TCE pede esclarecimentos sobre contrato de escolas no Recife. Secretaria de Educação discorda de análises e vai dar explicações ao tribunal

Auditoria do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco tem como foco serviço de empresa fornecedora de energia solar em escolas do Recife

Publicado em 17/12/2024 às 16:49 | Atualizado em 17/12/2024 às 17:10
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O Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) pediu explicações à prefeitura do Recife sobre um contrato firmado com uma empresa de fornecimento de energia solar para escolas municipais após uma auditoria interna apontar irregularidades na contratação. O caso foi revelado nesta terça-feira (17) pelo portal Metrópoles.

No relatório, os auditores apontaram que há sobrepreço de R$ 12,5 milhões na contratação da empresa, entre outras incorreções. A prefeitura diz que vai apresentar os argumentos necessários (leia o posicionamento na íntegra mais abaixo).

O contrato foi firmado com a empresa Enove Engenharia e Energias Renováveis, com valor de R$ 19,5 milhões. A companhia ficaria responsável por elaborar o projeto, executar o fornecimento de energia em escolas municipais, além de fazer análise de viabilidade econômica e treinamento.

O valor do serviço foi estipulado com base na quantidade de kWp (quilowatt-pico) necessária para abastecer as unidades de ensino. O contrato prevê a contratação de 2.600 kWp ao preço unitário de R$ 7,5 mil.

De acordo com a auditoria do TCE-PE, obtida pelo Jornal do Commercio, os técnicos afirmam que o valor cobrado é o triplo do preço médio praticado no mercado, apontando que a média do valor unitário do kWp é R$ 2,6 mil.

“Para o quantitativo total contratado de 2.600 KWp, obtém-se um sobrepreço total no contrato de R$ 12.581.114,00 (doze milhões, quinhentos e oitenta e um mil, cento e quatorze reais)”, diz o parecer.

Além do sobrepreço, o relatório também apontou adesão irregular à ata de registro de preços, ausência de estudos técnicos preliminares, projeto básico e orçamento detalhado, indefinição da necessidade de obras preparatórias e dos locais em que existe viabilidade de instalação da usina fotovoltaica.

“Não foram avaliadas as diferentes alternativas para diminuição do gasto com energia elétrica, como, por exemplo, a instalação de usina fotovoltaica (on grid, off grid e híbrido), a adesão ao mercado livre de energia, a geração compartilhada e a exploração de possíveis parcerias público-privadas, demonstrando a vantajosidade da solução escolhida em relação às outras”, apontaram os auditores.

O contrato ainda não está em execução. Apesar disso, na conclusão do relatório, a auditoria sugeriu ao conselheiro Eduardo Porto, relator das contas da Secretaria de Educação do Recife, a emissão de uma cautelar para que a pasta não efetue o pagamento do contrato.

“Entende-se pela emissão de medida cautelar, a fim de que seja suspenso qualquer tipo de pagamento referente ao contrato, até que todas as irregularidades sejam sanadas”, diz o texto, assinado pelos auditores Tiago Martins e Victor Correia.

O TCE informou, por meio de nota, que o relator solicitou esclarecimentos à secretaria de Educação do Recife no prazo de cinco dias úteis.

Também em nota, a prefeitura do Recife afirmou que discorda da análise realizada pelos auditores, mas vai apresentar os argumentos necessários ao TCE. Veja o comunicado enviado ao JC na íntegra:

A Secretaria de Educação do Recife esclarece que a auditoria realizada pelo TCE trata-se de um relatório inicial e ainda não foi apreciado pelos conselheiros. Neste contexto, não há ainda uma posição formal do TCE. A pasta esclarece também que o contrato objeto deste relatório é recente e ainda não está em execução, e que discorda da análise realizada. A gestão municipal informa que vai apresentar os argumentos necessários à Corte de Contas e se adianta e esclarece que todas as contratações realizadas respeitam os ritos administrativos, sempre primando pelos princípios da legalidade e economicidade”.

Relatoria do caso

A empresa Enove Engenharia e Energias Renováveis tem entre os sócios o ex-prefeito de Quipapá, Álvaro Porto de Barros Filho, filho do presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto (PSDB).

Alvinho Porto, como é conhecido, foi eleito prefeito em 2020 e exerceu mandato até 2023, quando renunciou ao cargo por questões de saúde.

O relator do caso no Tribunal de Contas, Eduardo Porto, é sobrinho do deputado Álvaro Porto e, portanto, primo de Alvinho.

Eduardo foi nomeado para o TCE em 2023, por meio da indicação feita pela Alepe, que tem direito a apontar quatro conselheiros para a Corte de Contas.

De acordo com o Tribunal, ele foi escolhido por sorteio para a relatoria da Secretaria de Educação do Recife no biênio 2023 e 2024.

Procurado pelo JC, Álvaro Filho disse que não foi notificado e que, por isso, não tem como se pronunciar sobre o caso. O deputado estadual Álvaro Porto também afirmou que não vai comentar.

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