OPINIÃO: PT enfrenta encruzilhada na eleição do Recife
Após três derrotas seguidas e a ascensão do seu líder maior, o presidente Lula, o PT, não conseguiu se articular para disputar a eleição deste ano
Nos últimos 22 anos, o PT governou o Recife por 3 vezes: oito anos com João Paulo prefeito e quatro com João da Costa. Por conta de desentendimentos internos, acabou perdendo a liderança da esquerda na capital dando lugar ao PSB que, usando a mão forte do então governador Eduardo Campos, conquistou, com o então desconhecido Geraldo Júlio, o poder municipal em 2012, disposto a não mais sair. O que restou ao PT nesse período? Em 2012 ficou em terceiro lugar com o agora senador Humberto Costa como candidato; em 2016 ficou em segundo com João Paulo na disputa; e, em 2020, os petistas lançaram Marília Arraes, igualmente derrotada pelo agora prefeito e seu primo legítimo, João Campos.
Após três derrotas seguidas e a ascensão do seu líder maior, o presidente Lula, o PT, não conseguiu se articular para disputar a eleição deste ano, ensaiou um enfretamento com o prefeito João Campos e acabou desistindo de candidato próprio em troca de duas secretarias da PCR. Em outubro, portanto, após 12 anos em que lutou com desenvoltura pela volta ao poder na capital, nenhuma liderança petista vai ter seu nome nas urnas que definirão quem vai governar o Recife até 2028.
Mas o pior ainda pode estar por vir: o prefeito João Campos, candidato à reeleição, ainda não garantiu aos petistas a vaga de vice por eles almejada, apesar da pressão exercida até pela presidente nacional da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Assessores do prefeito garantem que ele deseja ter alguém do próprio PSB na vaga de vice de forma que deixe em aberto a possibilidade de, em 2026, caso deseje ser candidato a governador, entregue o município a alguém de sua estrita confiança.
O PT não tem a confiança de João Campos? Até as paredes do Palácio Capibaribe sabem que não. E por que? Respostas não faltam, pois, assim como a recíproca é verdadeira, petistas e socialistas nunca foram de trocar gentilezas. A única figura que os une é o presidente Lula por conta do poder que tem em seu estado para garantir ou tirar votos. Portanto, em se tratando de uma eleição como a atual em que Lula não está disputando, “a briga é de foice entre os dois partidos” como resumiu esta semana um deputado estadual acostumado a acompanhar o embate entre as duas legendas. Desde a época em que o PT unia-se ao sindicalismo no segundo Governo Arraes bradando na frente do Palácio – “Arraes, caduco, Pinochet de Pernambuco”- que as coisas nunca mais foram as mesmas.
Foi o presidente Lula que juntou as duas legendas em seu primeiro mandato em 2002 nomeando Humberto Costa ministro da saúde e Eduardo Campos ministro da Ciência e Tecnologia. Não durou muito, porém, e em 2006 Humberto e Eduardo se candidataram a governador numa eleição em que Mendonça Filho foi o mais votado no primeiro turno mas perdeu para Eduardo no segundo turno quando o PSB e o PT, com a presença de Lula, voltaram a se juntar. Se no caso do estado PSB e PT nunca foram grandes amigos, no Recife, como está exposto acima, menos ainda.
E se tudo acontecer como o previsto, com João Campos plantado em enormes intenções de votos, dá-se como certo que ele pode, como se comenta, dar um by pass no PT e não garantir sua vice, deixando em aberto sua posição para 2026. E o PT vai aceitar? “Nào tenho dúvida disso” – afirmou a este blog uma importante liderança petista do Recife, explicando que o partido “perdeu o timing, demorou a se articular e não há mais como ensaiar rompimento”.
O PT precisa da vice, como deixou claro o senador Humberto Costa, para que em 2026 tenha candidato ao governo. O jogo é simples. O PT sabe que, se tiver um vice puro sangue, João pode sair da PCR para ser candidato a governador em 2026 e lançar a chapa que desejar inclusive de senador – naquele ano Humberto termina seu mandato e pode se candidatar à reeleição – sem dar bolas aos petistas. Já se o vice for do PT, caso o prefeito se desincompatibilize, os petistas ficarão com o comando do Recife e, portanto, com força para influir na eleição.
O jogo está sendo jogado e, mesmo em terreno tão incerto, o PT ainda não se entendeu sobre o nome que vai indicar para a vice de João. Um grupo defende o médico Mozart Neves e outro o deputado federal Carlos Veras. E, para complicar, intrigantes dos dois lados passaram a fazer chegar à imprensa esta semana a informação de que Humberto pode ser o candidato a vice, lançado como Tertius. O senador respondeu de forma veemente em entrevista esta quarta-feira: “estão querendo encurtar meu mandato de senador. Nunca pensei nisso”. Durante o dia choveram telefonemas em seu gabinete em Brasília em busca de esclarecimentos.
“Perua” ou não, a lembrança do nome de Humberto, um senador com mais três anos de mandato pela frente, é, no mínimo, um sintoma de desespero e de fraqueza. E ,aí sim, uma tentativa de colocar desde já um entrave a um prefeito que ,se quiser, tem todo direito de ser candidato em 2026. Vai caber à população resolver essa situação e não um acordo entre legendas.
Nota: O texto não reflete necessariamente a opinião do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação