Portadora de esclerose múltipla há nove anos, Ana Beatriz Nogueira decidiu falar pela primeira vez sobre o assunto com a colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo jornal. Ela foi diagnosticada em 2009, quando atuava em Caminho das Índias. "A arte me salva todos os dias. Já me salvava antes, agora, mais ainda."
O primeiro surto aconteceu em janeiro de 2009. Ela estava em casa, vendo um filme na madrugada, quando sentiu a visão duplicar. "Achei que a legenda da televisão estava ruim. Mas, no dia seguinte, não tinha melhorado e procurei o médico. Ele disse que isso se chama “diplopia” e poderia ter inúmeras causas. Concluiu que era o efeito colateral de um remédio para dormir que eu estava tomando. Me tranquilizou e garantiu que passaria com a suspensão do medicamento."
Na festa do lançamento da novela de Gloria Perez no Parque Lage, Ana Beatriz precisou da ajuda de Tony Ramos e da mulher dele, Lidiane, para subir as escadas e chegar ao salão do palacete. Meses depois, quando teve o diagnóstico, Ana Beatriz iniciou o tratamento. "Achei que era o fim. Como atriz, meu corpo é meu instrumento de trabalho, meu tudo, dependo da minha visão, da audição, das funções cognitivas. O trabalho é minha festa, minha fonte de renda, minha alegria, minha beleza. Partimos para o tratamento. Fiquei dois meses de cama, me senti debilitada. Sabe quando 'somem os tapetes vermelhos', que são aqueles sonhos bonitos que você tem quando está quase adormecendo? Foi assim que aconteceu. A médica também me disse: ‘Você tem esclerose múltipla, uma doença autoimune que não tem cura e pode ser incapacitante. Mas a sua é na forma branda, o prognóstico é muito bom e você pode controlar isso e morrer de tijolada!’"
Um grupo restrito de amigos, como Patricia Pillar, Denise Bandeira, Zélia Duncan, Malu Mader e Luiz Henrique Nogueira, tinha conhecimento da doença da atriz. Eles aprenderam a aplicar a injeção de imunomodulador de que ela precisa para evitar ter um novo surto. Agora, com a doença sob controle, concluiu que poderia ajudar a “combater a ignorância, o maior perigo de todos”. "O segredo é pesado. A gente vai digerindo, entendendo e resolvendo os fantasminhas. Minha decisão de falar foi motivada por amigos, por terapia e pelo desejo de tornar essa estrada mais fácil para quem tiver que passar por ela. Não estou doente, tenho uma doença. Gosto de ver a esclerose múltipla como uma característica. Muita gente tem medo de falar, com receio de virar 'café com leite' na vida."