Leia mensagem de despedida de Helena Viktoria para o pai, Francisco Brennand: "Meu grande herói"

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 22/12/2019 às 14:43
Helena Viktoria Brennand com o pai, Francisco Brennand - Foto: Isaías Belo / cortesia
Helena Viktoria Brennand com o pai, Francisco Brennand - Foto: Isaías Belo / cortesia

"Papai tocou no mistério ao qual fazia tanta referência, completou a travessia, morreu numa quinta-feira, dia de Oxóssi. Isso me conforta!", escreveu Helena Viktoria Brennand, uma das filhas de Francisco Brennand, artista máximo que partiu na última quinta-feira, 19 de dezembro, aos 92 anos, devido a um quadro de pneumonia. "Escolheu partir pelo fogo, elemento não menos importante que a terra em seu trabalho…
Sua cremação foi o ápice de sua obra e dele mesmo, pois 'o final é mesmo imprescindível em todas as coisas'", continua.

"Sua morte foi premeditada por seu espírito e, ao pintar seu último quadro, mais de 100 neste ano de 2019, ele falou: 'estou morto'", revela Helena Viktoria, num texto sensível e cheio de beleza, em que nos dá a entender ainda mais sobre a obra deixada por Francisco Brennand e expõe sobre o artista enquanto pai. "Jamais terei alguém para dividir comigo as piadas, humores e olhares de reciprocidade e proximidade que tinha com meu pai. Éramos, de fato, amigos! Totalmente amigos".

Leia no fim do post o texto na íntegra.

Flor rara e guardiã

Na última entrevista que fizemos com Francisco Brennand, em 2014, com a presença de Helena Viktoria, ele se referiu a ela como "flor rara", quando perguntado da sua relação com a internet. "Minha experiência com a internet é a minha filha mais moça, que eu cultivo como uma flor rara, porque ela é quem me introduziu a esse mundo e tem colaborado muito. Hoje é indispensável a qualquer pessoa. Existe até uma frase: 'se você não está na internet, você está morto'. Eu assino embaixo", nos disse.

Em outro momento da entrevista, ao falar sobre a fama de que era um homem imerso na solidão, tocou sobre sua relação com as filhas - além de Helena Viktoria, Neném e Maria Helena. "Eu trabalho aqui [na Oficina Brennand] ao lado das minhas filhas. Nada mais íntimo do que isso. Esta aí, a nossa querida Helena Viktoria, que é uma espécie de guardiã."

Leia a entrevista na íntegra com Francisco Brennand

Mensagem de Helena Viktoria Brennand ao pai, Francisco Brennand

Transitando entre a perda e a presença
Tropeçando entre o sonho e a realidade
Recordando sorrisos e humores cúmplices que tínhamos…
Confusa
Nostálgica
Perdida, sendo essas três últimas amigas antigas… sigo forte!
Papai tocou no mistério ao qual fazia tanta referência, completou a travessia, morreu numa quinta-feira, dia de Oxóssi.
Isso me conforta!
Escolheu partir pelo fogo, elemento não menos importante que a terra em seu trabalho…
Sua cremação foi o ápice de sua obra e dele mesmo, pois "o final é mesmo imprescindível em todas as coisas."
Ele não podia incinerar os quadros, disse.
Mas pôde incinerar a si mesmo, digo.
Sua morte foi premeditada por seu espírito e, ao pintar seu último quadro, mais de 100 neste ano de 2019, ele falou: "estou morto."
Correu com os pincéis, sumiu!
Trancou-se incansável para despedir-se daquilo que mais amava, sua arte.
Tratou de deixar seu legado ali, imóvel, patrimônio de TODOS!
Não o sinto distante, tampouco o sinto perto. Será?
Mas ele continua vivo por todos os lados que olho; na minha casa, na dele, na Oficina, nos meus irmãos, nos meus sonhos.
Meu grande herói.
Meu grande e imenso amor.
Obrigada por ter vivido todos esses anos ao meu lado e por ter sido comigo tão amoroso e presente - do jeito que dava para ser sendo um pai artista.
Pai da Oficina. Mestre dos sonhos.
Te amo ?
Jamais terei alguém para dividir comigo as piadas, humores e olhares de reciprocidade e proximidade que tinha com meu pai.
Éramos, de fato, amigos! Totalmente amigos.
Que honra!

Obrigada a todos que me mandaram recados.
Com vocês deixo meus sinceros agradecimentos, pois, sei que tenho comigo pessoas mais do que especiais, admiradores silenciosos, pessoas que me têm carinho e pessoas que hoje vivem presentes em minha pequena vida.
E, se ela - as coisas -, são eternas porque se reproduzem, cá está ele, dentro de mim, pulsando e vibrando. ?

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