Comportamento de cachorros: quais os melhores para criar em apartamento? Quais os mais calmos? Tire principais dúvidas
Profissionais especialistas em comportamento animal tiram as principais dúvidas sobre criar cães em apartamento
A lista de melhores raças de cães para apartamento é algo sempre subjetivo. Isso porque existem várias raças que se adequam muito bem neste espaço.
Por isso, a melhor opção está sempre associada a questões geográficas (cada raça tem tendencialmente mais procura no seu país de origem). Também atenção ao clima, ao tipo de família onde o cão ou cadela irá se inserir e às respectivas preferências estéticas e emocionais.
O JC consultou a médica veterinária comportamental Gabriela Pedrosa e a psicóloga Carolina Lemos, pós-graduada em comportamento animal na Unifeob-SP, que responderam às principais dúvidas sobre criação de cães.
Existem raças de cães que não se dão bem em apartamento?
Carolina Lemos é categórica ao responder à pergunta que intriga muitos tutores ou aqueles que pretendem criar um cão: "Não existe nenhum cão específico ou que não se daria bem no apartamento. E se engana quem pensa que o porte é um fator determinante - ainda que as raças de cachorro pequeno, como spitz, shitzu, york sejam mais comuns -, também é possível criar um cachorro grande em apartamento".
A médica veterinária Gabriela Pedrosa orienta para os outros fatores que vão influenciar na adaptação dos cães ao apartamento. "Existem cães que se adaptarão perfeitamente a um apartamento mesmo que eles sejam de porte médio ou grande, desde que sua rotina seja adequada para o seu nível de energia e necessidades. Mais importante do que o espaço físico, apartamento ou casa, é a disponibilidade do tutor às necessidades básicas do seu cão".
"Falando em níveis de energia existem raças como Border Collie, o labrador, o Beagle, por exemplo, que demandam mais tempo e atividade física. Se moram em um apartamento vão precisar ter sua rotina estruturada com mais tempo para esse gasto energético ao ar livre. Dentro de casa, vão precisar de mais enriquecimento ambiental, evitando assim problemas comportamentais, como ansiedade, que pode levar à destruição de objetos inadequados em casa, latidos excessivos ou até mesmo doença física", completa a profissional.
Gabriela ainda reforça que mesmo que esses cães vivam em uma casa com o quintal, eles ainda precisam exercer comportamentos naturais da espécie, fazer atividades físicas, passeios e ter tempo de qualidade com a sua família.
Quais os fatores que influenciam no comportamento do cão?
Uma ideia bastante difundida é que a raça influencia no comportamento dos cães. Isso, na verdade, é um mito. Carolina Lemos elenca as influências comportamentais dos cães. "Os motivos são a genética, o ambiente e o aprendizado. E mesmo que um cão tenha uma personalidade mais agitada, por exemplo, os hábitos dos seus donos irão influenciar no comportamento do animal no convívio diário".
Gabriela Pedrosa complementa: "Além do gasto energético, existem muitos fatores que terão ações diretas no comportamento de um cão, como a genética, a convivência com a ninhada, na sua infância, seu nível de socialização traumas e experiências passadas, atividades na sua rotina que o estimulam física e cognitivamente, bem como a dor também podem modificar o comportamento dos cães".
Três pilares no comportamento dos cães
A veterinária ainda ressalta que a ausência do suprimento das necessidades básicas desses animais pode acarretar em problemas comportamentais que seriam evitados com instrução e conhecimentos adequados.
"Existem três pilares que resumem as necessidades básicas dos cães. O primeiro é o pilar físico, que inclui a saúde física do cão como um todo: vacinas, alimentação, veterinário, sono, temperatura adequada, tudo isso vai entrar nesse pilar. O segundo pilar é o do ambiente. Ele vai incluir o relacionamento que esse cão vai ter com as pessoas e os animais do local e os produtos desses relacionamentos como aprendizagem, segurança, confiança, ou seja, sons, cheiros e tudo com que um animal vai interagir e perceber no ambiente.
"O terceiro pilar é o de comportamentos naturais, que incluem atividade física, mental e social, que vai fazer parte da regulação mental e emocional dos cães. Eu chamo atenção para esse último pilar em específico porque muitas pessoas se incomodam com determinados comportamentos dos seus cães, mas sequer imaginam que aquele comportamento é natural e necessário. Ele só pode estar deslocado por falta de recurso e um exemplo disso bem clássico é roer, destruir as coisas por falta de objeto adequado. Além disso, farejar, brincar, resolve desafios cognitivos são naturais aos cães que fazem bem e, se estão em falta, podem acarretar problemas comportamentais", recomenda Pedrosa.
Existem raças de cães mais agitadas ou mais agressivas que outras?
Dizer que um cão é agressivo por causa de sua raça é mais um mito no que diz respeito ao comportamento animal.
"Não existe raça que defina ser agressivo ou uma única causa para a agressividade em cães"
Psicóloga Carolina Lemos
Os fatores que levam a alguns animais serem mais agressivos são elencados por Pedrosa. "Medo, traumas, estresse crônico, disputa ou proteção de recursos e doenças, principalmente se tiver dor envolvida. Não se deve incluir raça como um fator decisivo para o desenvolvimento da agressividade, mas sim a falta de conhecimento necessário para educar e socializar o cão".
"Um exemplo disso é o preconceito com cães da raça Pitbull, que em geral são cães tolerantes, amigos, fiéis, mas que têm um potencial de força muito grande. Durante muitos anos, criadores de pitbull priorizaram uma educação - se é que dá para se chamar assim - baseada no estímulo da agressividade e combate. Então um cão que teve suas necessidades básicas negligenciadas, uma socialização pobre e tem um grande potencial de destruição: é a receita pra um desastre de fato", avalia a médica veterinária.
Por fim, ela recomenda: "todos os cães precisam ter obediência básica, socialização e educação, levando em consideração as características da sua raça, o seu temperamento e o seu porte para assim evitar maiores problemas".
*Esta matéria foi escrita com a colaboração da médica veterinária comportamental Gabriela Pedrosa (CRMV-PE 06205) e da psicóloga e psicopedagoga Carolina Lemos, da Pet Dream Resort e Park, pós-graduada em Educação Especial e pós-graduada também em comportamento animal na Unifeob-SP.
"Não existe raça que defina ser agressivo ou uma única causa para a agressividade em cães"
Psicóloga Carolina Lemos