novembro deve-se ao fato de Zumbi dos Palmares ter sido assassinado e esquartejado em Pernambuco em 20 de novembro de 1695. O maior ídolo brasileiro da raça negra fundou o Quilombo dos Palmares em terras pernambucanas antes de Pernambuco perder territórios para os estados vizinhos, por decisão da Coroa Portuguesa. O ódio dos donos de terra a Zumbi, na época, – no quilombo citado eram abrigados negros fugitivos dos engenhos de açúcar onde eram escravizados – levou seus algozes a, após sua morte, pendurar sua cabeça no centro do Recife “para servir de exemplo”, como diziam.

O reconhecimento a Zumbi demorou mas chegou e se deu não só pela criação do seu dia como pelo fato de os brasileiros, cujas famílias são produto da mistura do branco com o negro e o indígena , se reconhecerem hoje como majoritariamente pardos.

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