Brasil organiza leilão da rede 5G e espera atrair US$ 9 bilhões
Quinze empresas apresentaram propostas à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), incluindo a Tim, Telefônica Brasil (dona da Vivo) e a Claro
O Brasil, a maior economia latino-americana com 213 milhões de habitantes, iniciará na quinta-feira (4) o leilão da rede de 5G, uma tecnologia com a qual espera modernizar seu setor de produção e atrair investimentos de quase 9 bilhões de dólares.
Além da rede principal, de uso geral, o Brasil oferecerá a operação de uma rede paralela para uso exclusivo do governo, na qual não será possível usar equipamentos da empresa chinesa Huawei, excluída pelos termos da licitação em meio a uma disputa geopolítica por alegações de espionagem.
Quinze empresas apresentaram propostas à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), incluindo três grandes que já operam os serviços de telefonia e internet no país: Tim (filial brasileira da Telecom Italia), Telenônica Brasil (dona da Vivo e filial do grupo espanhol) e Claro (subsidiária da mexicana Amperica Móvil).
"Espera-se que seja o leilão que chega a 50 bilhões de reais nesse setor. É o maior dessa questão de telecomunicação e um dos maiores leilões internacionais de 5G, o potencial é gigantesco", disse à AFP o coordenador da área de Direito e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS), Christian Perrone.
Desse valor, o governo espera arrecadar cerca de 10 bilhões de reais pelo uso das frequências. O restante corresponderia a investimentos em nova infraestrutura, incluindo equipamentos e torres de transmissão.
Os especialistas calculam que o 5G precisa de entre quatro e dez vezes mais antenas que o 4G.
Estarão em disputa blocos regionais e nacionais de diferentes frequências, cada um com uma finalidade, velocidade e alcance diferentes.
As licenças de operação são para um período de 20 anos.
As empresas ganhadoras deverão prover 5G ao Distrito Federal e para as 26 capitais estaduais até 31 de julho de 2022.
Para as outras cidades, com populações de mais de 30.000 habitantes, a chegada do 5G está prevista entre 2025 e 2028.
"O consumidor não vai saber diferenciar uma coisa da outra (4G e 5G). Só vai sentir na velocidade de seu aparelho em aplicativos de filmes e vídeos. Mas descortina uma nova relação do ponto de vista industrial, fabril, produtivo, agronegócio", afirma o presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, Marcos Ferrari, associação que representa cinco das empresas em disputa.
Tratores agrícolas conectados, drones para monitorar plantações, veículos autônomos nas cidades e cirurgias à distância: o 5G permitirá conectar aparelhos entre eles e na nuvem, com tempos de resposta imediata.
Por isso o 5G é geralmente apresentado como a tecnologia da "internet das coisas", um mundo no qual os dispositivos conectados podem potencialmente "dialogar" entre eles, sem intervenção humana.
Ao mesmo tempo em que busca dar o salto para o futuro, o Brasil tentará compensar a defasagem das áreas menos desenvolvidas, onde ainda há 40 milhões de pessoas sem conexão.
O leilão inclui o compromisso das empresas vencedoras de levar internet para cidades que não têm acesso, ampliar a cobertura nas estradas, nas escolas públicas e na região amazônica.
A data da licitação foi adiada por vários meses, em meio à disputa geopolítica entre China e Estados Unidos, que levou o Brasil a estabelecer a exigência de uma rede paralela para manter a Huawei à margem de seus dados mais sensíveis.
Líder mundial de equipamento para as redes de internet móvel 5G, a Huawei tem acesso proibido ao mercado dos Estados Unidos porque Washington a acusa de espionagem e incentiva seus aliados ocidentais a fazerem o mesmo.
O governo de Jair Bolsonaro elaborou desde então uma processo de licitação para que seus equipamentos possam ser usados na rede geral, mas não na que servirá aos órgãos do governo, como os ministérios, o Congresso, as Forças Armadas e a Justiça.
Apesar de ser um dos primeiros países da América Latina a licitar sua rede de 5G, o Brasil leva "dois ou três" anos de atraso em relação aos países pioneiros no mundo, afirma Perrone.
Isso o impedirá passar de mero consumidor para criador de novas tecnologias.
"Quando a rede 6G avançar internacionalmente, ainda estaremos em processo de instalar a rede 5G no Brasil", aponta.