Ramagem depõe à Polícia Federal por suposta espionagem ilegal durante governo Bolsonaro
O deputado federal dirigiu a Agência Brasileira de Inteligência de julho de 2019 até março de 2022 e foi alvo de buscas e apreensões em janeiro
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro, prestou depoimento nesta quarta-feira (17) no âmbito de uma investigação que apura a suposta espionagem ilegal de importantes figuras políticas e outras personalidades.
Ramagem, pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais de outubro, chegou à Superintendência da Polícia Federal (PF) na capital fluminense pouco antes das 15h30 e não deu declarações à imprensa, confirmou a AFP.
Os investigadores suspeitam que, durante o mandato do ex-presidente Bolsonaro (2019-2022), tenha sido formada uma "organização criminosa" dentro da Abin para monitorar importantes figuras políticas, como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e até jornalistas.
Homem de confiança de Bolsonaro, Ramagem dirigiu a Abin de julho de 2019 até março de 2022.
O parlamentar foi alvo de buscas e apreensões em janeiro passado.
Em 11 de julho, uma nova operação policial ligada a esta investigação resultou na prisão de cinco suspeitos, incluindo um militar, um policial federal e um influenciador digital.
Segundo o ministro do STF responsável pelo caso, Alexandre de Moraes - uma das pessoas ilegalmente monitoradas, segundo os investigadores - a "organização infiltrada na Abin" tinha como objetivo "obter vantagens políticas, produzir desinformação, atacar adversários políticos (...) e desestabilizar as instituições republicanas".
Ramagem, no entanto, alega que é inocente. O deputado criticou a investigação na semana passada em uma postagem na rede social X, dizendo que o procedimento visa "levar à imprensa ilações e conjecturas superficiais".
Ramagem ficou particularmente exposto na segunda-feira, quando o STF divulgou o áudio de uma gravação feita por ele em agosto de 2020 durante uma reunião com duas advogadas e Jair Bolsonaro, ocasião em que discutiram formas de resolver problemas judiciais do filho mais velho do então presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Veículos de imprensa relataram que Jair Bolsonaro teria ficado "furioso" ao saber que foi gravado sem seu conhecimento.
Ramagem, por outro lado, afirmou que essa gravação foi feita "com o consentimento" do ex-mandatário.
Bolsonaro, impedido de concorrer até 2030, não está diretamente implicado nesta investigação que apura a suposta espionagem ilegal, embora seja alvo de vários outros processos.