Cientista político analisa dados eleitorais que indicam vitória da oposição na Venezuela
Dalson Figueiredo concedeu entrevista à Rádio Jornal e falou sobre a pesquisa baseada numa amostra estratificada das seções eleitorais venezuelanas
Com eleição envolta de desconfianças e polêmicas, Nicolás Maduro, atual presidente da Venezuela, é alvo de notícias e pressão internacional para deixar a presidência. Seu concorrente direto e líder da oposição, Edmundo González, afirma que a vitória de Maduro foi fraudada na eleição que ocorreu no final de julho. A acusação de fraude não se limitou ao país; presidentes como Javier Milei, da Argentina, Gabriel Boric, do Chile, entre outros, acusam a fraude eleitoral.
Em entrevista ao Passando a Limpo da Rádio Jornal, o cientista político Dalson Figueiredo explicou um pouco sobre o grupo que participa com pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Venezuela, que juntos elaboraram um método estatístico para aferir os resultados eleitorais da eleição em que Maduro teve a vitória e como chegaram nesse resultado.
Método Científico em debate
O projeto, antes de começar a funcionar, foi testado e analisado pelos professores Dalson Figueiredo, que atualmente leciona na Universidade Federal de Pernambuco; Rafael Nishimura, diretor do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan; e Walter Mebane, especialista em análise de fraude eleitoral. As informações e pesquisas feitas são disponibilizadas no site, com livre acesso para download.
“Então, se a gente está num projeto que, de alguma forma, vai combater a falta de transparência do Conselho Nacional Eleitoral na Venezuela, a gente não pode ser acusado do mesmo problema. Então, a gente não pode ter nada que remotamente coloque em xeque a credibilidade do projeto em termos de falta de informação para a população ter acesso”, diz Dalson sobre a plataforma.
Sobre os cenários da eleição o cientista político explica mais sobre como fizeram a análise do resultado das eleições: “O cenário 1, que a gente chamou de cenário A, a gente receberia os dados oficiais a partir de 9h30, 10h da noite, no máximo meia-noite então esse era o cenário que a gente esperava, porque a lei eleitoral venezuelana diz que isso tem que acontecer então depois da divulgação do resultado o CNS se compromete em passar esses dados tanto para a oposição quanto para a situação, mas é óbvio que a gente sabia também que existia um risco disso não acontecer então a, a gente pensou no cenário B, que foi o seguinte, a gente tinha um pessoal no campo, então pessoas que trabalharam como mesários e voluntários espalhados em várias seções na Venezuela, que mandaram fotos dos boletins de urna com o QR code para um chatbot que a gente montou em rede social. Então, a gente recebia fotos em tempo real. Isso passava por um processo de validação, porque a gente recebeu mais de mil fotos, mas apenas 997 foram validadas. Depois disso, entrava no servidor web, na plataforma na internet, e atualizava um painel de indicadores. Então, a cada novo registro validado, a estimativa era recalculada”
Sobre a metologia o professor explica como chegam nessa “amostra boa” e como por causa dela conseguem a alcançar esse percentual “O grande cuidado, a nossa metodologia, o grande segredo dela é garantir que a gente tem essa amostra boa. E aí o resultado bateu com os resultados de uma amostra boa e aí e aí o resultado bateu com os resultados de uma mostra gigante a oposição já tem mais de 80 por cento das urnas e os nossos resultados foram exatamente iguais do ponto de vista estatístico de um ponto percentual”.
Segundo o ele, no caso dessa eleição, o maior problema não é o sistema eletrônico. Os especialistas que residem no país analisaram nesse sentido e apontam o problema que pode ter afetado diretamente o resultado, no qual não é o sistema de checagem, mas sim as “estratégias” do governo.
“O problema são as estratégias que o governo usa para desmobilizar, né, ou incentivar a votação no partido da situação. Como, por exemplo, coisas que a gente já viu aqui no Nordeste brasileiro: você dar transporte para pegar eleitores em localidades mais distantes e trazer para a zona eleitoral; dificultar que os candidatos de oposição registrem suas candidaturas”, detalha o cientista político.
Os pesquisadores presentes no grupo recentemente começaram a checar mais uma vez a veracidade da pesquisa feita, de forma a ver se não houve manipulação ou informação falsa e, até agora, não houve sinais na pesquisa feita por Mebane e na atual pesquisa de Dalson.
O resultado atual da análise revelou que a oposição obteve 66,12% dos votos e Maduro, ao contrário do que se acreditava, não venceu a eleição. Na verdade, ele teria perdido por 31,39% dos votos, e 2,49% foram para os outros candidatos, de acordo com o estudo feito pelos professores pesquisadores deste grupo.