É admirável (e, confesso, até invejável; ou melhor, desejável) a força de Ney Matogrosso. E é inevitável sublinhar que o cantor soma 78 anos, porque o (não mero) detalhe corrobora ainda mais para essa admiração. No "Bloco na rua" que ele apresentou sábado (31), no Teatro Guararapes, soltou uma voz poderosa e requebrou ao longo das quase duas horas de show. Alonga a nota, deita-se na cadeira, agacha e salta.
Assim que começou o show, já na primeira música - uma interpretação "pesada" para "Eu quero botar meu bloco na rua (Sérgio Sampaio) - uma caixa de som na lateral do palco caiu causando barulho e um fumacê, sem que Ney, a passos dela, sequer desviasse uma nota do lugar. Um completo compromisso com o espetáculo (inclua aí o público), demonstrado ali na concentração e numa entrega total.
Show feito de muitas músicas já gravadas e regravadas, há versões em que Ney vai além ou quase empata com as melhores gravações - é assim, por exemplo, com "A Maçã", de Raul Seixas, e "Como 2 e 2", música de Caetano Veloso sacralizada por Gal Costa.
Embora explique que o roteiro foi pensando muito antes do governo de agora, e dos movimentos que o mundo têm dado, as músicas falam muito sobre o agora, como a própria "Eu quero botar meu bloco na rua", além de "Pavão misterioso", "Tem gente com fome", "Coração civil" e "Mulher barriguda", dos Secos & Molhados, com que ele encerra: "Mulher barriguda que vai ter menino/ Qual o destino que ele vai ter?/ Que será ele quando crescer?/ Haverá guerra ainda?/Tomara que não".
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