Diego Hypolito deu um depoimento corajoso e delicado ao especial "Minha História", do UOL Esportes. O atleta, que é medalhista olímpico, compartilhou sua saga pessoal desde os 19 anos - quando compreendeu-se gay e começou a sair para festas disfarçado - até agora, aos 32. "Se alguém me perguntar o que eu sou, não preciso mais mentir. Não tenho mais vergonha", diz ele em um trecho do texto, para contrapor a entrevista em que, perguntado por um repórter sobre sua sexualidade, acabou mentindo.
As pedras no meio do caminho de Diego Hypolito, que atravancaram o processo de auto-aceitação, foram a religião, a família e o esporte. "Eu tinha vergonha porque, na minha cabeça, ser gay era ser um demônio, um ser amaldiçoado que vive em pecado", diz ele, que vem de uma família religiosa. Também rememora um episódio da infância, de quando nem sabia de si. "Quando eu tinha uns dez anos, um treinador foi dizer à minha mãe que ela devia mudar minha educação para que eu não virasse gay. Ela veio falar comigo, preocupada. Eu era inocente, nem sabia o que era isso. Mas isso me marcou."
O atleta conta que, já maior, demorou a revelar-se aos pais também porque não queria levar mais um problema para casa. A família havia saído de São Paulo para o Rio de Janeiro por causa dele e da irmã, Daniele Hypolito, e levava uma vida precária.
"Eu vivi a solidão de não ter ninguém com quem eu pudesse compartilhar os dilemas de ser uma pessoa gay numa sociedade preconceituosa. Por mais que todo mundo tenha a impressão de que tem muito gay na ginástica, não tem. Todo mundo me zoava, zombava do meu jeito. Eu tinha o sonho de conseguir uma medalha olímpica e faria de tudo para chegar lá, até esconder quem eu era. Eu tinha certeza que, se um dia, eu saísse do armário publicamente perderia patrocínios e minha carreira seria prejudicada."
Aos pais, ele contou em 2014. A mãe não reagiu bem. O pai, melhor que ela. A irmã já sabia. A revelação deu em quase um ano vivendo afastado da família, com um Natal a menos. Até que, com tempo e amor, tudo se ajustou. "Acho que meu exemplo pode fazer com que muitos garotos que hoje estão sofrendo deixem de sofrer. Muitos não se aceitam como são ou não são aceitos pela família e têm pensamentos suicidas por não conseguirem corresponder às expectativas dos outros", diz Diego, que está namorando.
Publicamente, esta é, mesmo, a primeira vez em que ele fala sobre sua sexualidade. "Há uns dias fui à Tokka, uma festa gay em São Paulo. Aos 32 anos, fui pela primeira vez de cara limpa, sem disfarce, sem ter vergonha de ser quem eu sou, de viver o que eu quero viver. Para mim é uma libertação."
Leia mais dois trechos do depoimento:
"Não escolhi ser gay, porque ser gay não é uma escolha. É simplesmente o que eu sou, e isso não vai mudar os valores que eu tenho e que construí junto da minha família."
"A gente está muito carente de ídolos de verdade. Por que eu não posso ser exemplo sendo gay? Uma coisa não tem nada a ver com a outra."
"Sei que pode ter gente que vai deixar de gostar de mim depois de conhecer a minha história, sei que no culto posso viver situações de preconceito, sei que vir a público e falar tudo isso pode irritar algumas pessoas. Ninguém é obrigado a entender nada, mas é obrigado a respeitar. Nunca mais vou deixar de viver o que eu sou. Eu sou gay."
Confira o depoimento na íntegra aqui