A disputa eleitoral na Amupe e a importância política e prática da entidade
Associação Municipalista de Pernambuco terá eleição para presidência em 2025. Atual gestor Marcelo Gouveia deverá enfrentar Pedro Freitas.
A temporada de eleições em território pernambucano ainda não acabou. A Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) vai escolher o novo presidente no início de 2025 e as chapas já começaram a se movimentar. No que está posto hoje, o atual presidente da entidade, Marcelo Gouveia (Podemos), prefeito de Paudalho, na Mata Norte, poderá disputar a reeleição com o prefeito eleito de Aliança, Pedro Freitas (PP).
Marcelo Gouveia está no cargo desde março de 2024. Ele era vice de Márcia Conrado (PT), prefeita de Serra Talhada, mas acordaram em fazer uma gestão compartilhada, em que cada um deles pudesse liderar o órgão pelo período de um ano — ela ficou em 2023 e ele, em 2024.
Com o final do mandato de dois anos se aproximando, Gouveia já sinalizou interesse em continuar à frente da Amupe. A eleição deve ocorrer no final de fevereiro, e a posse, em março de 2025. O edital deverá ser lançado pela gestão atual em até 30 dias anteriores à data do pleito.
Um dos primeiros sinais de divergência entre as duas chapas postas até o momento diz respeito à própria situação de Gouveia. Encerrando o segundo mandato no comando de Paudalho, ele não pode se candidatar à prefeitura da cidade e não terá mandato no Executivo a partir de 2025 — embora tenha eleito sua sucessora, Paulinha da Educação (Podemos).
Pedro Freitas defende que se abra uma discussão sobre uma atualização no regimento da Amupe, impedindo que prefeitos sem exercício de mandato possam assumir a presidência da associação. Ele justifica que isso poderá evitar que interesses dos presidentes possam se sobrepor às necessidades da entidade.
“Essa não é uma proposta do candidato Pedro Freitas, é uma discussão que tem ganhado força entre muitos prefeitos com esse mesmo sentimento. A discussão surge para blindar o foco da gestão. Se você tem um prefeito de mandato na presidência, corre um risco menor de que o foco seja desviado para focos diferentes do que deveria ser”, argumentou Pedro ao JC.
Mesmo que essa possível alteração no regimento, uma vez colocada em prática, só tenha efeito em futuros mandatos e não afete uma possível eleição de Gouveia agora em 2025, o tema já se tornou delicado entre as chapas. Gouveia, por sua vez, se mostrou contrário à proposta, afirmando que ela vai na contramão do que é praticado em associações municipalistas de todo o país.
“A gente tem que discutir a competência, o conhecimento das causas municipalistas. Não é o fato de estar ou não no mandato que vai qualificar a pessoa a disputar, e sim se ele tem conhecimento ou não”, analisou Marcelo.
Reedição da disputa na Alepe
O possível embate entre PP e Podemos também vem sendo visto como uma reedição da disputa pela primeira-secretaria da Assembleia Legislativa de Pernambuco, vencida na última semana por Francismar Pontes (PSB) — com apoio do Progressistas — em cima de Gustavo Gouveia (Solidariedade), irmão de Marcelo.
O atual presidente da Amupe descarta qualquer perseguição partidária. “Respeito as lideranças do Partido Progressistas, não tenho nenhum tipo de movimento nesse sentido. Se existe, é de lá pra cá, mas da gente para lá não existe. Tanto eu quanto Gustavo já estávamos no cargo, não estávamos buscando um cargo novo”, apontou.
Pedro Freitas, por sua vez, descartou haver relação entre as disputas na Amupe e na Alepe, afirmando que o momento ainda é de definição de chapas. Ele, inclusive, disse ter conversado com Marcelo Gouveia e chegou a cogitar uma disputa com chapa única.
“É um momento de escuta, de discussão das ideias. Tive algumas conversas com Marcelo e outros atores, e a gente percebe um interesse comum de não gerar qualquer tipo de afastamento ou racha na associação. Se a gente tiver espaço para gente construir uma candidatura única e entender que meu nome tem capacidade para reunir todos os anseios, a gente vai buscar isso. Se tiver uma eleição, encaro com muita naturalidade”, afirmou.
O cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco Arthur Leandro aponta que historicamente a Amupe busca consenso em eleições internas, evitando disputas que comprometam sua função de representar os municípios de forma parapartidária.
"A formação de chapas consensuais mostra essa tradição de unidade, preservando a credibilidade da entidade como interlocutora legítima, independente de partidos. Não há indícios suficientes de que essa polarização atingirá os processos internos da Amupe, pois a entidade tende a manter sua postura de consenso, evitando prejuízos à sua atuação", avaliou o especialista.
Relações políticas
Embora seja uma associação apartidária, a Amupe passa por diversas articulações políticas, uma vez que lida com prefeitos da situação e da oposição. Da mesma forma, o presidente do órgão precisa se manter isento e precisa olhar com clareza para as demandas dos municípios.
Há um ano no cargo, Marcelo Gouveia diz que o presidente do órgão precisa "esquecer sua filiação" para tratar das demandas da entidade.
"O que estou vendo nos bastidores é que tem um grupo específico que está querendo politizar a Amupe. Ela não pode ser do partido A ou B. A gente tenta montar as chapas de forma a ter pluripartidariedade, para que seja uma representação diversificada e que os temas discutidos não sejam de interese partidario, e sim municipalista", garantiu.
O professor Arthur Leandro afirma que a atuação dos representantes dos municípios na Amupe coloca a entidade no centro das questões políticas.
"Ao articular demandas com o Governo do Estado, a Alepe e o Congresso Nacional, a entidade influencia políticas públicas e orçamentos, especialmente em temas como repartição de recursos e fortalecimento do pacto federativo. A composição da Amupe reflete as forças políticas locais, e as eleições internas da entidade podem impactar o cenário político estadual", analisou.
"A proximidade com o Governo do Estado, evidenciada por convênios como o da transferência de posse de seu terreno, também demonstra como questões técnicas podem ter implicações políticas. Sua atuação fortalece prefeitos bem-sucedidos, que podem se projetar politicamente, influenciando a configuração política local, mesmo sem uma intenção partidária explícita", acrescentou.
O professor destacou que é necessário manter um equilíbrio na relação da entidade com órgãos de gestão, como o governo estadual.
"Há riscos como a instrumentalização política e a dependência institucional. Pode gerar conflito de interesses, com prefeitos pressionados a seguir orientações estaduais para manter benefícios. Por outro lado, o distanciamento preserva a autonomia e a imagem apartidária da entidade. Essa postura fortalece a capacidade de criticar políticas prejudiciais e evita práticas de clientelismo. Contudo, pode dificultar articulações, comprometer acesso a recursos e levar ao isolamento político. O equilíbrio entre proximidade e independência é o caminho ideal", avaliou.
Pedro Freitas descartou a possibilidade de partidarismo na sua candidatura. "Não tem absolutamente nenhum pano de fundo, nenhuma candidatura para 2026. Tem foco realmente em conseguir fazer um trabalho conjunto", afirmou ele, que é filiado ao PP, sigla que integra a base da governadora Raquel Lyra.
Candidaturas
Marcelo Gouveia avalia que fez um bom trabalho à frente da Amupe em conjunto com a prefeita Márcia Conrado, citando como exemplo articulações sobre a redistribuição do ICMS, transporte escolar e a desoneração da folha de pagamento.
“Todas as conquistas que tivemos ao longo desses dois anos precisam ter continuidade. A gente quer continuar buscando avanço no municipalismo, ainda tenho muito a contribuir”, defendeu o atual presidente, afirmando ser natural haver disputa pela presidência do órgão.
“É direito de qualquer prefeito eleito e qualquer ex-prefeito, de acordo com o estatuto, a concorrer ao cargo de presidente, contanto que preencha os pré-requisitos. É uma questão natural”, completou.
Pedro Freitas, por sua vez, diz que seu interesse em presidir a Amupe surgiu a partir de conversas com outros prefeitos. “É um sentimento de convergência de que a associação já teve um protagonismo maior do que está tendo hoje. O foco maior é o fortalecimento da associação, e não de outros projetos paralelos”.
O prefeito eleito de Aliança, que exercerá seu primeiro mandato no Executivo em janeiro de 2025, conta com sua experiência em gestão em posições estratégicas no Banco do Nordeste e na Caixa Econômica Federal como base para seu futuro mandato e para garantir os apoios necessários para sua eleição.
“Com muita humildade, trabalho com gestão pública há 20 anos, com interlocução permanente no setor produtivo, com municípios, com o governo do Estado. A gente não pretende de forma alguma conduzir a associação de maneira isolada. Com capacidade de ouvir, compartilhar a gestão, sem abrir mão do papel da presidência, tenho certeza de que a gente consegue conduzir da melhor maneira possível”, afirmou.