"Bolsonaro jamais cogitou dar golpe de estado", diz advogado em meio a acusações da PF
A defesa de Bolsonaro nega envolvimento em plano golpista, enquanto a PF aponta participação ativa em atos contra o Estado Democrático de Direito
O advogado Paulo Cunha Bueno, responsável pela defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, declarou nesta sexta-feira (29), em entrevista ao programa Estúdio i, que o ex-mandatário não teria aderido ou se beneficiado do plano golpista investigado pela Polícia Federal (PF). Segundo ele, a conspiração detalhada no relatório da PF beneficiaria uma junta militar, e não Bolsonaro.
"Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do Plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro", afirmou Bueno.
O advogado também negou que Bolsonaro tivesse conhecimento sobre planos para assassinar líderes como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. "Ele não sabia disso. Esse Punhal Verde e Amarelo nunca chegou ao conhecimento dele", declarou.
A defesa ainda argumentou que Bolsonaro não teria obrigação de denunciar o golpe. "É crível que as pessoas o abordassem com todo tipo de proposta, é fato que ele [Bolsonaro] não aderiu (...) Não era obrigação dele denunciar", afirmou Bueno.
Relatório da PF
O relatório da Polícia Federal, divulgado na última terça-feira (26), aponta Bolsonaro como peça central no planejamento, direção e execução das ações que visavam um golpe de Estado após sua derrota nas eleições de 2022. Segundo a PF, o ex-presidente "tinha plena consciência e participação ativa" nos atos investigados, além de "domínio direto" das ações realizadas.
O documento afirma que o grupo responsável pelo planejamento começou a atuar de forma coordenada ainda em 2019, disseminando narrativas falsas sobre o sistema eletrônico de votação no Brasil.
Embora Bolsonaro não seja identificado como integrante de nenhum dos seis núcleos da organização criminosa, a PF sustenta que ele seria o principal beneficiário das ações, que tinham como objetivo mantê-lo no poder.
"Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram, de forma inequívoca, que o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de Estado e a abolição do Estado Democrático de Direito", diz o relatório.
Estratégia de defesa e acusações
Paulo Bueno classificou como "crível" a possibilidade de Bolsonaro ter sido abordado com propostas de golpe por seus aliados, mas reiterou que o ex-presidente jamais teria considerado essa possibilidade. "Quando acaba a eleição, ele se recolhe no Alvorada e passa a ser muito pressionado por vários apoiadores. Mas ele jamais cogitou dar golpe de Estado", declarou.
Indiciado ao lado de 36 pessoas, Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. A PF sustenta que reuniões entre militares, assessores e oficiais discutiram estratégias para a execução do golpe.
Questionado sobre a minuta golpista entregue aos comandantes das Forças Armadas, o advogado negou que tenha havido qualquer tratativa golpista entre Bolsonaro e os militares. "Eles conversaram, assim como os ministros, diversas vezes com o presidente, mas nunca foi tratado de algum movimento golpista", disse Bueno.
A defesa do ex-presidente também descartou a possibilidade de prisão de Bolsonaro. "Não faria sentido que houvesse algum tipo de prisão. O que eu espero, em primeiro lugar, é que meu cliente seja julgado pela corte competente, por juízes imparciais e não por desafetos pessoais. Isto é o mínimo que alguém acusado, eventualmente, tem o direito de ter", concluiu.