Rejeição ao comercial do O Boticário com família negra levanta necessidade de explicar o óbvio

Victor Augusto
Victor Augusto
Publicado em 30/07/2018 às 13:02
Comercial com Família Negra do O Boticário (Imagem: Reprodução)
Comercial com Família Negra do O Boticário (Imagem: Reprodução)

Quando o poeta alemão Bertolt Brecht se perguntou, ainda no século XX, até quando seria necessário explicar o óbvio, talvez não imaginasse que essa necessidade ultrapassaria a virada do século. Uma campanha lançada pelo O Boticário para o Dia dos Pais de 2018 levantou uma discussão nas redes sociais sobre a existência do racismo velado (que é aquele que não aparece diretamente nas estatísticas) ao ser criticado por um suposto "racismo reverso" (preconceito contra brancos, no caso).

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Sem motivo aparente, o vídeo que é protagonizado por uma família negra teve uma rejeição de aproximadamente 40% no YouTube. O número assusta se comparado com a versão de 2016, que era composto por uma família de pessoas brancas e teve uma rejeição de aproximadamente 11%. Alguns usuários das redes reclamaram de um suposto "racismo reverso" e falta de representatividade branca.

O ator Danilo Ferreira, intérprete de Acácio em Segundo Sol, comemorou a representatividade através de publicação no seu Instagram:

Podia ser um #publipost, mas é só a pra registrar a alegria de ver e se enxergar mesmo. Assistindo essa campanha de Dia dos Pais do O Boticário, reconheci minha família e meu pai, homem sempre presente e que em parceria com minha mãe, ajudou a criar e educar três crianças, nunca medindo esforços pra nos passar princípios e nos fazer feliz. Que seja cada vez mais frequente esse tipo de alegria e reconhecimento pra a gente na publicidade, maioria da população desse país que compra, assiste, calça, veste e injeta bilhões de reais na economia do Brasil todos os anos. Pai, já tá ligado no presente desse ano, né?!

Danilo Ferreira sobre comercial do O Boticário

Não existe racismo?

Apesar do número de pessoas que acham o contrário, o racismo existe. Segundo o Atlas da Violência, a cada 100 pessoas mortas no Brasil em 2016, 71 eram pretas ou pardas.

O racismo, porém, não existe apenas quando se analisa o número de mortos ou presos (negros representam 64% dos detentos no Brasil, segundo o Sistema Integrado de Informações Penitenciárias). Ele existe também quando a população branca não enxerga seus próprios privilégios.

O Boticário, apesar de fazer comerciais progressistas nos últimos anos, demorou bastante para colocar uma família negra como protagonista de uma campanha. Quando o fez, entrou em uma polêmica parecida com a do casal homossexual para o Dia dos Namorados de 2016.

A rejeição entre os dois comerciais foi parecida. Enquanto o da família negra chegou a aproximadamente 40%, o dos casais homossexuais atingiu 73,45%.

Vale lembrar que, além da rejeição nas redes, outra coisa que aumentou foi a porcentagem de pessoas negras ou pardas mortas. Estima-se que a taxa aumentou 23% entre 2006 e 2016.

 

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