Legado de Eduardo Campos permanece vivo na política e no desenvolvimento de Pernambuco

Desastre aéreo interrompeu o sonho de chegar ao Planalto, mas ele deixou como herança a capacidade de "saber juntar gente" em torno de um objetivo

Publicado em 12/08/2024 às 18:18 | Atualizado em 12/08/2024 às 18:24

Eduardo Campos estava no melhor momento da sua carreira política naquele 2014. Candidato à Presidência da República pelo PSB, planejava quebrar uma polarização de 20 anos entre o PT e o PSDB. No dia 13 de agosto, um desastre aéreo, quando se deslocava do Rio de Janeiro a Santos para cumprir agenda de campanha, interrompeu precocemente o sonho do jovem político de 49 anos (completados 3 dias antes) de chegar ao Planalto.

Governador de Pernambuco por dois mandatos, ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula, ex-deputado federal e presidente do PSB, Eduardo partiu, mas sua memória e seu legado continuam vivos, influenciando a política e o desenvolvimento do Estado.

A cientista política Priscila Lapa chama atenção para o protagonismo político que Eduardo conseguiu trazer para o Nordeste. “Ele foi uma figura histórica para o Estado e para o Brasil. Como governador de Pernambuco e responsável por alavancar a economia, ele conseguiu posicionar o Estado como relevante no cenário regional e, com isso, trazer protagonismo também para o Nordeste”, destaca.

O modelo de gestão adotado pelo ex-governador também é apontado como herança política. “Eduardo teve a capacidade de implementar um ritmo de gestão com monitoramentos próximos, com modelos de programas que funcionam com resultados, metas, entregas e indicadores. Esse foi um legado que ficou não só para o governo do Estado, mas também para municípios, que jamais tinham trabalhado com esses modelos”, destaca Priscila.

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Paulo Câmara foi eleito e reeleito governador de Pernambuco sob a influência do legado de Eduardo Campos - JC Imagem

TRANSFERÊNCIA DE LEGADO

Eleito e reeleito governador de Pernambuco, Paulo Câmara é um exemplo da transferência do legado de Eduardo Campos. Escolhido por ele para ocupar o cargo, a indicação contrariou interesses como o do vice-governador João Lyra, que tinha pretensão pela vaga.

Amigo e pupilo do ex-governador, Paulo Câmara comenta sobre seu legado. “Eduardo Campos inovou a maneira de fazer política e de gerir a máquina pública. Era um político com uma sensibilidade social aguçada que o fez criar programas como Ganhe o Mundo e o Pacto pela Vida, como também modernizou a maneira de administrar o Estado. As bases estabelecidas por ele inspiraram e inspiram outros gestores até hoje. Suas políticas públicas foram premiadas internacionalmente. Eduardo faz muita falta a Pernambuco e ao Brasil. Ele transformou nosso Estado e sua trajetória permanece mais viva do que nunca”, afirma.

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Antes do desastre que vitimou Eduardo Campos, o governador apresentou Paulo Câmara como seu sucessor ao governo do Estado. - JC Imagem

TRÂNSITO ENTRE POLOS OPOSTOS

Ao longo de sua trajetória, Eduardo deixou como uma de suas marcas a capacidade de transitar entre pólos opostos, de se equilibrar entre vertentes ideológicas diferentes.

“Na política ele era diferenciado. Sabia valorizar os quadros políticos e, como ninguém, sabia juntar em torno dele um amplo apoio político que ia da esquerda à direita. Veja a composição de 2010, juntando Armando (Monteiro) e Humberto (Costa para o Senado). Mas, quando foi preciso afirmar sua liderança, soube enfrentar o PT em 2012 e 2014. Eduardo tinha uma relação especial com Lula. Ele só se lançou candidato quando Lula não saiu candidato em 2014. Eu não tenho dúvida que se o acidente com o avião não tivesse ocorrido ele teria viabilizado o seu projeto”, acredita o ex-senador Fernando Bezerra Coelho.

A cientista Priscila Lapa reforça a necessidade de lideranças mais flexíveis na política. “É muito importante ter forças políticas com capacidade de recuar, de avançar, de trazer o contraditório.Há um pensamento de que é possível fazer política sem extremos, é possível fazer política de uma forma mais dialogada. Ele deixou mais esse legado para a cultura política de Pernambuco”, destaca.

MAIS POLARIZAÇÃO

Deputado federal pelo PSB e filho do ex-governador, Pedro Campos corrobora o talento do pai para unir pessoas e lamenta que a partida dele tenha aberto um flanco para o avanço da polarização política no País nos anos que se seguiram.

“Eduardo Campos tinha a capacidade de unir pessoas de diferentes espectros políticos, algo que o diferenciava. Na eleição de 2014, ele poderia ter sido uma novidade muito positiva para o País, trazendo mais consenso e menos radicalização. Infelizmente, sua ausência acabou levando a uma polarização maior, com o surgimento de uma nova liderança que aprofundou as divisões no Brasil, algo que Eduardo certamente teria evitado, promovendo um caminho de mais reconciliação e unidade”, lamenta.

 

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POTÊNCIA Moderna, a fábrica da Jeep produz apenas dois modelos SUV, ambos presentes no top 10 de vendas - SÉRGIO BERNARDO/JC IMAGEM

ECONOMIA DE PERNAMBUCO “VOOU”

Secretário de Desenvolvimento Econômico e presidente do Porto de Suape na primeira gestão de Eduardo Campos como governador, Bezerra Coelho acompanhou de perto a escalada econômica e social de Pernambuco.

“Não tenho dúvida que Eduardo Campos foi o melhor gestor de Pernambuco dos últimos tempos. Resgatou o orgulho dos pernambucanos e recuperou o dinamismo econômico do Estado com os impressionantes investimentos em Suape e a concretização de antigos sonhos: Refinaria, Polo Petroquímico, Polo Naval, Polo Automobilístico”, enumera FBC

O ex-secretário também aponta o avanço na atração de investimentos. “Uma agressiva política de desenvolvimento industrial permitiu atrair centenas de empreendimentos em todo o Estado. Eduardo tinha um estilo ousado e ágil nas decisões, com um senso de delegação de responsabilidades que empoderava a equipe que ele montou. Pernambuco literalmente voou”, comemora.

Raul Henry, que também foi secretário de Desenvolvimento Econômico na gestão Eduardo, recorda a disposição dele para o trabalho. Era reconhecido como workaholic e dormia poucas horas por dia.

“Às vezes, depois de um dia inteiro de trabalho, ele me chamava para ir ao Palácio (do Campo das Princesas) depois das 22h. Ele encomendava uma macarronada, tomávamos uísque e ficávamos discutindo política até 2h da madrugada. No outro dia, ele já estava cedo no terraço da casa dele tomando café e discutindo política”, recorda Raul, com nostalgia.

ANO EDUARDO CAMPOS

Para celebrar o legado do ex-governador, o PSB lançou no último sábado (10), o “Ano Eduardo Campos”, com o tema "60 anos - Um legado". A ideia é desenvolver várias ações, até agosto de 2025, quando o ex-governador completaria 60 anos. “Nossa intenção é celebrar a memória e a vida de Eduardo Campos, fazendo jus a seu legado que vive”, explica o presidente do PSB em Pernambuco, Sileno Guedes.

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