Os caminhos do PT, João Campos e Raquel Lyra

Após rejeição no partido na vice de João Campos, caminho tem se apresentado, incluindo uma aproximação com a governadora Raquel Lyra

Publicado em 27/07/2024 às 21:43

“O PT é como uma Fenix. Ressurge das cinzas. Enfrentamos o impeachment de Dilma e a prisão de Lula mas voltamos ao poder no país. Aqui vai acontecer a mesma coisa”, diz, confiante mas em tom de ironia, a senadora Teresa Leitão, uma das mais destacadas vozes do partido, que divide com o senador Humberto Costa a responsabilidade pela condução da legenda no estado.

Esta declaração foi feita na última quinta-feira, três dias depois que, como afirmou o ex-prefeito do Recife, João Paulo, o partido “foi humilhado” no episódio da escolha do vice do prefeito João Campos, que preferiu uma prata da casa, o ex-chefe de gabinete Victor Marques, ao petista Mozart Sales, escolhido após debate interno que durou dois meses e mobilizou todas as correntes partidárias.

Teresa, que era defensora da candidatura de Sales, embora a mesma tenha surgido por sugestão do ministro Alexandre Padilha, acha que o PT precisa agora se reinventar, se unir cada vez mais e pensar na eleição de 2026, quando tem como propósito principal a reeleição do senador Humberto Costa.

“Lula quer continuar com dois senadores pernambucanos em Brasília”. E, sobretudo, na de 2028: "Nela, se for preciso enfrentar o PSB, vamos enfrentar. O PT sempre teve protagonismo no Recife e não pode perder esse patrimônio que construiu durante seguidas eleições desde 2000, quando ou venceu o pleito com João Paulo e João da Costa, ou se saiu bem na disputa do segundo turno”.

As palavras da senadora, que conversou seguidas vezes com o prefeito João Campos desde que foi eleita, tentando convencê-lo a respeitar os caminhos do PT no Recife, refletem o clima que tomou conta da legenda desde que João Campos, frente a frente com Lula, em Brasília, se negou a garantir a vice para Mozart Sales, argumentando que ia se candidatar a governador e precisava ter alguém de sua inteira confiança para sucedê-lo. Na segunda-feira passada, quando o vice foi apresentado, o clima era de poucos amigos entre petistas e socialistas em um hotel do Recife.

O senador Humberto Costa chegou ao local do evento de semblante fechado ao lado de Mozart Sales e foi direto quando indagado pelos jornalistas sobre a decisão de João: “Tentamos convencer, mas a última palavra é do candidato. Agora vamos seguir em frente que a vida continua”.

Sobre a possibilidade de ter assegurada a vaga de senador em 2026 no palanque de Campos, respondeu: “Não existe acordo para 2026. Em nenhum momento se tocou nessa questão”.

Na verdade, embora em off, tem sido corrente entre os petistas a discussão sobre a possibilidade de Lula ter o apoio de João Campos e da governadora Raquel Lyra em 2026, com o PT se juntando a Raquel já em 2025: "Ele pode fazer como em 2006, quando Humberto e Eduardo eram candidatos a governador e ele juntou os dois no palanque", diz um dirigente estadual.

Não é segredo de ninguém que Humberto tem trabalhado com Raquel projetos importantes para o estado, como a questão dos prédios-caixão, e tem ido a jantares no Palácio para conversas reservadas com a governadora, ajudando-a a abrir mais espaços em Brasília.

Já a senadora Teresa Leitão ajudou, na surdina, o Governo a celebrar acordo inédito com os professores este ano, sem que fosse necessário apelar para a greve. Teresa destacou pessoas de sua confiança para, ao lado do Sintepe, participar de reuniões na secretaria de administração para reestruturar o plano de cargos e carreiras, um reivindicação antiga da categoria que nem Eduardo Campos garantiu.

Essa proximidade é oficialmente explicada pelos petistas com o fato de Raquel estar tendo o apoio de Lula, com as portas abertas em todos os ministérios para que apresente as reivindicações pernambucanas.

Da mesma forma que também se atribui a isso o apoio que a bancada do PT na Assembleia tem dado à governadora. Há, porém, quem já sonhe com a possibilidade de, terminada a eleição de 2024, o PT passar a fazer parte do Governo. Antes isso era tido como impossível. Hoje já não é. A própria Teresa Leitão disse, antes mesmo da recusa de João Campos no Recife, que “2024 é uma coisa, e 2026 é outra”.

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