Comer a própria placenta traz benefícios? Médica explica e quebra preconceitos contra a prática
As publicações de Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert comendo pedaços da placenta da atriz após o parto da sua filha viralizaram nas redes sociais e despertaram a curiosidade de internautas sobre o tema. Conversamos com a médica ginecologista e obstetra Melania Amorim, renomada cientista e pesquisadora internacional, que tem pós-doutorado em Tocoginecologia e Saúde Reprodutiva.
Em diversas publicações, nomeia-se a prática como "placentofagia". Esse termo, porém, não é considerado pela médica como adequado para descrevê-la.
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"Acho esse termo horrível, pois até parece que as mulheres estão pegando a placenta e consumindo toda como se fosse um ato de antropofagia. O que acontece é que, ritualisticamente, algumas consomem pequenos fragmentos da placenta por motivos diversos — como espirituais e religiosos — ou porque acreditam que há benefícios, como redução de hemorragia pós-parto", explica Melania Amorim.
Recentemente, publicações apontam que comer a placenta pode repor ferro no organismo, melhorar a produção de leite e afastar a depressão pós-parto. A médica e pesquisadora reforça que esses benefícios não são comprovados. Ao mesmo tempo, também não existem notícias de malefícios.
Dessa forma, a prática é feita de acordo com a vontade das mulheres. "Se elas se sentem satisfeitas não vejo motivo para não garantir que façam o que quiserem com isso", pontua.
Preconceito contra mulheres que comem a própria placenta
Para além de uma discussão sobre possíveis benefícios, há também uma de igual importância: a quebra dos preconceitos contra mulheres que decidem comer a própria placenta.
Melania Amorim, considerada uma das precursoras do movimento de humanização no Recife, conta que sua luta pela liberdade de escolha das mulheres com relação ao que fazer com a placenta já lhe tornou alvo de ataques e calúnias que buscam demonizar a prática.
Como conta Melania, há quem chame de "comedoras de placenta" as mulheres do movimento de parto humanizado, incluindo quem come, quem não come e até as profissionais envolvidas na assistência.
"Inventaram de tudo, desde que promovemos uma 'comilança de placenta humana' até que eu teria feito hambúrgueres de placenta e colocado a placenta no liquidificador sem tampa, espalhando suco de placenta por todos os lados", conta a médica.
Apesar das dificuldades, ela se levanta sua bandeira: "Como feminista e ativista pela humanização do parto, defensora do protagonismo da mulher no parto, hei de defender sempre que ela tem o direito de fazer o que quiser de sua placenta".