Raquel deixa as cordas do ringue, faz política e toma o rumo da recuperação
No final de 2023, acossada por pesquisas nacionais que a colocavam entre os governadores menos aprovados do país, ela concedeu uma série de entrevistas à imprensa prometendo surpresas em 2024
Na linguagem usual do boxe, quando um lutador fica acuado por um adversário, diz-se que “está nas cordas do ringue”, ou seja, se agarra às cordas que circundam o tablado, onde a luta se realiza, para não cair por absoluta falta de condições de esboçar qualquer reação. A governadora Raquel Lyra estava há um ano nessa posição defensiva na qual enfrentou, a duras penas, a “independência” do Poder Legislativo reforçada pela ausência de uma base governista na Alepe, capaz de enfrentar uma forte oposição do PSB. Sem fazer política, condição sem a qual é impossível um político se dar bem, sobretudo uma governadora que administra um estado de 184 municípios, estava isolada no Palácio com apenas três legendas com as quais podia contar: o PSDB, seu próprio partido, o PP e o PL. Mesmo assim é do PL um dos deputados que mais lhe fazem oposição: o coronel Feitosa.
REVIRAVOLTA
No final de 2023, acossada por pesquisas nacionais que a colocavam entre os governadores menos aprovados do país, ela concedeu uma série de entrevistas à imprensa prometendo surpresas em 2024. Não deu outra, passado o feriado natalino, virou “um furacão difícil de acompanhar e atingir” como resumiu esta semana um dos deputados que a apoiam na Alepe. Abriu o secretariado para indicações políticas que já lhe garantiram o apoio de partidos fortes como o PSD e o PDT ( os dois, tirados da zona de influência do prefeito João Campos), o Podemos e, nos próximos dias, anunciará a chegada à sua base do MDB e União Brasil, legendas que também sairão da influência do PSB.
“Acho que agora ela vai dar certo” comentou com este blog esta quinta-feira um deputado do PP que há dois meses se mostrava angustiado com a situação. Sua mudança de posição não é pra menos. Só com a atração de novos partidos para sua base, a governadora vai deixando o prefeito João Campos para trás nesse quesito: há cinco meses apostava-se que todos os partidos iriam apoiá-lo mas hoje ele só conta com legendas de expressão como o PSB, seu partido, Republicanos e PT, mesmo assim sendo obrigado, a contragosto, a dar a um petista sua vice para não correr o risco de uma defecção.
ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO
Na área administrativa, a governadora, que ficou um ano voltada para dentro do Governo e que se saiu bem no carnaval, festa cujo índice de violência foi inferior ao de 2023, têm surpreendido a cada dia com boas notícias para a população. Esta semana unificou a tarifa dos ônibus na Região Metropolitana – um sonho de 10 anos - e proibiu aumento de passagens; começou a colher os louros do programa Morar Bem, premiado nacionalmente por garantir entrada de até R$ 20 mil para famílias com dificuldade de obter financiamento na compra da casa própria; e ainda no mês de março deve colocar nas ruas o programa Mães de Pernambuco que vai garantir uma bolsa mensal de R$ 300,00 a mães carentes com filhos de até 6 anos. A meta é atingir as 100 mil mães que recebem hoje o bolsa família e que com o incremento da bolsa estadual vão passar a receber cerca de R$ 1.000,00 mensais,
No que se refere às parcerias que conseguiu fazer com o Presidente Lula, a governadora já viu o reinício das obras da Refinaria de Suape, que vai ser duplicada, a confirmação de que Pernambuco vai receber a ambicionada Escola de Sargentos do Exercito, onde se formarão todos os sargentos do Brasil com a geração de milhares de empregos em solo pernambucano e se prepara para dar encaminhamento à estadualização do metrô, capaz de resolver de uma vez por todas a situação desse meio de transporte que tem sido uma interminável dor de cabeça para os moradores do Grande Recife.
MAIS TRABALHO
Há muitos abacaxis a serem descascados ainda como dar andamento às licitações que ela concentrou na Secretaria de Administração e anda a passos de tartaruga. Para se ter uma idéia, todas as obras que estão sendo tocadas no estado, como as estradas, por exemplo, só conseguiram sair do papel porque o processo licitatório foi concluído ainda no governo Paulo Câmara.
Mas, assim como destravou a questão política, na Assembléia Legislativa já se admite que ela vai começar a repensar muitas atitudes tomadas no primeiro ano de Governo, como a excessiva concentração administrativa, para que a máquina comece a acelerar. “Dinheiro ela tem e muito pois passou um ano com o cadeado do cofre na mão. Se conseguir gastá-lo bem tem tudo para fazer uma grande administração” – admite um deputado do grupo “independente” da Alepe, que ora vota com o Governo, ora obedecendo ao comando do presidente da casa, o deputado estadual Álvaro Porto, com o qual Raquel precisa se entender para conseguir caminhar direito no Legislativo, o principal gargalo que enfrentou em 2023.