Atriz "passeia" em carrinho de bebê gigante e chama atenção para o trabalho das babás e empregadas domésticas
A atriz Ana Flavia Cavalcanti, que estava no ar como a inspetora Miriam, de "Amor de Mãe", e que está no elenco da série "Onde Está Meu Coração" (Globoplay), tem outro projeto longe dos holofotes. Ela criou a performance "A Babá Quer Passear" pra chamar atenção para o trabalho das babás, uma das atividades das empregadas domésticas, que têm seu dia marcado em 27 de abril.
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Negra, filha de empregada doméstica negra, com a performance "A Babá Quer Passear", Ana Flavia Cavalcanti reflete sobre a negação do lazer e do convívio em família a profissionais como babás e empregadas domésticas, que têm de deixar suas casas e seus filhos para cuidar das casas e dos filhos dos patrões.
A ideia da performance veio de um sonho que a atriz teve: um "carrinho gigante" com uma babá dentro. Pediu para confeccionar o carrinho, nem tanto "inho", e, desde então, realiza a performance em endereços de luxo, como a rua Oscar Freire, em São Paulo, e o bairro do Leblon, no Rio.
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"Trata-se de invisibilidade versus visibilidade. Como não sou babá, e nesses lugares as pessoas são ‘culturais’, elas entendem a provocação: que elas vejam o que escondem; o que não querem ver. Mas elas não gostam. Eu sofro bastante desprezo”, relata a atriz, que, na infância, acompanhou a mãe em turnos na casa dos patrões.
"O que há tanto para limpar?"
Ana Flavia Cavalcanti provoca a reflexão sobre a necessidade constante de ter funcionários em casa: “Ninguém quer perder privilégio. Depois que comecei esse trabalho, converso sobre o assunto com amigos brancos e, ainda assim, todo mundo mantém empregada, paga mal e não quer perder... O que há tanto pra limpar?”.
O desdém dos ricos à performance e à questão - “Já fiquei indignada, entupida, atravessada, pelo que vivi” - rendeu outro projeto, o solo-debate Serviçal, com que ela refletia sobre o racismo estrutural e seus efeitos. No palco de um teatro, ela convidava negros a falarem dos trabalhos que já desempenharam ao longo da vida: “É muito forte! As pessoas ganham poder de fala”.
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