SPFW: Ronaldo Fraga pôs refugiados na passarela

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 26/04/2016 às 7:00
spfw-2016-refugiados-spfwn41-1200x617 (1) FOTO:

SÃO PAULO - A coleção "Re-existência", de Ronaldo Fraga, fechou nesta segunda (25) o primeiro dia de desfiles da São Paulo Fashion Week, que ocorre na Fundação Bienal, no Parque Ibirapuera, e a partir desta temporada deixa de se identificar com as estações do ano - verão, inverno - e passa a fazer referência ao número da edição: esta é a 41ª; portanto, trata-se da SPFW N41. Voltando ao estilista mineiro, que sempre apresenta um espetáculo para além dos manequins, a inspiração para esta coleção está nos refugiados da Síria, numa viagem a Moçambique, onde "caiu em si" do quanto daquele povo veio para cá durante a escravidão; e também numa visita à Associação de Refugiados de São Paulo, na qual ele pinçou dois sírios, uma congolesa, um senegalês e um palestino para compor a sua passarela.

Foi para a roupa de uma pessoa refugiada que o estilista mineiro lançou olhos. No texto de apresentação, ele conta que, ao ampliar imagens de barcos lançados ao Mar Mediterrâneo, na recente onda migratória para a Europa, foi observando flores e grafismos multicoloridos em calças, camisas... "Com o zoom, o ocre desaparece. De perto, todo sujeito é uma história particular. Aqui a roupa é casa; é abrigo; é memória; é país", escreveu. "E o que a moda tem a ver com isso?", pergunta-se, para então responder: "Documento eficiente como registro de um tempo, a moda tem diferentes faces e formas para se registrar uma história e a que desde sempre me seduz é a face político-cultural desse fascinante vetor de comunicação e consumo criado pelo homem".

O vestuário concebido por Ronaldo Fraga alinha-se ao tema via alguns símbolos "carregados", como barcos e correntes; outros saudosistas, como é o caso do azul remetendo ao céu do Oriente Médio e da estampa de árvore na contraluz de um sol alaranjado no céu africano. Da África, ainda, o colorido em tons quentes... Aliás, louve-se o estilista por, apesar de tanto ter bebido da África, não deixar em seu trabalho qualquer associação ao - já enlatado - rótulo étnico.

"O que faz andar a estrada? É o sonho!", lia-se projetado na parede no início do desfile. É trecho de Terra sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto. A obra dele junto às frases "Resistir para existir" e "Existir como forma de resistência" foram guias de Ronaldo nessa empreitada.

Veja alguns dos looks:

Zé Takahashi/Agência Fotosite/Divulgação - Zé Takahashi/Agência Fotosite/Divulgação
Ronaldo Fraga -
Ronaldo Fraga -
Ronaldo Fraga -
Ronaldo Fraga -
Ronaldo Fraga -
Ronaldo Fraga -
Ronaldo Fraga -
Ronaldo Fraga -

*Repórter em viagem a convite do evento

Últimas notícias