Dez anos após a morte de Eduardo Campos, um 13 de agosto que não se esquece em Pernambuco
Nesta terça (13) o desastre aéreo que vitimou Eduardo Campos completa 10 anos. Pedro Campos, Dom Saburido, Henry e Bezerra Coelho relembram a tragédia
Em 2014, o Dia dos Pais caiu no dia 10 de agosto, data do aniversário de 49 anos do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. A coincidência mereceu comemoração dobrada. Maria Eduarda, João, Pedro, José e o pequeno Miguel (à época com 6 meses de vida) homenagearam o pai com um vídeo. “O melhor presente de aniversário que já recebi. Muito obrigado, meus filhos. Amo vocês”, comentou Eduardo na publicação.
Quem poderia prever que aquele domingo feliz seria uma despedida? Que três dias após a festa, Renata Campos e os filhos receberiam a notícia mais triste de suas vidas? Que no domingo seguinte estariam sepultando o marido, o pai, o filho, o irmão, o amigo, o político, o candidato à Presidência da República pelo PSB Eduardo Campos?
Nesta terça-feira (13), completa 10 anos do trágico acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos, sua equipe de comunicação: o jornalista Carlos Percol, o fotógrafo Alexandre Severo e o cinegrafista Marcelo Lyra; além do assessor Pedro Valadares Neto e dos pilotos Geraldo Magela Barbosa da Cunha e Marcos Martins.
Era uma quarta-feira. Eduardo deixava o Rio de Janeiro com destino a Santos para cumprir agenda de campanha. Na noite anterior, tinha concedido entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, e as lideranças do PSB estavam eufóricas. Pensando em descansar um pouco mais, o ex-governador ainda cogitou pedir a Márcio França para ir em seu lugar no compromisso no litoral paulista, mas acabou embarcando no Cessna Citation PR-AFA.
O tempo estava fechado na Baixada Santista e não dava para enxergar a pista. Por volta das 9h50, o piloto decidiu arremeter o avião, que se chocou com casas no bairro residencial do Boqueirão e caiu. Os destroços do jatinho se espalharam por 13 residências e deixaram seis pessoas feridas. Ninguém sobreviveu.
Dez anos após o desastre que chocou o País, outra tragédia aérea voltou a acontecer na sexta-feira (9/8), dessa vez em Vinhedo, distante 80 km de São Paulo. O voo 2283 da companhia aérea Voepass saiu de Cascavel (PR) às 11h46, com destino ao aeroporto de Guarulhos (SP). O acidente ocorreu às 13h25, deixando 62 pessoas mortas.
DOR E INCREDULIDADE
“Morreu”. Como essa palavra absoluta, definitiva, poderia ser usada para alguém com a vitalidade de Eduardo? Alguém que, na noite anterior, começava a busca pelo sonho de se tornar presidente da República? Como, uma figura pública que parecia ‘eterna’ no imaginário de seus admiradores, poderia desaparecer para sempre?
Para nós, pequenas criaturas diante do universo, foi difícil aceitar, compreender que ele não estava mais aqui. Sobretudo pela natureza do desastre, que provocou comoção e não deu a chance de olhar para o ex-governador pela última vez.
O impacto do avião deixou os corpos fragmentados. Foi preciso recorrer a testes de DNA para fazer a identificação. O processo foi tão complexo, que só três dias depois do acidente foi possível liberar os restos mortais.
“Quando chegamos ao IML, os legistas disseram que não havia o que identificar. Eles explicaram que o choque do avião foi tão forte que havia fragmentos de corpos em cima de prédios de até dez andares. Eles falaram que os corpos estavam ‘pulverizados’ e essa palavra nunca saiu da minha cabeça”, conta, com tristeza, Raul Henry, presidente do MDB em Pernambuco e aliado de Eduardo Campos.
Raul Henry, Fernando Bezerra Coelho e Paulo Câmara ficaram responsáveis por acompanhar a liberação dos restos mortais em São Paulo e trazer para o Recife. Os corpos de Eduardo, Percol, Severo e Lyra chegaram na madrugada do sábado (16) à capital pernambucana, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
Bezerra Coelho diz que, para ele, o momento mais emocionante foi o retorno para Pernambuco. “Na volta, dentro do avião da FAB, trazendo o corpo dele para Recife, aí a ficha caiu e a emoção de todos que estávamos na aeronave era indescritível”, recorda.
FORÇA E FÉ DE RENATA CAMPOS
O ex-arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido conta que estava dando expediente na Cúria quando soube da notícia da morte de Eduardo Campos pela imprensa. “Dom Genival, bispo de Palmares, foi convidado para ser Vigário Geral de Recife e estava ajudando nas funções quando soubemos do desastre e fomos prontamente para a casa de Renata Campos”, recorda.
A primeira-dama ainda estava em trânsito, voltando com o filho Miguel do Rio de Janeiro, onde tinha ido acompanhar o marido na entrevista ao Jornal Nacional. “Quando soube da nossa presença na casa dela teve a certeza de que o marido tinha partido. Foi um momento de muita emoção e tristeza para todos”, diz Dom Saburido, que foi convidado por Renata para presidir a missa de corpo presente de Eduardo Campos, no Palácio do Campo das Princesas.
“Renata é uma pessoa muito católica e encontrou na fé a força para suportar a perda do marido, cuidar dos filhos, especialmente do pequeno Miguel, e ainda assumir a liderança na campanha de Paulo Câmara (ao governo do Estado). Apesar da dureza da experiência, Renata soube conduzir a situação com resignação e fé, confiando na vida eterna”, afirma.
EDUARDO ‘É DO POVO PERNAMBUCANO’
O deputado federal e filho de Eduardo, Pedro Campos, recorda que estava dormindo quando foi acordado pelo irmão mais novo José, com a notícia de que tinha caído um jatinho em Santos.
“Ele estava muito agitado, porque sabia que nosso pai estava viajando para Santos em um avião pequeno. Tentei acalmá-lo, mas logo as notícias começaram a confirmar que o acidente envolvia a aeronave em que nosso pai estava e que não havia sobreviventes”, conta. A partir daquele momento, a casa começou a ficar movimentada, com a presença de familiares e amigos.
Pedro Campos explica que a família entendeu que Eduardo Campos não era apenas pai deles e marido de Renata, mas uma figura pública de grande importância para Pernambuco e o Brasil. Em virtude disso, a decisão foi compartilhar aquele momento com a população.
“O momento mais emocionante para mim foi quando saímos da base aérea, após buscar o corpo do meu pai. Passamos três dias em casa, recebendo apoio de amigos e familiares, sem ver TV ou acompanhar as notícias. Quando saímos em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros e vimos a quantidade de pessoas nas ruas, acenando, prestando homenagens, chorando, foi muito tocante. Aquilo nos deu a dimensão real do tamanho de Eduardo, do quanto ele era querido e admirado. Ver o carinho e a emoção das pessoas foi algo inesquecível”, diz.
DESPEDIDA EMOCIONANTE
O velório de Eduardo Campos aconteceu no meio do povo. Gente que veio de vários lugares de Pernambuco para prestar sua homenagem. Choraram, se abraçaram, trouxeram cartazes com mensagens, beijaram o caixão, abraçaram a família. Vários políticos também estiveram no sepultamento, como o então ex-presidente Lula na época, a presidente Dilma Rousseff, a vice-presidente na chapa de Eduardo, Marina Silva, o também candidato à Presidência, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra e outros.
A Polícia Militar contabilizou 160 mil pessoas nas 15 horas em que durou o velório, entre a madrugada de sábado e o domingo. Depois, muita gente seguiu em cortejo por dois quilômetros até o Cemitério de Santo Amaro, onde o corpo de Eduardo foi enterrado ao lado do túmulo de seu avô Miguel Arraes, que também faleceu no dia 13 de agosto, mas no ano de 2005.
Ali se encerrava a despedida ao maior homem público de Pernambuco da atualidade, a despeito de discordâncias ou paixões. Mas Eduardo Campos permaneceu vivo em história, legado e inspiração.