Negros são minoria em frente de combate ao racismo da Alepe
Formada por 10 deputados, a frente tem apenas quatro que se autodeclram negros
A Frente Parlamentar de Combate ao Racismo da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), instalada nesta terça-feira (14), é composta majoritariamente por deputados que se autodeclaram brancos.
Ao todo, o grupo coordenado pelo deputado estadual Doriel Barros (PT) tem 10 parlamentares em sua composição: João Paulo (PT), João de Nadegi (PV), João Paulo Costa (PCdoB), Joãozinho Tenório (PRD), Joaquim Lira (PV), Luciano Duque (Solidariedade), Rosa Amorim (PT), Dani Portela (PSOL) e Simone Santana (PSB), além do próprio Doriel.
Entre os membros da comissão, apenas quatro se reconhecem como negros, grupo que reúne pessoas pretas e pardas. Em contraposição, seis parlamentares são brancos.
Os dados constam na autodeclaração dos deputados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no registro de suas candidaturas em 2022.
Vale frisar que a Casa ainda tem outros quatro parlamentares que autodeclaram pretos ou pardos. No entanto, estes não compõem a frente, que busca combater o racismo.
O JC procurou o deputado Doriel Barros, que coordena a frente, para comentar os dados. Ele afirmou, em nota, que ofato de outros parlamentares não estarem participando, deve-se à presença em outras Comissões e Frentes, que também lhes tomam tempo e dedicação.
"Não há como um indivíduo se apropriar pelo outro da sua identidade racial. A Frente Parlamentar de Combate ao Racismo foi aprovada por unanimidade pelos parlamentares desta Casa, para que possamos seguir em frente na luta contra a discriminação racial, garantindo e ampliando direitos à população negra. O fato de outros parlamentares não estarem participando, deve-se à presença em outras Comissões e Frentes, que também lhes tomam tempo e dedicação. Nós entendemos que certamente eles irão acompanhar o nosso trabalho, e continuaremos com total receptividade para contribuições dentro do processo”, alega Doriel Barros.
Na avaliação da professora e especialista em diversidade e inclusão Dayse Rodrigues, mesmo sendo verdade que o racismo é um sistema que precisa de todos juntos para combatê-lo, é preciso que pessoas negras liderem esse processo, sendo, portanto, maioria nos espaços de debate e decisões sobre a temática.
"É essencial compreender que no combate ao racismo as vozes e experiências das pessoas negras devem ser as protagonistas, portanto, estarem em maioria", pontua ela.
"Para desmantelar efetivamente esse sistema de opressão, devemos dar espaço para que as vozes negras liderem o diálogo, definam as prioridades e moldem as soluções", completa.
COMO SE AUTODECLARAM OS MEMBROS DA FRENTE PARLAMENTAR
- Doriel Barros (coord. geral) - pardo
- Rosa Amorim - preta
- Dani Portela- preta
- João Paulo - preto
- João Paulo Costa - branco
- João de Nadegi - branco
- Simone Santana - branca
- Joaquim Lira - branca
- Luciano Duque - branca
- Joãozinho Tenório - branca
POPULAÇÃO NEGRA EM PERNAMBUCO
Enquanto na frente da Alepe, 60% dos membros são brancos, as pessoas negras compõem mais de 65% da população de Pernambuco, segundo dados do Censo 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ao todo, o estado tem 5.006.802 moradres pardos, o que equivale a 55,3% da população estadual, e 909.557 pretos, representando 10%.
Os demais pernambucanos estão divididos entre brancos, indígenas e amarelos. São 3.043.916 habitantes brancos, o segundo grupo étnico mais volumoso representando 33,6% da população.