Raquel Lyra e João Campos vão demarcar territórios no 2º turno da eleição municipal

Mergulhado até o pescoço no propósito de ganhar a eleição do Recife no primeiro turno, João Campos está, no momento, afastado dos demais municípios

Publicado em 15/09/2024 às 0:00

Uma disputa particular vai marcar o 2º turno das eleições municipais de Pernambuco. Tendo como campo de batalha os municípios de Olinda, Paulista, Caruaru e, possivelmente, Jaboatão dos Guararapes, os pré-candidatos a governador em 2026, a governadora Raquel Lyra, que vai tentar a reeleição, e o prefeito João Campos, cujos partidários planejam começar a luta pelo Governo assim que for divulgado o resultado das eleições, entrarão em campo para eleger seus prefeitos nesses que são, após a capital, os municípios de maior número de eleitores no estado.

Mergulhado até o pescoço no propósito de ganhar a eleição do Recife no primeiro turno, João Campos está, no momento, afastado da campanha nos demais municípios mas, depois de definido o cenário nas cidades citadas acima, vai subir no palanque contrário ao de Raquel, pedindo votos para seus candidatos. A governadora também não vai perder a oportunidade de se fazer presente na campanha dos partidos que lhe dão sustentação.

Desde que o prefeito permitiu que seu nome circulasse como candidato a governador e agiu literalmente com tal, escolhendo um técnico seu amigo desde a adolescência, Victor Marques, para seu vice, e deixando claro que deseja passar-lhe o comando da capital no primeiro semestre de 2026 quando renunciar para se candidatar a governador, Pernambuco passou a viver, pela primeira vez, uma eleição dupla. A população do Recife está escolhendo um prefeito em 2024, sabendo, de antemão, que um ano e meio depois ele sairá do cargo para a disputa de 2026.

2024 repete 2022

Já se viu isso na eleição de 2022 quando três prefeitos renunciaram – Raquel Lyra, Miguel Coelho e Anderson Ferreira – para disputar o Governo. Mas uma diferença fundamental separa a eleição de 2022 da de 2026. Só depois que foram reeleitos em 2000, Raquel, Miguel e Anderson, começaram a se animar para a disputa do Governo e, mesmo assim, desconfiou-se até o dia da renúncia se os mesmos teriam coragem de dar um passo de tamanha envergadura.

João Campos, no entanto, com altíssima popularidade, pode se dar ao luxo de resolver antes a questão. Com a perspectiva de sair vencedor no Recife com margem expressiva não deu bolas, sequer, para a possibilidade de cobranças da oposição e esta, assumindo antecipadamente sua dificuldade depois que a governadora Raquel Lyra demorou a engrenar sua administração, nem se articulou nesse sentido. São famosos os vexames de prefeitos de capitais como José Serra, em São Paulo, que cobrado durante a campanha, assinou um documento registrado em cartório se comprometendo a ficar na Prefeitura por quatro anos e passou toda a campanha para governador se explicando e sendo chamado de mentiroso por ter resolvido renunciar.

Cenários incertos

Mas que cenário o prefeito do Recife e a governadora podem enfrentar no segundo do turno? Hoje a perspectiva nos meios políticos, com base em pesquisas e observações estratégicas, é de que haverá segundo turno em Olinda, Paulista, Caruaru e, ainda incerto, em Jaboatão dos Guararapes. Nesses municípios, a começar por Caruaru, a governadora tem como candidato o prefeito Rodrigo Pinheiro(PSDB) e o prefeito João Campos apóia José Queiroz(PDT). Os dois estão empatados tecnicamente. A votação do bolsonarista Fernando Rodolfo (PL) está segurando o avanço de Rodrigo e Queiroz já apareceu na frente em uma das pesquisas desta semana, acionando o sinal vermelho na campanha de Rodrigo.

Em Olinda o cenário embaralhou de vez mas, o mais provável, é que a candidata Mirella Almeida(PSD) apoiada pelo atual prefeito Professor Lupércio e pela governadora tenha vaga garantida no segundo turno. Na oposição há três candidatos empatados, Vinicius Castello, do PT, apoiado por João Campos, Isabel Urquiza(PL) e Antonio Campos (PRTB). Pelo leque de apoios e entusiasmo em suas caminhadas Vinicius Castello é favorito para ir ao segundo turno desde que não continue cometendo erros políticos com o de não ir a debates. Em Paulista, a governadora apóia Severino Ramos (PSDB), o mais cotado para disputar o segundo turno com o ex-prefeito Junior Matuto(PSB) que tem o apoio de João Campos.

O cenário em Jaboatão é mais complexo. O prefeito Mano Medeiros (PL) vem crescendo e pode até vencer já no primeiro turno, mas tem seu avanço contido pela candidata Clarissa Tércio, do PP, que está empatada tecnicamente com Elias Gomes (PT). Elias tem o apoio de João Campos e a governadora não declarou apoio a ninguém até agora pois tem em Mano um aliado e Clarissa Tércio é do PP, o partido de sua base de sustentação política na Assembléia mas ela estará com Mano Medeiros, no segundo turno, caso, como se presume, ele represente um dos campos na disputa. Hoje o prefeito tem 16 pontos de diferença do segundo colocado. Já em Olinda, Mirella Almeida, no momento, tem 8 pontos de diferença de Isabel Urquiza, que é a segunda colocada.

Caruaru é o grande desafio

Já Caruaru é, sem dúvida, o município mais importante para a governadora e para o prefeito. Se perder em sua terra natal ela vai enfrentar um senário duríssimo em 2026. Já o prefeito, se conseguir sair vitorioso com o seu afilhado José Queiroz, aproxima-se mais do Palácio do Campo das Princesas. A eleição de Caruaru vem ganhando tanto destaque por conta de 2026 que o instituto Datafolha incluiu o município entre os que realizará pesquisas este ano, tendo o primeiro levantamento publicado esta quinta-feira ter confirmado o empate técnico com Rodrigo três pontos acima de Queiroz.

Mas se a vitória em cada um dos municípios citados possa catapultar a governadora ou o prefeito do Recife para o sonho de 2026, a derrota terá o mesmo efeito em sentido inverso. Hoje dá-se como certa a possibilidade de Raquel eleger os aliados Mano e Mirella, em Jaboatão e Olinda. Por isso, João Campos evitou se envolver pessoalmente nas campanhas de Elias e Vinicius Castello no primeiro turno, confiando a tarefa a seu irmão, o deputado federal Pedro Campos. Decidiu aguardar o segundo turno quando aí não terá escapatória. Para ganhar ou para perder vai precisar colocar sua cara na disputa.

Só o tempo dirá qual vai ser o vencedor dessa luta particular que já é tida como o primeiro embate de 2026.

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